sexta-feira, 17 de abril de 2015

Orelhas ao Vento

 “O que viveu mais não é aquele que viveu até uma idade avançada, mas aquele que mais sentiu na vida.” Jean-Jacques Rousseau

Grandes estrelas constituídas principalmente de Hidrogênio queimam esse componente primeiro, formando o Helio. Quando a quantidade de Hidrogênio se reduz consideravelmente, o equilíbrio tende ao consumo do Helio, formando componentes mais pesados do ponto de vista atômico, como por exemplo o Carbono. Quando o Helio tende a se esgotar, passa a predominar o consumo dos compostos mais pesados formados anteriormente. Isso ocorre sucessivamente, até se passar por praticamente toda a tabela periódica. Inclusive, quando a formação de Ferro começa a ser predominante no interior de uma estrela, o seu colapso final está há apenas alguns minutos ou segundos de acontecer.

A idade da Via Láctea, onde se encontra o “nosso” sistema solar, é de 13,2 bilhões de anos. Além da “nossa” estrela particular, estima-se ainda que há pelo menos 100 bilhões de outras estrelas só nesta galáxia (há quem tenha estimado mais de 400 bilhões de estrelas e estamos falando apenas de estrelas). Então, podemos inferir que os irmãos mais velhos dos átomos que compõem toda a massa da “nossa” galáxia são quase tão antigos quanto o surgimento do próprio Universo, que estima-se ter ocorrido 13,8 bilhões de anos atrás.

É pertinente citar que as moléculas do seu corpo (isso... dê uma boa olhada na sua própria mão, por exemplo) são formadas predominantemente por Carbono, Oxigênio e Hidrogênio, além do Ferro também, o “carrasco” das estrelas. Imagine quanta história os átomos que compõem o seu corpo teriam para contar se pudessem falar.

Acho que você não deveria considerar tão trivial responder a seguinte pergunta: “qual a sua idade?”.

Mas para não “viajar demais”, ou justamente para tentar “pular fora da panela de água fervendo”, eu vou fazer outra pergunta.

Desviando: Alguns estudos concluíram que um sapo, quando colocado em um recipiente com a mesma água de sua lagoa, não reage enquanto aquecemos a água, até que ela ferva. Ele morre “feliz” achando que tudo continua como deveria ser. Mas se tivéssemos jogado o mesmo sapo já na água fervendo, ele saltaria imediatamente para fora, dolorido porém vivo. Eu não vou testar se isso é verdade, o sapo não merece, mas entender esse axioma serve para entender o que eu quis dizer com “pular fora da panela de água fervendo”.

Voltando: E a pergunta é, “qual a idade da sua alma?”

Minha opinião é que o ser humano nunca deixa de ser criança, pelo menos não intelectualmente quando o assunto é o “próprio umbigo”. Faça alguns exercícios mentalmente: compare o estereótipo de uma reunião de negócios com um grupo de crianças tentando organizar uma partida de futebol, sendo que uma delas é a proprietária da bola e tenta tirar o melhor proveito disso; não acho que seja muito diferente o comportamento de motoristas no trânsito quando comparado ao comportamento de crianças disputando um lugar à fila para o lanche escolar, ou para sua vez em um brinquedo no playground; extrapolando um pouco mais, não tem nada mais semelhante a um cliente “chorando” a compra de um produto ou de um serviço junto ao vendedor do que uma criança testando os limites de sua mãe, tentando conseguir aquela guloseima antes do jantar; finalmente, compare os torcedores de duas equipes diferentes, e os imagine cada um com um brinquedo novo na mão, tentando convencer um ao outro que o próprio brinquedo é o mais legal.

Por que, quando se trata do “próprio umbigo”, os adultos não evoluem e continuam chorando, resmungando e se debatendo como fazem os bebês quando apenas respondem ao próprio instinto de fome, sem muita consciência ainda?

Mas quando o assunto é divertimento, os mesmos adultos não costumam aceitar com a mesma facilidade comportamentos infantis. Inúmeras podem ser as justificativas: é perigoso, é contagioso, está sujo, é patético, é futilidade, é preciso acordar cedo no dia seguinte, o que vão pensar, e por aí vai. A gravata e o salto-alto tem grande poder para cobrar a maturidade de uma pessoa na segunda-feira logo pela manhã. O querer parecer ser é uma máscara que não esconde o rosto, ou uma coleira cuja corrente não está presa na parede.

Nos últimos seis meses fiz algumas coisas das quais não me lembrava a última vez que as tinha praticado: tomei banho de chuva, incluindo umas boas pedradas, como tentativa dos céus de me desanimarem ao mandar granizo junto com a água; andei descalço no asfalto e na grama, e desta vez a terra tentou me convencer do ridículo ao mandar formigas (pow, tenho um blog com o nome de vocês); fiquei do lado de fora da casa, olhando para a lua sem pressa, tentando entender o que era aquela massa gigantesca girando como um móbile pendurado no teto, e não diferente o universo tentou conspirar contra, o celular teimava em ficar sinalizando a chegada de uma mensagem; andei de skate com dois amigos na rua em frente de casa, mas desta vez foi tudo certo, sem acidentes.

Desviando: Eu fiquei pensando sobre minha infância e percebi que naquela época eu tinha o sucesso nas responsabilidades como um meio para convencer os meus pais de que eu poderia aproveitar o resto do dia com o que realmente importava. Aquela velha história, faça a lição de casa, tire boas notas, coma toda a refeição, então você pode se divertir. Em algum momento, a responsabilidade deixou de ser um meio e passou a ser o fim. A responsabilidade passou a ser útil para que eu pudesse alcançar responsabilidades que me dariam mais. O objetivo passou a ser o vestibular, a profissão, as contas, a casa, o projeto. Eu passei a me iludir de que eu tinha que fazer muito mais coisas do que posso dar conta para conquistar o que é importante, mas no momento de aproveitar, não tinha mais fôlego. Sabe aquela história de que os computadores apareceram para resolver um monte de problemas que não tínhamos antes da existência deles? Pois é, esse é o caso aqui também. Acho que foi nesse ponto que deixei de ser criança para me tornar adulto, joguei o garoto na jaula, joguei a chave fora e a missão passou a ser arrumar uma chave nova. Tragicamente cômico.

Voltando: Planeje sua viagem, siga por ela. Você vai chegar lá, eu te garanto (se é que há alguma credibilidade em mim que possa me fazer garantir alguma coisa), mas não se esqueça de aproveitar o vento no rosto pelo caminho, pois é só disso que você vai se lembrar no final. Levantar o troféu será pontual (se é que há um pote de ouro no final do arco-íris), mas nessa corrida você só vai poder percorrer o circuito uma única vez.


Como está a sua viagem? Você está tentando pegar o máximo de vento possível no rosto? Ou você só se preocupa em chegar mesmo sem ter muita certeza onde? Aliás, já se perguntou onde quer chegar? Que tal acrescentar uma boas histórias para quando os seus átomos puderem falar daqui uns bilhões de anos?

2 comentários:

  1. Mais um excelente texto! E só corrigindo.. "você" saiu ileso do skate.. rsrs

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    1. Haha. Verdade! Não quis expor ninguém, mas já que você mencionou, foi um belo tombo.

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