"Todo o homem luta com mais bravura pelos seus interesses do que pelos seus direitos."
Napoleão Bonaparte
O telefone celular foi inventado em
1947 pelo laboratório Bell, nos Estados Unidos.
Em 1973, a Motorola lançou a primeira geração (1G) de celulares, o DynaTAC 8000, mas ele só passou a ser comercializado dez
anos mais tarde. Em 1991, com a primeira transmissão de sinais 2G, já foi possível se
comunicar através de mensagens SMS. Em 2001, no Japão,
foi lançada a rede 3G. Em 2007 a Apple lança o iPhone, em um formato que revolucionou
a aparência de todos os aparelhos que seriam lançados a partir de então. Em
2008, a Google lança o sistema
operacional Android, o mais utilizado
até o momento. E finalmente em 2010, foi lançada a tecnologia 4G.
Os telefones celulares estão tão avançados em suas tecnologias, que
existe até uma piada sobre o assunto. Quando alguém lista para outra pessoa os recursos
de seu aparelho, termina observando que ele também faz ligações telefônicas.
Para termos uma boa ideia da capacidade disponível em nossas
mãos, o computador de bordo da espaçonave de Neil Armstrong tinha apenas 2kb de RAM. Isso remete a outro
raciocínio, alguns homens com um computador de 2kb nas mãos foram os primeiros
humanos a pisarem na Lua, outros bilhões de pessoas com celulares de 1 a 2Gb de
RAM tornaram-se especialistas no compartilhamento de fotos, vídeos e piadas.
Conversando com alguns amigos sobre os altos preços dos aparelhos hoje
em dia, chegamos a conclusão de que não se vendem celulares há muito tempo. O
que se vendem são interesses. O "querer" não tem preço. Ao semear um interesse na
minha mente, uma empresa pode fazer com que eu pague um preço exorbitante por
algo que vai além das minhas necessidades. É algo muito parecido com aquele
discurso sobre São Paulo, por exemplo: "Eu gosto de São Paulo, porque se você
quiser comer em um restaurante Tailandês as duas horas da manhã, você tem essa possibilidade".
Convenhamos... Em 11 milhões de habitantes, aposto que é possível contar nos
dedos o número de pessoas que um dia saíram durante a madrugada procurando um
restaurante Tailandês (desconsiderando os desejos de grávidas). Somos capazes
de passar uma vida inteira pagando por algo que nunca iremos precisar. Por quê?
Simplesmente porque plantaram mais que uma ideia nas nossas mentes, plantaram
um interesse.
Desviando: Um colega de trabalho compartilhou uma observação muito
interessante que um bombeiro lhe fez certo dia. Tomo a liberdade de adaptá-la
do universo fabril para a vida cotidiana. Todos os dias ficamos sabendo de
acidentes de carros nas ruas e nas estradas. Em alguns casos, as vítimas não
conseguem se desvencilhar sozinhas das ferragens que sobraram dos automóveis,
mas precisam de ajuda de pessoas especializadas. Já em segurança, quando os
sobreviventes tem a oportunidade de encontrar os bombeiros que fizeram o
resgate, não há palavras que podem expressar o agradecimento pelo ato de
salvamento dos oficiais. Em contra ponto, quantas vezes ouvimos pessoas
reclamando de autoridades ao serem multadas por não usarem o cinto de
segurança, ou por dirigirem após tomar uma lata de cerveja, por exemplo? Indústria
da multa? Por que quem me segura ao cair de uma escada salva a minha vida e
quem me alerta para tomar cuidado com o degrau é um chato? Não basta salvar
minha vida, tem que ser do meu jeito. Quem colocou essa ideia na minha
cabeça?
Voltando: Algumas semanas atrás foi divulgado um vídeo na internet com o
seguinte título, "Meu corpo, minhas regras" (clique no link,
veja o vídeo). Alguns atores famosos narram o que parece ser quase um poema,
pró aborto. As justificativas para a prática não são apresentadas de forma tão
explícita, mas é possível inferir que seria desde um
estupro até o fato de simplesmente não querer ter o filho. As palavras são
muito bem usadas, alguns assuntos, inclusive religiosos, são citados de forma
que quem não está a par dos detalhes pode tomar o falso por verdadeiro. Damos a
isso o nome de falácia. Não chega a ser um sofisma, pois não acredito
que a intenção de quem produziu o vídeo tenha sido enganar. Acredito que eles
tenham mesmo aquela opinião.
Um dia já julguei e condenei pessoas que são a favor do aborto, mas hoje
não faço mais isso. Acredito que só quem passa por qualquer situação sabe o que
o leva a tomada de decisão. Tampouco quero entrar no mérito sobre o que é certo
ou errado, se é que há algum mérito nisso. O que quero destacar é ter percebido
que eu mesmo não tinha a minha opinião sobre o assunto. Então, fui pesquisar e
descobri este outro vídeo, apresentando dados
que sugerem (ou provam?) que aborto é uma estratégia de países desenvolvidos
para estabelecerem controle populacional sobre países em desenvolvimento (veja
o vídeo). Será mesmo? "Meu corpo, minhas
regras" não passa de interesse, não de pessoas simples, que vivem seu dia-a-dia
simples, mas de alguém ou algo maior? Os atores do primeiro vídeo só fazem
parte do plano, mesmo sem saberem? O ideal não é deles? Pelo menos esse último
vídeo parece se preocupar mais com o que as mulheres precisam e menos com o que
elas querem, ao contrário do primeiro.
Ocorreu-me um sentimento de impotência muito forte. Quanto das minhas
vontades, dos meus interesses e dos meus ideais não são meus? Será que eu
apenas estou sendo levado pela onda? Nesse caso, qual a onda correta? Percebi
que uma ótima estratégia para qualquer plano é semear desejos, vontades, interesses,
pois eles dignificam atos. Já ouvi alguém dizer, "se eu quero, eu posso, se eu posso,
então faço". Os dias, os meses e os anos vão passando e temos cada vez mais dificuldade
em encontrar argumentos contra o "eu quero".
Nós somos muito suscetíveis, podemos ser controlados, ao mesmo tempo em
que batemos no peito, orgulhosos por acreditar que estamos lutando por "nossos
interesses". Será que não passamos de marionetes? Talvez por isso alguém resolveu
dizer que as perguntas movem o mundo, mas não as respostas. Só espero que isso
também não seja apenas mais uma estratégia de controle.
"Wilson
Fisk: Acha que essa divagação na internet mudará alguma coisa?
Ben
Urich: As pessoas buscam a verdade, não importa onde a encontrem.
Wilson
Fisk: Pode ter sido o caso quando éramos jovens. Este mundo ao nosso redor está
preocupado com casamentos de famosos e vídeos de gatos. Assuntos complicados,
assuntos que importam... Eles requerem muita concentração. Tomam muito tempo
para serem compartilhados por mensagens de celular (...).
Ben
Urick: Acho que tenho mais fé na humanidade.
Wilson
Fisk: Cristo também teve, se me recordo."
Demolidor – Temporada
1 Episódio 12 (2015)
Como saber qual deve
ser o meu interesse? Qual o ideal que merece ser almejado? Se eu tivesse o
poder de convencê-lo a não querer alguma coisa, ou a mudar de ideia, o que você
escolheria? Como reconheceria o que não merece sua atenção e seu esforço? Se reconhecesse,
escolheria não desejar? Escolheria mudar de ideia?