"Perceba, você é um escravo da sua mente. Liberte-se."
O método de produção artesanal
predominou durante toda a história da humanidade até por volta do século XVIII,
quando ocorreu a Revolução Industrial. Todos os meios necessários para a produção – ferramentas, matérias-primas e local de trabalho –
concentravam-se com o artesão. Ele realizava todas as etapas da manufatura,
desde o preparo da matéria-prima, até o acabamento.
Com dificuldade para concorrer com os elevados volumes produzidos pela
indústria que surgia, a partir do século XIX, o artesanato passou a se
concentrar em oficinas, onde pequenos
grupos de aprendizes viviam com os mestres-artesãos. Como último suspiro,
apelava-se então às Corporações de Ofício, organizações que os mestres de cada região formavam para
defender seus interesses.
Vamos pular para o século XXI, mais precisamente para o ano de 2017. Eu
olhei para uma janela de alumínio, daquelas do tipo basculante que são instaladas
em banheiros, e vi uma pequena placa com o nome do fabricante, SASAZAKI. Então eu
indaguei, por que seria importante associar uma marca a uma janela? Quando foi
que os itens que atendem as necessidades das pessoas passaram a ser chamados de
produtos e ganharam logos? A partir de quando suprir uma demanda deixou de ser
suficiente e por quê?
Involuntariamente, sem conhecer a origem, mas apenas constatando uma
relação que existe em minha mente, percebi que as marcas de produtos remetem
meus pensamentos ao mundo corporativo, e este à vida profissional, e esta à "definição
de si mesmo". Consequentemente, mais dúvidas. Quando uma profissão deixou de ser
um meio e passou a ser um fim? Quando o sucesso tornou-se o objetivo? Quando
nosso trabalho passou a nos definir? Quais eram as motivações dos artesãos e
quais são as nossas? Como eles se relacionavam com as ocupações deles e como
nós nos relacionamos com as nossas?
Quando eu passo a desejar uma carreira, um cargo, um status, uma
conquista, uma posse, quais são as contrapartidas? Conheço alguém que diz "cada
escolha, uma renuncia". Quando defino-me pelo que faço e pelo que quero, o que
eu estou deixando de ser? O que estou renunciando? (Recomendo essa re-leitura aqui).
Talvez seja ainda mais crítico. Nós fazemos escolhas mesmo, ou somos
orientados? Nós decidimos ou somos sorteados? Onde surgiram e por quem foram
criados os padrões que residem no íntimo de todos nós e, consequentemente, interferem
nas relações entre as pessoas, estabelecem a base sobre a qual a sociedade é
construída e tornam-se as motivações de uma vida e de uma espécie? De uma
espécie, cara. Você já pensou nisso? Já olhou para nós como uma porção de formigas
simplesmente fazendo, sem saber porque faz? E pior, desejando isso?
"Nós
não precisamos de nenhuma lavagem cerebral
(...)
No fim das contas, você é apenas mais um tijolo
no muro"
Desviando: Já deve ter percebido que esforço-me para compreender alguns
padrões. Por exemplo, por que discursos do tipo "eu sempre parti pra porrada com
quem se meteu comigo" tornam-se exemplos de superação e sucesso, até merecendo
palmas (minuto 6:00 do vídeo),
ao mesmo tempo que discursos do tipo "ofereça o outro lado da face"
passam a ser associados a exploração, subjugação e alienação? Isso explica
tudo, quando olhamos para o mundo que está sendo construído, mas não faz o
menor sentido, quando confrontado com o mundo que dizemos querer construir.
Voltando: Qual a diferença entre fazer e ser? Queremos ser, ou nos
satisfazemos em fazer? É possível ser um bom fazedor, mas ainda assim não ser
ninguém? Posso mudar minha resposta para a pergunta "o que eu vou querer ser
quando crescer"? Já falei aqui,
mas com outro enfoque, que a melhor forma de convencer uma pessoa a executar algo é fazer com
que ela acredite que desejou por aquilo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário