quinta-feira, 27 de abril de 2017

Marcha Soldado, Cabeça de Papel

"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."
Platão


Esta reportagem tenta esclarecer como os terroristas do Estado Islâmico adotam pensadores muçulmanos, tanto medievais quanto contemporâneos, para justificarem seus ataques. É dito que, diferente do Cristianismo, que possui o Vaticano como centro dogmático, a falta de uma ortodoxia para o Islamismo "permite" que textos canônicos e citações de intelectuais sejam interpretados de forma radical.

Não concordo com o posicionamento do artigo, de que o Vaticano seja o centro do Cristianismo. Ele é o centro do Catolicismo. Consequentemente, ei de discordar que a falta de uma ortodoxia colabore com a interpretação terrorista de princípios religiosos, mesmo porque, o repórter esqueceu de citar pelo menos uma dezena, senão centenas, de religiões sem um dogma centralizado e cujos fiéis não são violentos. Porém, concordo com a reportagem quando ela relaciona a visão de líderes com a alienação de liderados, o que, do meu ponto de vista, não exclui, ou até corrobora, a possibilidade de que a interpretação violenta seja a correta.

Desviando: Já ouviu aquele ditado, de que a sorte é quando a preparação encontra a oportunidade?

Voltando: Segundo este outro artigo, o professor de história da Universidade Federal da Flórida, Robert Gellately, reúne provas em seu livro "Apoiando Hitler: Consentimento e Coerção na Alemanha Nazista" de que o povo alemão tinha conhecimento sobre a Gestapo, os campos de concentração e as campanhas de discriminação e perseguição. E, além disso, que os apoiava. "Ele (Hitler) não queria subjugar os alemães, mas conquistá-los. Para isso, polia os ideais germânicos, construía imagens populares positivas na imprensa e manipulava fobias milenares", cita Gellately.

Quero destacar o trecho dessa reportagem que fala justamente das fobias do povo e diz: "Frustrados com o experimento democrático da República de Weimar, – instaurada  na Alemanha logo após a I Guerra Mundial, herdando todo o peso da derrota do país na disputa, resultando em caos econômico, social e político –,  os alemães se mostraram orgulhosos ao enxergar Hitler como um líder que conseguiu lhes devolver a sensação de segurança e normalidade, além de combater o desemprego e a inflação."

Desviando: Pois é, concordo com você, nossa história mostra que líderes políticos costumam ser pessoas de muita sorte.

Voltando: Você não tem a sensação de que nosso mundo está sendo preparado para um governo global? Aqui vemos um enfoque sobre a possibilidade de um papa tornar-se um líder mundial. Aqui, outra vez, vemos o líder religioso sendo "elegido" por políticos da União Europeia. Neste outro link, Stephen Hawking, renomado cientista, aponta o fato de que a evolução da tecnologia representa um risco iminente à humanidade e que algum tipo de governo mundial seria a solução mais viável para nos fornecer proteção. Neste discurso, Michel Temer menciona, por exemplo, que "as Nações Unidas são o foro mais adequado para o desenvolvimento de estratégias globais contra a ameaça terrorista". Neste outro discurso, Barack Obama apela para a paz, a fome, a segurança, a política e a economia para justificar uma liderança mundial. Sem falar em algumas estruturas existentes há algum tempo, como a ONU, que desempenha um papel de liderança global, e como a centralização de dados pessoais em uma rede mundial, por exemplo. Se essa situação não tivesse sido prevista a aproximadamente dois mil anos, eu ficaria mais seguro em acreditar que tudo não passa de uma teoria da conspiração hollywoodiana.

O que podemos aprender com o passado? Como identificar nossas vulnerabilidades? Como saber se já não estamos em processo de estabelecimento de uma liderança? Porque precisaríamos de um líder mundial? O que os "oportunistas" estão enxergando e nós não? O que responderia o povo alemão, por exemplo, diante dessas perguntas no período do Nazismo? Eles teriam consciência? O que fala hoje o povo norte coreano sobre seu líder e sua liberdade? (já falei sobre a Coreia do Norte aqui). O que precisaria ser dito, ou o que precisaríamos ver, para reconhecermos o líder correto? (também já falei disso aqui). Nós temos consciência do que está ocorrendo ao nosso redor?

Não ter interesse não nos torna imunes ao plano. Pelo contrário, talvez sejamos o liderado mais fiel, daquele tipo que não faz perguntas. Não é exatamente sobre esse assunto, mas o professor e filósofo Clóvis de Barros Filho menciona neste vídeo o fato de que, quando não nos interessamos, permitimos que excretem nas nossas cabeças. Ou quem sabe, foi justamente sobre esse assunto que ele discorreu.

Quem merece ser seguido? A razão? O coração? A fé? O medo? A coragem? As riquezas? Os homens? Deus? A quem é melhor nos entregarmos? Que tipo de futuro produzirão cada um dos possíveis líderes? Quando não seguimos ninguém, podemos estar marchando pelo pior tipo.

Temos que ficar mais atentos aos nossos medos, pois há quem alimente-se deles. Eles serão a oportunidade para as pessoas preparadas, aqueles líderes de muita sorte. Acho que você já ouviu as duas frases abaixo em algum lugar. Apresento-as em ordem cronológica de ocorrência.

"No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor."
1 João 4:18

"O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento. O medo é o caminho para o lado negro."
Mestre Yoda

Sabe qual é o medo da nossa civilização? De que nosso castelinho de areia seja demolido. Quais são nossos limites, qual o nosso preço, o que somos capazes de renunciar para garantir que ele permaneça de pé?

terça-feira, 4 de abril de 2017

Não é Coisa Pra se Guardar

"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela."
Fernando Pessoa

Tentando pensar em algum tipo de comemoração, já que o blog está completando hoje o seu segundo ano, surgiu a seguinte dúvida: onde quero chegar com ele? Como é hábito de minha parte, inevitavelmente extrapolei a questão. Onde queremos chegar com nossas vidas? Quais são nossos propósitos? Seria uma casa? Uma família? Uma carreira? Um título? Dinheiro no banco? Prazeres? Qual o nosso alvo? Você já se perguntou, todos os seus esforços e dedicação se resumirão a quê?

Eu estudo para ser aprovado em uma prova, treino para vencer uma corrida, escalo para chegar ao topo de um monte. Então, eu vivo querendo alcançar o quê? As primeiras ideias de objetivo, como mencionei, uma casa, uma família, um título, são o fim, ou são as ferramentas que garantirão algo além? Se são as metas, nós estaremos satisfeitos ao conquistá-las? Se são os meios, sabemos especificar o que viabilizarão?

Talvez essas perguntas não tenham muita relevância enquanto temos energia. Quem sabe estejamos muito agitados para parar e pensar. É difícil concentrar-se com tanta força vital circulando nas veias. Ou talvez, elas não tenham relevância porque nos afogamos diante de tantas oportunidades. Não podemos perder tempo avaliando, caso contrário, o mundo irá girar sem a gente. Quem sabe, ainda, até tenham relevância, mas como faltam as respostas, simplesmente deixamos a vida nos levar. Vida leva eu.

Penso que há dois momentos na vida que a pergunta "o que estamos fazendo aqui?" terá bastante peso. O primeiro será quando conquistarmos o que planejamos. Se atingirmos os nossos "objetivos", é bem provável que passaremos por uma auto avaliação. Teremos conseguido preencher o vazio que nos impelia? Aliás, havia um vazio? O segundo momento será quando não tivermos mais tanto vigor, ou melhor, quando estivermos com os suspiros em contagem regressiva. Naquele instante, olharemos para trás e nos perguntaremos se foi como deveria ser. Teremos feito valer a pena a única ficha que recebemos?

Eu pensei e não cheguei a conclusão alguma. Simplesmente não sei. Todos os propósitos que eu tentei encontrar pareceram-me vãos, por mais nobres que sugerissem ser. E pareceram-me assim por causa da existência da morte. O fim encerra em si qualquer objetivo. Então, lembrei-me de duas mensagens que ouvi e que falam muito sobre a vida, mas com poucas palavras. Se não nos ajudam a definir, ajudam-nos a rever. Transcrevo-as abaixo (recomendo as mensagens completas nos links).

"Eu não conseguiria conviver com essa visão amarga, dura, atormentada e sangrenta do mundo. Ou existe Deus, ou então a vida não tem sentido nenhum. Bastaria a morte para tirar qualquer sentido da existência. (...) Deus para mim é uma necessidade. Se eu não acreditasse em Deus, eu seria um desesperado."


"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
(...)
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a 'última hora'; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo."


Desviando: Fazendo justiça ao verdadeiro autor, o texto original não é "O tempo e as Jabuticabas" de Rubem Alves, tampouco "O Valioso Tempo dos Maduros" de Mario de Andrade. É "Tempo que foge" do pastor Ricardo Gondim e foi publicado no livro "Creio, mas Tenho Dúvidas", pela Editora Ultimato, com registro no ISBN, e consta na página 107. Essa falha de autoria já foi tratada aqui.

Voltando: Como não consegui concluir porque escrevo e, portanto, não sei porque comemoraria dois anos deste blog, eu simplesmente continuo escrevendo, acordando, dirigindo, produzindo, vivendo, preparando-me para o dia em que tudo perderá definitivamente o sentido. Meu plano é que, naquele dia, eu possa levar comigo uma única coisa, as lembranças daqueles que encontrei por aqui. Isso eu faço questão de carregar além. Luto para não deixar que conquistas vãs privem-me de encher a mala de viagem com memórias de pessoas. Fio-me na expectativa, quase que desesperadamente, de poder ter as recordações lá do outro lado, pois o resto é certo que vai ficar, não adianta tentar guardar.


Pessoas, família, amigos são coisas para se viver, mas não para se guardar, mesmo do lado esquerdo do peito. E parabéns para o blog por completar dois anos.