quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O Que Você Vai Querer Ser Quando Crescer?

"Perceba, você é um escravo da sua mente. Liberte-se."

O método de produção artesanal predominou durante toda a história da humanidade até por volta do século XVIII, quando ocorreu a Revolução Industrial. Todos os meios necessários para a produção – ferramentas,  matérias-primas e local de trabalho – concentravam-se com o artesão. Ele realizava todas as etapas da manufatura, desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento.

Com dificuldade para concorrer com os elevados volumes produzidos pela indústria que surgia, a partir do século XIX, o artesanato passou a se concentrar em oficinas, onde pequenos grupos de aprendizes viviam com os mestres-artesãos. Como último suspiro, apelava-se então às Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada região formavam para defender seus interesses.

Vamos pular para o século XXI, mais precisamente para o ano de 2017. Eu olhei para uma janela de alumínio, daquelas do tipo basculante que são instaladas em banheiros, e vi uma pequena placa com o nome do fabricante, SASAZAKI. Então eu indaguei, por que seria importante associar uma marca a uma janela? Quando foi que os itens que atendem as necessidades das pessoas passaram a ser chamados de produtos e ganharam logos? A partir de quando suprir uma demanda deixou de ser suficiente e por quê?

Involuntariamente, sem conhecer a origem, mas apenas constatando uma relação que existe em minha mente, percebi que as marcas de produtos remetem meus pensamentos ao mundo corporativo, e este à vida profissional, e esta à "definição de si mesmo". Consequentemente, mais dúvidas. Quando uma profissão deixou de ser um meio e passou a ser um fim? Quando o sucesso tornou-se o objetivo? Quando nosso trabalho passou a nos definir? Quais eram as motivações dos artesãos e quais são as nossas? Como eles se relacionavam com as ocupações deles e como nós nos relacionamos com as nossas?

Quando eu passo a desejar uma carreira, um cargo, um status, uma conquista, uma posse, quais são as contrapartidas? Conheço alguém que diz "cada escolha, uma renuncia". Quando defino-me pelo que faço e pelo que quero, o que eu estou deixando de ser? O que estou renunciando? (Recomendo essa re-leitura aqui).

Talvez seja ainda mais crítico. Nós fazemos escolhas mesmo, ou somos orientados? Nós decidimos ou somos sorteados? Onde surgiram e por quem foram criados os padrões que residem no íntimo de todos nós e, consequentemente, interferem nas relações entre as pessoas, estabelecem a base sobre a qual a sociedade é construída e tornam-se as motivações de uma vida e de uma espécie? De uma espécie, cara. Você já pensou nisso? Já olhou para nós como uma porção de formigas simplesmente fazendo, sem saber porque faz? E pior, desejando isso?

"Nós não precisamos de nenhuma lavagem cerebral
(...)
No fim das contas, você é apenas mais um tijolo no muro"


Desviando: Já deve ter percebido que esforço-me para compreender alguns padrões. Por exemplo, por que discursos do tipo "eu sempre parti pra porrada com quem se meteu comigo" tornam-se exemplos de superação e sucesso, até merecendo palmas (minuto 6:00 do vídeo), ao mesmo tempo que discursos do tipo "ofereça o outro lado da face" passam a ser associados a exploração, subjugação e alienação? Isso explica tudo, quando olhamos para o mundo que está sendo construído, mas não faz o menor sentido, quando confrontado com o mundo que dizemos querer construir.

Voltando: Qual a diferença entre fazer e ser? Queremos ser, ou nos satisfazemos em fazer? É possível ser um bom fazedor, mas ainda assim não ser ninguém? Posso mudar minha resposta para a pergunta "o que eu vou querer ser quando crescer"? Já falei aqui, mas com outro enfoque, que a melhor forma de convencer uma pessoa a executar algo é fazer com que ela acredite que desejou por aquilo.