domingo, 10 de maio de 2015

Vamos Elefantinho, Pense

"E conhecerá a verdade e a verdade te libertará." Jesus Cristo
Fico imaginando o que o autor dessa frase vislumbrava em sua mente enquanto a pronunciava.


A escravidão sempre fez parte da história da humanidade. Na maioria das civilizações antigas, uma pessoa assumiria a condição de escrava como espólio de guerra após a derrota em um conflito, ou como pagamento de uma divida, por mau comportamento cívico, por atos de pirataria, por ser descendente de escravos, ou por simplesmente pertencer a determinado grupo, povo ou raça. Os escravos perdiam o controle sobre a própria vida, seus donos tinham o direito de comercializá-los e de usufruir de suas qualidades profissionais e de suas forças, podendo inclusive dar cabo de suas vidas. Ou seja, os escravos eram considerados um bem, uma mercadoria.

As atividades as quais se aplicavam esse tipo de mão de obra eram as mais diversas: domésticas, em minas, agricultura, serviços públicos, prostituição (aqui vale uma ressalva, acredito que o conceito de prostituição deveria ser substituído por abuso sexual quando associado a escravidão), atividades de riscos, entre outras. Na Grécia antiga, todas as atividades eram abertas aos escravos, com exceção da política, enquanto em Roma, os escravos não tinham direito algum. No entanto, nos dois casos os escravos domésticos eram mais favorecidos que os demais. Era possível, por exemplo, que os escravos domésticos substituíssem seus donos em reuniões importantes e os acompanhassem em viagens de negócios. Para as demais atividades, o método se assemelhava mais a escravidão como ocorreu no Brasil, em que o castigo era o principal meio de "motivação" para forçar a execução dos serviços. É importante mencionar que no Brasil, inclusive, a escravidão foi exclusivamente racial e voltada aos negros africanos (existiu um período em que os índios também foram escravizados), diferente das demais civilizações onde não existia esse tipo de especificidade.

Como sabemos, hoje em dia a escravidão é condenada pelos direitos humanos: ARTIGO 4° - Ninguém deverá ser mantido em escravidão ou trabalho forçado; a escravidão e o comércio de escravos foram proibidos em todas as suas formas.

Mas eu não tenho tanta certeza de que isso seja realmente uma verdade, tampouco estou fazendo referência a criminosos que ainda continuam subjugando pessoas e crianças ilegalmente. Estou falando de coisas legitimadas. São oito ou dez horas do dia dedicadas ao trabalho e oito horas dedicada ao sono. Das seis horas que restam, parte é dedicada ao banho, à escolha da roupa, a preparação do alimento, à refeição propriamente dita, a lavar a louça, a cortar a grama do jardim, a dar uma ajeitada na casa, para pagar as contas, preparar as crianças para a escola, para levá-las para a escola e depois buscá-las, para ir ao supermercado, a farmácia, a padaria, para levar o cachorro para passear etc. O que sobra de tempo após tudo isso, nós usamos para pensar no dia seguinte, correndo o risco de nos perguntarmos porque deveríamos repetir tudo de novo, a não ser que estejamos com o controle da TV na mão.

O sistema não foi criado para a bateria, mas a bateria foi criada para o sistema. Uma bateria não faz escolhas, tampouco sabe para o que serve de fato, apesar de executar muito bem a tarefa para a qual foi designada pelo sistema.


Desviando: Já ouvi uma história de que cinco macacos foram colocados em uma jaula, com um cacho de bananas pendurado no teto e com uma escada que permitia o acesso até elas. Sempre que um macaco tentava alcançar as bananas os cientistas jogavam um jato de água fria nos macacos. Quando os animais entenderam a regra passaram a impedir na medida da força que qualquer macaco subisse as escadas. Aos poucos, um a um os macacos foram substituídos, de forma que cada novo integrante logo entendia, na base da surra, que não deveria subir as escadas para tentar pegar as bananas. Com o passar dos dias, todos os macacos foram substituídos por novos macacos, que nunca experimentaram o banho de água gelada, mas continuavam seguindo o mesmo procedimento de impedir que qualquer um tentasse alcançar as bananas. Os cientistas concluíram que se os macacos soubessem falar eles perguntariam uns aos outros "por que vocês atacam e batem em quem tenta se aproximar das bananas?" e a resposta certamente seria "não sei, as coisas, por aqui, sempre funcionaram dessa maneira". Eu vou além, acho que a conclusão dos cientistas foi equivocada. Nós somos a prova de que saber falar não implica que esse tipo de pergunta será feita.

Voltando: Nós somos escravos da nossa mente também. Temos medos e expectativas. Temos medo da morte, por exemplo, e fazemos o que for preciso para evitá-la. Alguém um dia disse que a humanidade é a única espécie que tem a certeza da viagem de ida, mas mesmo assim vive tentando devolver a passagem. Temos expectativas de conseguir o que queremos, de sermos queridos, de conquistar, fazemos o que for preciso, lutamos com todas as nossas forças, afinal de contas "querer é poder". E quando nossas expectativas são frustradas nos sentimos injustiçados. Tente falar de "querer é poder", de um mundo justo e cheio de possibilidades para uma mãe cujo filho foi condenado a morte e executado injustamente.

Desviando: Falando em pena de morte, tivemos neste ano dois brasileiros executados na Indonésia por tráfico de drogas. Quando comparamos a forma como os bárbaros resolviam os seus problemas no passado com a forma como fazemos hoje, podemos nos considerar evoluídos. Mal sabiam os bárbaros que a evolução deles dependia apenas de escrever seus códigos em um livro e chamá-lo de lei. Isso mudaria tudo, seriam uma civilização a frente no seu tempo. Mas isso é assunto para um outro post.

Voltando: O povo hebreu, após escaparem da escravidão do Egito, viveram 40 anos no deserto até conseguirem chegar ao destino final para usufruírem da própria liberdade. Isso ocorreu para que a geração que nasceu livre substituísse a geração que nasceu escrava. A geração que nasceu escrava costumava olhar para trás e fazer comentários do tipo "pelo menos no Egito tínhamos carne para comer". Essa história está inteirinha neste pequeno capítulo. Isso me remete a dois pontos: 1 - O elefante que cresceu preso por uma corda, quando adulto, não tem noção de que é forte o suficiente para romper a corda; 2 - De qual geração fazemos parte?
"E finalmente a pergunta. O mistério sobre quem será a história. Sobre quem fecha as cortinas no final. Quem escolhe os passos de nossa dança? Quem nos enlouquece? E muda repentinamente nosso destino? E nos coroa com a vitória quando sobrevivemos ao impossível? Quem é? Que faz todas essas coisas? Quem honra aqueles que amamos com a vida que levamos? Quem manda monstros para nos matar e, ao mesmo tempo, diz que nunca morreremos? Quem nos ensina o que é real e de como rir das mentiras? Quem decide por que vivemos e o que morreremos defendendo? Quem nos acorrenta? E quem guarda a chave que pode nos libertar? É você. Você tem todas as armas de que precisa. Agora lute."
Sweet Pea – Sucker Punch, Mundo Surreal

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