domingo, 30 de julho de 2017

Quem Sai Na Chuva É Pra Se Molhar

"Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças! As pirâmides que novamente construíste não me parecem novas, nem estranhas; apenas as mesmas com novas vestimentas."
William Shakespeare

Na lista de filmes de uma TV por assinatura, eu vi a divulgação do documentário chamado "Entre os Homens de Bem". A sinopse dizia:

"O filme acompanha três anos da rotina do deputado Jean Wyllys, mostrando as batalhas travadas na Câmara e nas redes sociais pelos direitos das minorias e contra nomes da bancada Boi, Bala e Bíblia."

Eu não vou ver o documentário, não faz o meu gênero (tentativa de trocadilho infame). Porém, confesso que o trecho "batalhas (...) pelos direitos das minorias" chamou muito a minha atenção.

Imediatamente lembrei-me de outro filme, "Elysium". Esse é estrelado por Matt Damon, e também conta com a participação do ator brasileiro Wagner Moura. Neste caso a sinopse diz:

"No ano de 2154, os mais ricos vivem em uma estação espacial feita pelo homem enquanto o resto da população mora em uma Terra arruinada. Um homem assume uma missão que poderia trazer igualdade aos mundos polarizados."

O longa-metragem hollywoodiano expõe a desigualdade presente em nossa sociedade. Aliás, o diretor Neill Blomkamp já havia feito a mesma crítica através de outro filme, "Distrito 9". E é admirável como ele consegue ser tão preciso em sua produção, pois mostra, inclusive, que a maioria pobre aguarda uma revolução, geralmente encabeçada por um salvador, que redistribuirá entre todos os recursos da minoria abastada, tornando assim o mundo mais justo. Enquanto o herói não aparece, o polo pobre se afoga cada vez mais em sua miséria, sem perceber que a transformação de sua realidade depende apenas da própria organização e de atitudes mais compartilhadoras. É como se o oceano deixasse que suas correntes marinhas fossem guiadas por um copo d’água. Não lhe parece estranho que a maioria seja o peixe fora d’água? Enfim...

Então, eu pensei em fazer um paralelo entre o documentário de Jean Wyllys e o filme "Elysium". Porém, percebi que não há analogia. No documentário, o objetivo é trocar uma minoria por outra (tomo minha percepção baseado na sinopse, e também no que sei sobre o perfil do deputado Wyllys). Já no filme americano, a intenção é aplainar os montes.

"Todos os vales serão levantados, todos os montes e colinas serão aplanados; os terrenos acidentados se tornarão planos; as ladeiras, serão niveladas."

Isaías 40:4

Desviando: Chesterton diz em seu livro Hereges:

"Numa grande comunidade podemos escolher nossos parceiros. Numa comunidade pequena, os parceiros nos são escolhidos. Assim, em todas as sociedades grandes e altamente civilizadas surgem grupos baseados no que chamamos de afinidades, e excluem o mundo real de um modo mais brusco do que os portões de um monastério. (...) A grande sociedade é uma sociedade para a promoção da limitação. É um mecanismo que visa proteger o indivíduo solitário e sensível da experiência dolorosa e fortalecedora de assumir compromissos humanos."

Voltando: O mundo sempre foi governado e disputado pelas minorias, e todas elas sempre usaram, e continuam usando, discursos "nobres", politicamente corretos, para angariar soldados que não lutarão a própria guerra. Polarizar atende aos propósitos da minoria. Lembra-se do filme Matrix? A rebelião é sempre iminente, então que sejam lutas que possam ser controladas. Uma distração. O sistema que tenta lutar contra as guerras promovendo mais batalhas não promoverá a evolução que almejamos (se é que a almejamos). Até quando vamos nos iludir com as revoluções que se baseiam apenas na substituição de poderes? Quando perceberemos que é a estrutura que precisa ser alterada?

"Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá servir, e quem quiser ser o primeiro deverá ser servo."

Jesus Cristo

Eu sei que tentar ser modesto em um mundo de conquistadores pode nos custar o orgulho próprio. Porém, dizem que não podemos ficar apenas reclamando sem fazer nada. Se já sabemos onde vai dar a estrada do Eu e estamos insatisfeitos com ela (estamos?), não há outra maneira senão tomar outra direção. Está na hora de trilhar a estrada do Você. Ou temos medo de sair na chuva?

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