domingo, 28 de fevereiro de 2016

Cara de Conteúdo

"Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas."


Se todas as publicações deste blog fossem juntas uma única publicação, o presente texto seria o recurso “desviando” que costumo usar dentro de cada post. Portanto, desviando...

Relevância.  Essa é a palavra com a qual eu cismei desta vez. Já parou para pensar nela? Quão relevante pode ser aquilo que você pensa e acredita? Quão relevante são as coisas pelas quais você tem interesse? Quão relevante é você? Estas questões estão intimamente ligadas a, ou dependem de, um ponto de referência que permita diferenciar o que é relevante do que não é. Vale observar, àqueles que leem o blog pela primeira vez, que dificilmente encontramos as respostas e que não será diferente hoje, acho.

Vamos iniciar recorrendo ao dicionário. Segundo o Michaelis, essa é a definição:

re.le.van.te
adj m+f (lat relevante) 1 Que releva ou fica em relevo. 2 Importante, saliente. 3 De grande monta ou valor. 4 Indulgente, condescendente. sm p us Aquilo que é preciso; o indispensável.

Importante? Indispensável? Muito bem, mas o que ou quem define aquilo que é importante? Qual a referência? Por exemplo, o que eu escrevo é relevante? A minha resposta é sim, é relevante, pelo menos para mim. Tanto que até continuo escrevendo. Indo além, arrisco dizer que existem também pelo menos outras 100 pessoas que consideram relevante os meus textos, pois é aproximadamente esse o número de acessos que tenho por publicação, as vezes um pouco mais, frequentemente um pouco menos.

Desviando: Você se mudaria para uma cidade de um milhão de habitantes onde apenas uma pessoa é assassinada por ano? Essa taxa de homicídio pode ser irrelevante para você que decide chegar, mas uma esposa e um filho podem considerá-la significativa o suficiente para decidirem sair, pois não suportam mais lembrarem do marido e do pai morto em tudo o que veem pela cidade. Relevância versus particularidade.

Voltando: Instintivamente, nós tendemos a associar a palavra relevante a quantidade. Um milhão de pessoas interessadas parece tornar o objeto de interesse bem importante. Apenas uma ou duas pessoas interessadas não enobrece o objeto de interesse tanto assim, mas é suficiente apenas para classificá-lo como uma estima particular.

Certa vez ouvi uma história curiosa (estou adaptando para universalizar a ideia). Ao se encontrar com um amigo, um homem religioso disse, "a minha vida religiosa foi irrelevante, pois consegui convencer apenas uma única pessoa a se arrepender dos seus caminhos maus". Ao que o amigo indagou, "te entendo, mas quem foi essa pessoa que se converteu com sua ajuda?". Então o religioso respondeu, "ah, um tal de Jorge Mario Bergoglio".

Muito interessante, não? Essa história mostra como tentamos, até o último instante, classificar o relevante pela grandiosidade dos números. Se a história terminasse da seguinte maneira, "ah, um tal de José da Esquina", talvez acreditássemos que a vida religiosa do homem tivesse sido mesmo irrelevante.

Pois bem, e se eu disser que um vídeo clipe teve 28 milhões de visualizações em apenas três meses no Youtube? O que pensaríamos dele e de seu autor? E se eu dissesse que uma outra versão da mesma música, com participação do cantor Lucas Lucco, teve quase cinco milhões de acessos em apenas dois dias? Pois eu estou falando de um funk, estou falando do MC Bin Laden (não achei uma página no Wikipedia que o apresentasse e também fiquei tentando entender porque esse título nos choca menos do que chocaria um MC Hitler). Eu gostaria que existisse outra forma de dar esse exemplo sem fazer propaganda, mas não tem jeito. A música chama-se "tá tranquilo, tá favorável" e você pode conferir o vídeo aqui, mas não o veja inteiro, veja apenas o suficiente. E decida-se, relevante?

Não obstante, esse vídeo abriu a minha mente. Se o clipe musical teve 28 milhões de acesso em apenas três meses e ainda assim eu não o considero relevante, então o cerne da questão não é a audiência, mas o tipo dela. A questão não é quantitativa, mas sim qualitativa. São os tipos de pessoas que se interessam que tornam o objeto de interesse relevante, mas não a quantidade delas. O importante é quem está aí, no seu lugar, lendo, e não quem está aqui, no meu lugar, escrevendo. Então, a pergunta correta é, quais são os tipos de pessoas que o conteúdo atrai? Por isso, eu fico lisonjeado e grato, pois os meus textos são todos lidos apenas por pessoas de muito conteúdo.

Sem estender-me demais, quero terminar redimindo-me, fazendo propaganda de outro vídeo clipe, compartilhado apenas por pessoas relevantes, das quais, como já disse, não tenho dúvida alguma que você faz parte. Você pode conferi-lo em sua versão original aqui e em outra versão, que também gosto bastante, aqui. A letra da música é bem pertinente ao assunto e certo trecho diz o seguinte...

"E na luz nua eu enxerguei
Dez mil pessoas talvez mais
Pessoas conversando sem estar falando
Pessoas ouvindo sem estar escutando
Pessoas escrevendo canções
Que vozes jamais compartilham
E ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio
(...)
E as pessoas se reverenciaram e rezaram
Para o deus de neon que elas criaram
E um sinal faiscou o seu aviso
Nas palavras que estavam se formando
E o sinal disse:
As palavras dos profetas estão escritas nas paredes do metrô
E nos corredores de entrada dos cortiços
E sussurraram no som do silêncio"
Sound of Silence - Simon & Garfunkel

Agradecimentos: A você que lê e torna relevante cada um dos meus textos.

2 comentários:

  1. Legal saber a história do papa Francisco!!!

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    1. Confesso que dei uma adaptada na história original, mas também achei que ficou boa.

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