"O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros."
Confúcio
Eu já ouvi e li inúmeras explicações sobre o Universo, várias vezes. A
observação que quero fazer é que cada uma delas pareceu estar correta, mesmo
quando aparentemente se contrapunham umas as outras. Como podem estar corretas todas
as explicações ao mesmo tempo? Importante alertar que não estou tentando ser irônico e nem
criticando.
Certa vez, vendo o canal Discovery Science, um dos episódios da série Grandes Mistérios do Universo, com Morgan Freeman, explorou uma explicação
sobre as fronteiras do Cosmo. Se não estou enganado, o nome do episódio era "Existe uma borda no Universo?".
Desviando: Não peça para eu repetir a explicação daquela teoria, não
conseguirei. Se bem que, de acordo com a teoria do Macaco Infinito, que eu já mencionei aqui, um macaco, de
frente a um computador, digitando letras aleatoriamente e infinitamente, um dia
irá repetir toda a explicação do episódio melhor do que eu jamais conseguirei
entender.
Voltando: O ponto alto do episódio foi quando mencionou-se que algumas
teorias apontam para um Universo exatamente igual ao jogo Asteroids do Atari (é, eu sei, foram bem
longe, mais precisamente 1979). Naquele jogo, quando a nave comandada pelo
jogador atravessa o topo da tela, ela sai na parte de baixo, e quando atravessa
a tela à esquerda, ela sai do lado direito. Então, a teoria é de que se você
seguir em linha reta pelo espaço, você vai acabar voltando para a Terra, mas do
outro lado (considerando um Universo estacionário). Aquelas teorias provam isso.
Também já ouvi uma explicação de que o Universo seria apenas o resultado
de processamentos executados em níveis quânticos (já falei disso aqui e a matéria sobre
essa teoria você pode conferir aqui). Não é isso, mas
uma analogia que ajuda a imaginar o que estão tentando explicar é pensar em um
computador. Os cálculos e os dados sendo processados nos circuitos da máquina
seriam o nível quântico, enquanto o Universo equivaleria ao que se vê na tela
do computador. Por exemplo, o Universo teria um limite de processamento
equivalente a velocidade da luz, por isso que o tempo desacelera para um corpo movendo-se
a esta velocidade, "o software começa a dar umas travadas". Tudo também fazendo muito
sentido matematicamente.
Um último exemplo de explicação que quero compartilhar sugere que o
Universo é um holograma (confira a matéria
sobre essa teoria aqui). De forma resumida,
um holograma é uma imagem em duas dimensões contendo todas as informações necessárias
para representar o objeto em três dimensões. Então, o Universo não seria
tridimensional, mas bidimensional, com todos os dados suficientes para que seja
interpretado possuindo uma dimensão a mais. Segundo os cientistas, todas as
observações realizadas enquadram-se matematicamente nessa teoria e ela ainda ajuda
a resolver o maior problema científico atual, eliminar os paradoxos entre o
universo quântico e o universo macro. Acredito que a afirmação "tudo encaixa-se
matematicamente" é suficiente para também considerarmos essa teoria como muito
plausível.
Desviando: Já ouviu falar que uma imagem vale mais que mil palavras?
Pois bem, imagine que o Universo é o cilindro da figura abaixo. Minha opinião é
que cada uma das explicações que encontramos são as sombras projetadas embaixo
e na lateral. Com qual delas conseguimos dizer qual é o formato correto do
objeto?
Voltando: Seria bem óbvio que, nesse momento, eu denegrisse a imagem da
ciência e agisse de forma fanática dizendo que apenas a religião, mais
especificamente a minha crença, possui as respostas que o homem procura (deveríamos
estar procurando algo?). Porém, nós vamos pensar um pouco sobre esse assunto também
(agora sim, definitivamente, fui óbvio).
Como eu não conheço outra religião, vou usar como pano de fundo aquela
que conheço. Vamos supor que você acredite que a Bíblia seja o conjunto ideal de
regras e padrões, divinamente inspirada. O que você faz? Você tenta
seguir tudo o que está lá, "ao pé da letra"? Você tenta interpretá-la para se
adequar as suas capacidades? Ou é meio a meio, alguns textos devem ser
praticados de forma inequívoca, outros devem ser interpretados?
Se você decidisse que o que está escrito tem que ser seguido "ao pé da
letra", pois só assim você não será condenado, eu responderia, "perdeu playboy!" (gíria "barra pesada"). Não há, nunca houve (com uma única exceção) e nunca
haverá um ser humano capaz de cumprir tudo o que está escrito lá. E se uma
única virgula não for cumprida, será como se você não tivesse cumprido todas as
outras regras? Já falei aqui sobre a instintiva e
equivocada tendência que temos em acreditar que existe uma escala de zero a dez
para o erro e para o mal.
A segunda opção seria interpretar os textos, mas nesse
caso qual seria a interpretação correta? Como saber quando um mais um não
significa dois? Enfim, por eliminação, vamos pelo caminho do meio a meio,
algumas coisas "ao pé da letra", outras interpretadas. Porém, quem decide? Quem
pode fazer distinção entre o que deve ser interpretado e o que deve ser seguido
a risca?
O ponto é que, tanto na ciência quanto nas questões morais, nós achamos
que sabemos das coisas. Achamos que temos o controle, mas não temos. Formulamos
diversas explicações lógicas e tantas regras, pois não suportamos aquela
sensação como da água escapando por entre os dedos. Neste vídeo aqui, eu ouvi Ravi Zacharias contando um
história, aparentemente uma parábola oriental. Transcrevo-a abaixo.
"O
cavalo de certo homem fugiu. Então seu vizinho apareceu e falou, 'que má sorte, o
seu cavalo fugiu', ao que o homem respondeu, 'e o que eu sei de boa ou má sorte?'.
Alguns
dias depois, o cavalo voltou com 20 outros cavalos selvagens. Então o vizinho
disse, 'impressionante, não foi má sorte, mas boa sorte, pois agora você tem
tantos outros cavalos', mas o homem novamente respondeu, 'e o que eu sei sobre
boa ou má sorte?'.
Enquanto
o filho do homem domava um dos cavalos novos, o cavalo atingiu sua perna e a
quebrou. O vizinho insistente, 'pois é, foi má sorte mesmo, seu cavalo ter
trazido todos esses outros cavalos', porém, novamente o homem disse, 'e o que eu
sei sobre boa ou má sorte?'.
Alguns dias depois, um grupo de bandidos vieram à
cidade para recrutar jovens para a gangue, mas ao verem o filho do homem com a
perna quebrada, não quiseram levá-lo. O vizinho insistiu, 'que boa sorte o seu
filho ter quebrado a perna', não diferente o homem respondeu, 'e o que eu sei
sobre boa ou má sorte?'."
A nossa vida é muito diferente desta história? Nós tentamos ou não
encaixar tudo dentro de um plano? Somos capazes de discernir entre o que coopera
para o nosso bem e o que coopera para nosso mal? Um ônibus que demorou para
chegar, um voo que adiantou, um troco que foi entregue errado, um pneu furado,
uma entrevista de emprego que não passamos, outra que somos aprovados, uma
negociação que deu certo. O que veio depois de cada uma dessas situações e o que viria caso
tivessem sido diferentes? Quem pode saber?
Desviando: "Assim, porque você é morno, mas nem frio,
nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca". Apocalipse, capítulo
3, verso 16
Já ouvi dezenas de
explicações sobre esse trecho e todas pareceram-me muito corretas, analogamente
as diversas explicações sobre o Universo. Cada uma delas uma projeção diferente
da verdade. Da mesma maneira, gostaria de contribuir com minha parcela. Talvez esse
trecho do livro de Apocalipse aponte também para o fato
de que temos que tomar nossas decisões não porque está escrito, não porque
alguém mandou, não porque vamos nos dar mal, não porque a teoria diz, não
porque está de acordo com o plano. Deveríamos fazer nossas escolhas por
simplesmente acreditar que são as escolhas que nós deveríamos fazer. Temos que
entregar a nossa consciência, temos que assumir a responsabilidade.
Voltando: Há outro trecho, também da Bíblia, onde
é mencionado que se tivéssemos fé do tamanho de um grão de mostarda, nós poderíamos dizer a uma montanha para mover-se de lugar e ela
obedeceria. Eu fiquei pensando, o que faríamos com uma fé do tamanho completo
então? Cheguei à conclusão que talvez percebêssemos que as montanhas não são um
problema, mas o problema é a nossa mania de culpá-las por tudo, sem falar das estrelas. Está mais do que na hora de fazermos as nossas escolhas e de nos
responsabilizamos por elas, conscientes de que todas e qualquer uma não serão mais do que sombras nas
paredes, pois será o mais próximo que conseguiremos chegar da verdade.
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