domingo, 8 de maio de 2016

ECA! Evocando a Cadeia Alimentar

"O melhor tempero da comida é a fome." – Cícero

Eu fiquei tentado em procurar tudo sobre cadeia alimentar na natureza para expor neste texto da forma mais clara possível. Pensei em escrever um ou dois parágrafos bem técnicos, com o objetivo de evitar ambiguidades. Imaginei "gastar as palavras" para não corrermos o risco de termos pessoas ainda com dúvidas. Porém, eu não sou um cientista e também não aprofundei-me em métodos de escrita técnica, portanto, o "tiro poderia sair pela culatra". Ou seja, sem medo de passar vergonha, eu diria que fiquei com medo de passar vergonha.

Então, lembrei-me de uma boa maneira de explicar algumas coisas, utilizando figuras. Não é o que dizem, que uma imagem vale mais que mil palavras? Mas não qualquer figura, as melhores são aquelas feitas para instruir crianças, pois são criadas para a parte do ser humano que nunca envelhece, o lúdico. Portanto, aí vai. Senhoras e senhores, respeitável público, apresento-lhes a equilibrada cadeia alimentar (fiquei na dúvida se essa imagem foi feita mesmo para crianças).


Por que estou falando tudo isso? Pois eu vi em um site, sobre ciência e religião, uma matéria a respeito do que acontece com corpos mortos dentro do mar. O resultado da pesquisa, executada por criminologistas da Universidade de Simon Fraser e da Universidade de Victoria, ambas no Canadá, apontou que em quatro dias, no máximo, um corpo se decompõe por completo, muito em função do trabalho dos camarões. O que chamou minha atenção foi um comentário feito pelo religioso responsável pelo site: "Graças a Deus, não como camarões e outros frutos do mar, já que está confirmado que eles são os urubus do oceano (eca!)". Eu não vou colocar o link como referência propositadamente, pois não acho que a pessoa deva ser exposta apenas porque disse o que pensa. Mas confesso, tem algumas coisas que acompanho apenas para ter o exemplo do que não repetir. É pertinente ressaltar também que a doutrina do religioso em questão segue algumas regras judaicas sobre não se alimentar com determinados tipos de frutos do mar, para não se "contaminar". Porém, meu enfoque não será teológico, quem sabe um outro dia.

Desviando: Falando em religioso, quando eu ainda estava na faculdade, um colega de classe apareceu muito cansado para a aula. Ele contou que foi devido a um familiar ter passado a noite doente e com febre. Parentes próximos, alguns amigos e esse meu colega ficaram em vigília durante toda a noite, orando para o doente ser curado. Eu perguntei o que o médico havia dito sobre o caso e ele respondeu que eles não eram desse tipo de pessoa, que eles tinham muita fé e não precisavam levar ninguém para o médico, bastaria ficarem orando e o familiar seria curado do que quer que fosse. Eu não soube o que responder naquele momento e senti-me mal por dois motivos. O primeiro foi que, apesar de partilhar da mesma crença que ele, eu jamais teria essa mesma fé. O segundo foi que eu não concordava com ele, mas não conseguia pensar em nada que o convencesse que estava errado. Levei anos para perceber que o primeiro motivo era a resposta, a minha resposta, que eu deveria ter dito usando outras palavras. De Deus eu não desconfio, acredito e sempre vou acreditar que Ele pode tudo. Eu desconfio é de mim, de que tenha mesmo tanta fé que eventualmente eu diga que tenho. Por isso, eu não posso ser negligente e também não quero ser responsabilizado. Prefiro orar lá no hospital, para o caso que a minha fé falhe. Além do mais, convenhamos, eu já tenho tanta coisa que eu não preciso, já sou tanta coisa que eu não deveria ser, se esse tal "superpoder" de trazer à realidade o que se pede fosse infalível, temo pelo que eu me tornaria.

Voltando: Quase convencido pelo "eca!" e, consequentemente, por uma dieta baseada em folhas, foi que veio a minha mente a cadeia alimentar, de que mais cedo ou mais tarde a morte é assimilada pela vegetação. Não satisfeito, ainda tentando convencer-me pelo vegetarianismo, apelei minha consciência para os fertilizantes sintéticos. Porém, lembrei-me também dos agroquímicos utilizados nas plantações que, além de atacarem os "bichinhos inocentes" da natureza, dos quais faço parte, também interferem no equilíbrio da cadeia alimentar. Portanto, está decidido, será água. Eu vou alimentar-me apenas com água. Não, espere, água não. Será apenas refrigerante, pois além de ser mais gostoso, também contém alguns compostos energéticos e sais que ajudam a sustentar melhor. Não, não quero ouvir como o refrigerante é produzido. Lá, lá, lá, lá, lá... (enquanto tapo os ouvidos).

Pois é, sem chance de dar certo, não é mesmo? E pior, como não se "contaminar" enquanto se faz a coisa certa? Bem, para podermos responder a esta pergunta, antes temos que responder outras duas, que talvez você não tenha percebido (quando a gente não percebe, fica bem perigoso). Enfim, as perguntas são "o que é se contaminar?" e "o que é a coisa certa?". Não poderíamos ser diferente desta vez, por isso não teremos as respostas. Não porque eu não queira, mas porque eu não sei mesmo. Porém, mesmo sem as respostas, fazer perguntas como estas é extremamente importante, pois impede que plantem ideias nas nossas mentes sem que percebamos.

Finalmente, uma coisa eu tenho que concordar com aquele religioso: "graças a Deus". Graças a Deus, nós temos condições e podemos escolher o que comer, pois se não pudéssemos, eu não hesitaria em comer, e dar de comer aos meus filhos (se os tivesse), um urubu assado ao estilo frango a passarinho, ou quem sabe ao molho de camarão (nem sei se combinaria). Eu não sou referência para ninguém, mas se fosse, ao invés de utilizar a expressão "eca!", acho que eu preferiria deixar outra mensagem, de que tem muita gente por aí que não tem o luxo de dizer "eca!".

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