"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela."
Fernando Pessoa
Tentando pensar em algum tipo de comemoração, já que o blog está
completando hoje o seu segundo ano, surgiu a seguinte dúvida: onde quero chegar
com ele? Como é hábito de minha parte, inevitavelmente extrapolei a questão.
Onde queremos chegar com nossas vidas? Quais são nossos propósitos? Seria uma
casa? Uma família? Uma carreira? Um título? Dinheiro no banco? Prazeres? Qual o
nosso alvo? Você já se perguntou, todos os seus esforços e dedicação se resumirão
a quê?
Eu estudo para ser aprovado em uma prova, treino para vencer uma
corrida, escalo para chegar ao topo de um monte. Então, eu vivo querendo
alcançar o quê? As primeiras ideias de objetivo, como mencionei, uma casa, uma
família, um título, são o fim, ou são as ferramentas que garantirão algo além?
Se são as metas, nós estaremos satisfeitos ao conquistá-las? Se são os meios,
sabemos especificar o que viabilizarão?
Talvez essas perguntas não tenham muita relevância enquanto temos
energia. Quem sabe estejamos muito agitados para parar e pensar. É difícil concentrar-se
com tanta força vital circulando nas veias. Ou talvez, elas não tenham
relevância porque nos afogamos diante de tantas oportunidades. Não podemos
perder tempo avaliando, caso contrário, o mundo irá girar sem a gente. Quem
sabe, ainda, até tenham relevância, mas como faltam as respostas, simplesmente deixamos
a vida nos levar. Vida leva eu.
Penso que há dois momentos na vida que a pergunta "o que estamos fazendo
aqui?" terá bastante peso. O primeiro será quando conquistarmos o que planejamos.
Se atingirmos os nossos "objetivos", é bem provável que passaremos por uma auto
avaliação. Teremos conseguido preencher o vazio que nos impelia? Aliás, havia
um vazio? O segundo momento será quando não tivermos mais tanto vigor, ou
melhor, quando estivermos com os suspiros em contagem regressiva. Naquele instante,
olharemos para trás e nos perguntaremos se foi como deveria ser. Teremos feito
valer a pena a única ficha que recebemos?
Eu pensei e não cheguei a conclusão alguma. Simplesmente não sei. Todos os
propósitos que eu tentei encontrar pareceram-me vãos, por mais nobres que sugerissem
ser. E pareceram-me assim por causa da existência da morte. O fim encerra em si
qualquer objetivo. Então, lembrei-me de duas mensagens que ouvi e que falam
muito sobre a vida, mas com poucas palavras. Se não nos ajudam a definir,
ajudam-nos a rever. Transcrevo-as abaixo (recomendo as mensagens completas nos links).
"Eu não conseguiria
conviver com essa visão amarga, dura, atormentada e sangrenta do mundo. Ou
existe Deus, ou então a vida não tem sentido nenhum. Bastaria a morte para
tirar qualquer sentido da existência. (...) Deus para mim é uma necessidade. Se
eu não acreditasse em Deus, eu seria um desesperado."
"Contei
meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que
já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de
jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
(...)
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao
lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se
encanta com triunfos, não se considera eleita para a 'última hora'; não foge de
sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar
humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo."
Desviando: Fazendo justiça ao verdadeiro autor, o texto original não é "O
tempo e as Jabuticabas" de Rubem Alves, tampouco "O Valioso Tempo dos Maduros" de
Mario de Andrade. É "Tempo que foge" do pastor Ricardo Gondim e foi publicado no
livro "Creio, mas Tenho Dúvidas", pela Editora Ultimato, com registro no ISBN, e
consta na página 107. Essa falha de autoria já foi tratada aqui.
Voltando: Como não consegui concluir porque escrevo e, portanto, não sei
porque comemoraria dois anos deste blog, eu simplesmente continuo escrevendo, acordando,
dirigindo, produzindo, vivendo, preparando-me para o dia em que tudo perderá
definitivamente o sentido. Meu plano é que, naquele dia, eu possa levar comigo
uma única coisa, as lembranças daqueles que encontrei por aqui. Isso eu faço
questão de carregar além. Luto para não deixar que conquistas vãs privem-me de
encher a mala de viagem com memórias de pessoas. Fio-me na expectativa, quase
que desesperadamente, de poder ter as recordações lá do outro lado, pois o
resto é certo que vai ficar, não adianta tentar guardar.
Pessoas, família, amigos são coisas para se viver, mas não para se guardar, mesmo do lado esquerdo do peito. E parabéns para o
blog por completar dois anos.
PARABÉNS! Estou muito feliz por você! Que seu Blog tenha muitos e muitos anos de publicações!
ResponderExcluirAmo vc! ;)