"Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço, enquanto o caos segue em frente com toda a calma do mundo."
A personagem William Wallace, no filme Coração Valente de 1995,
luta contra os ingleses pela independência da Escócia. Como não pesquisei a
história do verdadeiro William,
limito-me a falar apenas sobre o herói hollywoodiano. Pois bem, nos raros
momentos em que o guerreio não está empunhando a espada em batalhas pelos
campos escoceses, ele discorre sobre ideais de independência, que julga serem sublimes
à ponto de valerem a sua própria vida, caso seja necessário. No final da película
(cuidado, spoiler), William é
capturado e torturado diante do povo salivante por dor, sangue e morte (naquela
época ainda não havia a TV). Finalmente, o protagonista tem a chance de colocar
à prova todos os discursos moralistas que proferiu ao longo do enredo. No ápice
da dor, o carrasco diz que, se William declarar em alto e bom tom que se rende
ao rei da Inglaterra, ele gozará da misericórdia dos lordes, que darão ordem
para cessar a tortura. William ameaça proferir algumas palavras, todos silenciam
e, em seu último suspiro, grita: LIBERDADE.
Analogamente, Joana D’Arc, neste caso uma personagem real, lutou em favor da França para
livrá-la dos domínios da também Inglaterra. Nesse caso, sua morte foi
diferente. Joana foi queimada em uma fogueira em praça pública. Ou seja, mais
um caso de um bem maior sobrepujando a vida do herói.
Superman é outra
personagem interessante. Ele tem superpoderes e, por isso, sua história não
termina em morte. Porém, uma vez imune a praticamente qualquer tipo de dano
físico, o ponto fraco dele acaba sendo a humanidade. Como acontece com todo
herói imaginário que se preze, Supermam possui um grande amor, a senhorita Lois Lane. E temendo que a
vida dela seja usada para atingi-lo, ele mantém sua identidade em segredo mesmo
para ela. Ou seja, o salvador da humanidade acaba solitário, privando a própria
vida, ou mais especificamente a própria felicidade, em prol de um bem maior.
Estas três histórias falam de personagens que colocaram a honra, a
promessa, um ideal, um bem maior acima da própria vida e felicidade. Ou será
que a felicidade deles era justamente fazer valer o tal do bem maior? Minha
pergunta é, o que essas histórias querem me ensinar? O que eu estou deixando
escapar? Elas tem algum significado mesmo, ou eu sou (me considero) maior que
elas e não valem minha atenção?
Percebi-me refletindo sobre um exemplo bem banal. Pensei na instituição
casamento. O conceito de ter o amor como motivo para uma união oficial é
relativamente novo, algo em torno de 150 a 200 anos. Antes disso, o mais amplamente
aceitável era utilizar o casamento como uma forma de legitimar uma sociedade
entre famílias. Então, questionei-me, os casais do passado eram felizes? Bem, a
resposta vai depender da definição para felicidade. Se a definição que vale é a
atual, de casar-se com quem se ama, aquelas pessoas não eram felizes. Mas se o
sentido for honrar um compromisso, ou construir uma aliança, sim, aquelas
pessoas eram bem felizes.
Desenvolvendo um pouco mais o conceito moderno de casamento, há pontos
positivos e negativos em basear uma decisão no que podemos chamar de paixão, ou
bem estar. E sim, eu vou falar apenas dos negativos. Aqueles sentimentos, por mais
fortes que sejam, passam. A paixão, por exemplo, é como uma dose de qualquer entorpecente
injetado direto na veia. O efeito sempre passa e são necessárias porções cada
vez maiores, ou drogas diferentes, para continuar obtendo o mesmo efeito. Portanto,
quando a felicidade se baseia sobre esse tipo de fundação, ela está fadada a
ter que ser reconstruída a cada êxtase que se exauri. Porém, quando a
felicidade se suporta sobre conceitos como promessa, honra e moral, a chance de
mantê-la a longo prazo, inclusive de ficar mais forte e firme, é muito elevada.
Um bem maior sempre estará lá, ele não se consome com o tempo. E mais ainda, essa
felicidade é lúcida, pois depende exclusivamente do cumprimento do que se
decidiu. Ela não depende do estado de espírito ou dos hormônios na corrente
sanguínea, que com o tempo se consomem.
Quando eu troco um ideal moral por algo efêmero, eu estou construindo minha
casa sobre terreno arenoso. Então, eu sempre vou ter que reconstruí-la após ondas
e mais ondas, ou ventos e mais ventos.
É engraçado, pois nós, que a todo momento buscamos nos eternizar,
fazemos isso justamente do jeito errado. Pense, a moral, a honra e o bem maior são
coisas que deixamos marcados nos outros. Já a felicidade baseada no próprio umbigo
é individualista, é algo que nós levamos conosco, e só conosco. Quando deixamos
tudo para trás para nos preocuparmos apenas com nossa felicidade, nós já morremos,
pois as pessoas aprendem a viver sem nossa presença. Entretanto, quando nós temos
por felicidade o cumprimento das promessas, a honra a um ideal e a luta por um
bem maior, nós deixamos marcas na vida dos outros. A felicidade particular é
uma preocupação consigo mesmo. Moral e honra são preocupações com os outros, é
dizer que nossa felicidade é a felicidade dos outros. É fazer com que o mundo
precise de nós, pelo menos um mundo em quase oito bilhões de mundos.
Ouvi alguém dizer que a justiça humana é a luta por compensações em nosso favor, custe
o que custar e a quem custar, depois de termos sofrido sacrifícios. Já a
justiça divina é lutar pelo bem maior sempre, independente do sacrifício que teremos
que sofrer. Calma... Não aplique esse raciocínio da forma como Hitler fez. Ele
sacrificou o outro em prol de si mesmo, e foi exatamente esse individualismo e
egoísmo que sutilmente criticamos parágrafos acima. Refiro-me ao oposto, a
justiça divina é o sacrifício próprio em prol de um bem maior para o outro.
Desviando: Alguma vez você já escolheu a si mesmo ao invés de escolher o
outro e sentiu, lá no fundo, que não deveria ter feito isso? Pois é, temo que
essa sensação lhe acompanhe para o resto da vida. A não ser que, se ainda houver
tempo, você volte atrás. E se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que
precisa-se de mais coragem para tomar a decisão correta do que a decisão
errada.
"Porque
nós somos aqueles que querem jogar
Sempre
querem ir
Mas
você nunca quer ficar
Nós
somos aqueles que querem escolher
Sempre
querem jogar
Mas
você nunca quer perder
(...)
Quando
você deixa de ter uma mente pequena
Você liberta sua vida"
Voltando: Enfim... Dito tudo isso, eu gostaria de apelar para as suas sensações,
mas não para a sua racionalidade. Durante seu dia, você não tem a sensação de
que tem algo errado com esse mundo, mas que você não consegue explicar? Ao
olhar para as pessoas, ao ouvir suas conversas, ao presenciar suas
manifestações, ao saber ao que dão importância, ao ver como se relacionam, ao
presenciar suas futilidades, você não tem uma sensação de desconforto? Quando
você pensa na sua própria vida, você não sente que está faltando algo, ou
fazendo algo errado, mas que você não sabe bem o que é? Você pode sentir o
caos? Consegue senti-lo no seu dia a dia?
Quem sabe esse meu texto seja apenas uma tentativa de dar uma resposta a
essa minha sensação. Ou talvez algo esteja acontecendo mesmo. Quem pode saber? Aliás,
essa sensação tem sido a inspiração para todos os meus textos nesse blog. Eu
não sei explicar bem o que está acontecendo no mundo, mas parece ser algo inevitável.
"Saiba disto: nos
últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos,
presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, sem
valores, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio
próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, impulsivos, soberbos, mais amantes
dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o
seu poder."
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