quinta-feira, 28 de março de 2019

Muito Blá Blá Blá

"Só é útil o conhecimento que nos torna melhores."


Nestes dias que se passaram lembrei-me da fórmula matemática para força.

F = m x a
Onde,
F = força em Newton
m = massa em quilograma
a = aceleração em metro por segundo ao quadrado

Fiquei pensando, qual a diferença entre a força do mundo físico e a força do universo matemático? Concluí que aquela escrita sobre o papel não produz nada, não move nada, não executa nada.

No filme "O Homem Irracional", um professor de filosofia, autor proeminente de artigos críticos às fúteis aspirações da sociedade moderna, passa por uma crise existencial. Em determinado momento da narrativa, ele ouve uma desconhecida lamentar-se que perderá a guarda dos filhos para o ex-marido, que é um péssimo pai. Sem saber que está sendo ouvida pelo professor, a mulher detalha que o juiz designado para o caso será partidário de seu ex-marido em troca de dinheiro.

O professor de filosofia começa a reverter sua crise, encontrando, então, um motivo para viver. Ele passa a se ver como um potencial herói para aquela desconhecida. Nos dias que seguem, ele planeja matar o juiz, para que a mulher tenha ao menos um julgamento justo. Foi então que, após executar o plano, o professor descreveu uma ideia que, apesar de eu já conhecer há muito, só nesse momento passou a fazer sentido para mim.

Desviando: Já aconteceu isso com você? De repente, você ouve uma ideia que está longe de ser novidade, mas só a partir daquele momento passa a fazer sentido. Alguém poderia dizer que nós só aprendemos algo quando estamos preparados para isso. Acho que é mais simples. Nós só aprendemos as coisas quando pensamos sobre elas. Preste atenção em você mesmo, repare quão automático é o seu falar e o seu ouvir no dia a dia.

Voltando: Segue o relato do professor após a conclusão do plano: "Na manhã seguinte, fui correndo comprar o jornal. E lá estava [a noticia da morte do juiz]. Um sentimento enorme de realização tomou conta de mim. Não escrevi um artigo cáustico e bem fundamentado sobre abuso judicial que somente destilaria um palavrório, e não realizaria nada. Tomei ação direta e eliminei um câncer. O mundo ficou um lugar melhor por uma porcentagem infinitesimal. Aquela mulher [que temia perder a guarda dos filhos] nunca saberia que teve um benfeitor, mas agora, na audiência, ela teria uma chance de obter um julgamento justo."

Mais adiante, a "namorada" do professor discute com ele sobre moralidade, assim que ela descobre o crime que ele cometeu. Parte da discussão segue a mesma lógica da elucubração anterior do professor.

Professor: "Este foi o ato de significância que eu buscava. Achei que era uma coisa muito razoável a se fazer."
Namorada: "Ela [mulher que temia perder a guarda dos filhos] desejou que ele [juiz] tivesse câncer!"
Professor: "Mas o que diabos é essa esperança [o desejo que o juiz tivesse câncer]? Esperança não vale nada. Entende? Você tem de agir."

Como eu disse anteriormente, apesar de já ter ouvido tanto falar sobre o fato de que querer é diferente de fazer, foi só então que essa ideia colocou em cheque a efetividade dos meus textos. Você pode perceber no meu blog que eu tenho "destilado um palavrório" que não realiza nada há muito tempo. Então, resolvi sair do papel. Parafraseando Platão, resolvi sair da caverna. Obviamente, guardadas as devidas proporções de liberdade.

Portanto, hoje, não discursarei sobre amor, sobre justiças ou injustiças. Não haverá falatório sobre verdade ou sobre manipulação. Sem palavras sobre o que somos, de onde viemos e para onde vamos. Sem lógicas pseudorracionais. Sem cálculos pseudomatemáticos. Sem análises pseudoastronômicas. Sem filosofia pseudometafísica. Sem dúvidas. Afinal de contas, o que os 91 textos postados anteriormente produziram? O que esse presente texto produzirá? Todos tem prazo de validade, se é que já não venceram.

Eu quero acomodar-me diante daquela pessoa que, ao me ver, repete sempre as mesmas histórias, testando minha paciência. Eu a ouvirei com atenção, escutá-la-ei com gosto. Eu estarei cem por cento presente. Porque aquela pessoa não está interessada de fato nas histórias que me conta, tampouco se preocupa se estou assimilando o que ela diz. Aquela pessoa está com saudades e quer aproveitar a minha presença. Ela está querendo ser vista e ser ouvida por mim, seja lá o que esteja sendo dito e quantas vezes o esteja. Portanto, eu retribuirei com a mesma vontade de estar junto. Ela, sem coragem de invadir o meu espaço e me abraçar com os braços, abraça-me com as palavras. Assim, retribuirei o abraço com os meus ouvidos.

Eu olharei no olho de quem me atende no balcão da mercearia, no caixa do supermercado, no posto de gasolina e na mesa do restaurante. Eu farei o meu pedido, o meu pagamento e o meu agradecimento olhando nos olhos. Se houver alguma chance de que eu realmente exista nesse Universo fugaz, todos que cruzarem comigo sentirão que também existem, pelo menos para mim.

Eu não buscarei justiça apenas a mim. Não serei como aquela pessoa que acionou a Justiça porque se sentiu prejudicada em um teste, mas que não queria que sua petição fosse escalonada a níveis mais elevados, pois se outros percebessem a brecha, ela teria que disputar a chance com mais indivíduos. Se eu quero justiça para mim, então que eu queira para todos, mesmo que isso signifique o risco de perder a minha oportunidade. Sem meias justiças.

Não vou mais participar de disputas políticas. Nenhum candidato, nenhum "salvador da pátria", nenhuma ideologia política vale mais que a oportunidade de continuar olhando nos olhos das pessoas que amo, das pessoas com quem relaciono-me, ou daquelas com quem poderia me relacionar. Nunca tive problema de relacionamento com ninguém por causa de disputas partidárias. Por que eu iria querer ter a partir de agora? Enfim, sem polarização.

Desviando: O que aconteceu com o ditado a "união faz a força"? Acreditamos ou não acreditamos nesse discurso? Talvez só queiramos que ele seja válido quando termina com "portanto, unam-se a mim". Ou quem sabe ele seja só mais um palavrório.

Voltando: Passarei a fazer doação àquele que me pedir no semáforo, sem tentar descobrir se ele a usará para bebida ou para comida. Eventualmente, eu darei dinheiro a quem usará com drogas? Certamente. Porém não posso punir aquele que precisa por causa daquele que erra. A maldade, o erro e a falha não podem vencer. Eles não podem determinar como será praticada a caridade. Antes, que seja sustentado aquele de bom caráter e de honestidade. Que a maldade coma das migalhas do pão destinado a bondade, mas que a bondade não seja privada do pão por causa da maldade.

Eu não deixarei de auxiliar a quem precisa, com uma assistência que esteja ao meu alcance, usando a justificativa de que a minha pequena ajuda não resolverá os problemas do mundo. Provavelmente, se eu tivesse dinheiro para resolver todos os problemas do planeta, eu não o faria, mas guardaria toda a riqueza para mim. Pelos menos é assim que fazem os 26 mais ricos do mundo, que concentram uma riqueza equivalente ao montante dos 3,8 bilhões mais pobres. Então, aproveitarei que eu tenho pouco "a perder" e repartirei. Já que é pouco, não me fará falta. A realidade mostra que faltaria apenas se fosse muito.

Enfim, eu poderia listar uma infinidade de itens, bem "insignificantes" e simples, que eu posso fazer sem ninguém saber. Poderia listar algumas pouquíssimas coisas que eu já faço e ninguém vê. Porém, não tenho tempo e nem competência para pensar em tudo. E mesmo que tivesse, não o faria porque eu estaria somente "destilando um palavrório". Melhor que não escreva nada, mas que faça tudo o que poderia ter sido escrito. Pois hoje não falamos sobre esperança, mas sobre atitudes. E estas não precisam ser gigantes.