"Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino."
Os gregos acreditavam que as
Moiras,
deusas que pertenciam a geração dos deuses primordiais,
eram as responsáveis pelo destino dos
homens. Eles criam que as três irmãs teciam o fino fio da vida de cada
indivíduo. Quando a pessoa passava por uma época de boa sorte, dizia-se que o
fio fora colocado pelas irmãs sobre a parte superior da roda do tear.
Quando a época era de má sorte, acreditava-se que o fio havia sido colocado
sobre a parte inferior da roda. É interessante observar o aspecto frágil
atribuído ao destino, representado por um fio. Passa a ideia de que pode romper-se
a qualquer momento.
Mas e nós, no que
acreditamos? O destino está traçado? Existe uma cadeia de eventos definida? Se
tudo está escrito, alguém pode ser responsabilizado?
Imaginemos uma pessoa que,
no último minuto, desistiu de embarcar em um voo, cuja aeronave serviria como
arma em um atentado suicida horas mais tarde. Imaginemos outra pessoa que, também
no último minuto, conseguiu adiantar sua viagem embarcando no mesmo voo. Tenho
certeza que alguém diria, "quando a hora chega, ou quando não é a hora, não adianta...
ninguém consegue escapar da hora de sua morte e ninguém vai antes também". Pois
bem, acreditamos mesmo nisso, ou é só mais uma frase dita naqueles momentos inexplicáveis?
Vamos tirar os olhos das vítimas
e olhar para o terrorista por um instante. Se cada um dentro do avião teve a
hora e a forma como partiria decretado desde sempre, que responsabilidade teria
o terrorista? Grande injustiça de nossa parte em condená-lo, pois ele teria
sido apenas um instrumento do destino. Desta forma, talvez o terrorista fosse até
a verdadeira vítima, já que teria nascido para ser um criminoso, sem chance de
ser diferente, enquanto nós desfrutamos de uma vida privilegiada, diga-se de
passagem, também sem mérito algum sob esse aspecto.
Desviando: Gostaria apenas
de ressaltar que esse exemplo não é uma tentativa de provar que o destino não
existe, mas é apenas uma possível consequência para a alternativa de que exista.
A verdade? Não sei quando ou se saberemos. Ah sim, mas quer saber no que eu
escolhi acreditar? Escolhi que o destino não existe. Seria a minha escolha outro
capricho do destino?
Voltando: Eu já ouvi muita gente falar que Deus está no controle. Eu
mesmo repeti isso várias vezes, que não devemos nos preocupar com nada, pois
tudo está e sempre esteve de acordo com a vontade Dele. Porém, anos atrás eu
mudei de ideia, pois eu vi um vídeo que me fez acreditar que esse tipo de pensamento
é só um jeito diferente de acreditar em destino.
No vídeo, o pastor Ariovaldo Ramos faz algumas observações muito
pertinentes e bem fortes também. Por exemplo, ele diz que falar "Deus está no
controle" para milionários na Califórnia é fácil, o difícil é falar isso para as
pessoas em Santo Amaro da Purificação, cujos filhos nasceram com as vísceras de
fora por terem sido contaminadas com metais pesados, que foram lançados nas águas por empresas
irresponsáveis. Ele até lança um desafio para quem tem, de certa forma, esse
tipo de conceito sobre o destino, "quem teria coragem de falar àquelas crianças
que elas nasceram do jeito que Deus quis?" Ele conclui o vídeo dizendo que seremos
julgados e só é julgado quem é moralmente responsável. Segue o vídeo, é bem
interessante.
Na linha do "moralmente responsável", eu vi esse outro vídeo, de uma
discussão bem construtiva entre um estudante da
Amherst College e Dinesh D’Souza. O estudante
questiona o palestrante sobre o dever moral da sociedade em devolver aos
nativos e aos negros americanos tudo o que foi roubado ao longo da história, e
que, inclusive, está documentado. Durante o desenvolvimento de sua resposta,
Dinesh menciona que o estudante está cobrando da sociedade o primeiro passo em
prol de um ideal particular. Diz que o rapaz é incapaz de virar o "espelho moral" para si mesmo e se perguntar, "o que eu estou fazendo?", colocando em cheque o
idealismo do estudante. Essa resposta fez eu me questionar também,
quem sou eu? Eu sou o meu idealismo, ou eu sou os meus atos? É mesmo bastante
incomodo ver refletido no espelho uma pessoa totalmente diferente do que se
imaginava. Segue o vídeo que mencionei.
Desviando: Como diria Zé Ramalho, em um trecho de uma de suas músicas, há quem espere nos outros a chance de que tudo seja diferente, há quem espere nos outros a chance de tirar da garganta o grito que guarda dentro do peito.
"Acho que os anos
Desviando: Como diria Zé Ramalho, em um trecho de uma de suas músicas, há quem espere nos outros a chance de que tudo seja diferente, há quem espere nos outros a chance de tirar da garganta o grito que guarda dentro do peito.
"Acho que os anos
Irão
se passar
Com
aquela certeza
Que
teremos no olho
Novamente
a ideia
De
sairmos do poço
Da
garganta do fosso
Na
voz de um cantador"
É bem possível que essa espera seja saciada. Porém, poderá não ser
suficiente. Quem sabe quando isso acontecer, descubra-se que nada substituí a
transformação que ocorre ao se romper, pelas próprias forças, os grilhões que foram, se não
colocados, com certeza mantidos por si mesmo.
Voltando: Como qualquer um de nós, já ouvi muitos "não pode", "não é
possível", "não vai dar certo", "é preciso", "não dá para mudar", "sempre foi assim", "é
o melhor a se fazer" e outras afirmações do tipo. Recentemente me percebi fazendo
a seguinte pergunta, "quais regras permaneceriam nesse planeta se todos os
humanos sumissem de uma só vez?" Você não tem a sensação de que vivemos
esperando algo, mas sem saber bem o que?
Quando uma criança vai a uma
festa de aniversário, ela tem a noção de que aquele momento terá um fim, mesmo
sem saber explicar. Essa sensação faz com que ela aproveite aquele momento com
toda a intensidade que suas forças (e seus pais) lhe permitem. Pois eu tenho a
sensação de que cheguei na festa, escolhi o assento mais confortável, esgotei
todas as minhas forças para me apoderar dele e agora fico lá, parado, sem me
mexer, na expectativa de que isso possa fazer a festa durar mais do que ela vai
durar de verdade. Ou quem sabe, na esperança de que quando acabe, eu não tenha
muito do que sentir falta.
Há pessoas que
aprenderam que o lançamento dos dados depende única e exclusivamente delas. Também
há pessoas que sabem dos dados, mas que responsabilizam outros pelo lançamento,
principalmente pelos números indesejados. Existem ainda pessoas que acham que
basta deixar os dados parados, pois o Universo se encarregará de mexê-los de
alguma maneira. Eu acredito ser do último tipo, daquelas que sabem que tem os
dados nas mãos, mas ainda não tiveram coragem de lançá-los, talvez com medo de
que os números esperados sejam sorteados.
Agradecimentos: A DAN por compartilhar o primeiro vídeo e ao
RS por compartilhar o segundo.
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