sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Última Geração de Processadores

"A informática foi criada para resolver problemas que não tínhamos antes dela existir."
Desconhecido


Existem pelo menos dois tipos de realismos na física e que aparentemente não se encaixam bem. Um é o realismo físico e o outro é o realismo quântico (o universo do muito pequeno, como átomos, elétrons etc).  O elo entre essas duas realidades é instável por causa da intuição, do senso comum, que os seres humanos tem com relação ao mundo físico.

Qualquer pessoa colocada em frente a uma mesa de bilhar, com algumas bolas espalhadas sobre ela e com um taco na mão, conhecerá instintivamente os conceitos da Mecânica Newtoniana sobre força, impulso, quantidade de movimento e energia. Ninguém precisa ter conhecimentos sobre a matemática que interpreta esses conceitos para saber como as coisas devem (mais ou menos) funcionar ao acertar uma bola com o taco em certo ponto, com certo ângulo e certa força. Qualquer um de nós já criou ou assimilou o senso comum sobre o mundo físico que nos rodeia. A matemática é apenas um idioma, para quem tiver interesse, com o qual é possível explicar esse mundo. Já disse Albert Einstein certa vez: "Nenhum cientista pensa com fórmulas."

Então, a "descoberta" da realidade quântica trouxe à tona alguns paradoxos, pois as coisas que acontecem naquele nível parecem ser contrárias a nossa intuição, pelo menos de acordo com o nosso atual nível de conhecimento. Por exemplo, as ondas eletromagnéticas apresentam a dualidade onda-partícula. A luz, um tipo de onda eletromagnética, pode se comportar como matéria ou como onda, dependendo apenas de como "olhamos" para ela. Eu não vou tentar explicar essa dualidade, pois acabaria me atrapalhando vergonhosamente e você nunca mais leria os meus textos (você ainda está por aqui?). No entanto, eu consegui achar o vídeo abaixo que explica de uma forma bem interessante esse paradoxo. Cinco minutos de "fritarem os neurônios".


Desviando:
"Alice: Qual o caminho que devo seguir?
Gato Maluco: Depende. Para onde você quer ir?
Alice: Para qualquer lugar.
Gato Maluco: Se você quer ir para qualquer lugar, qualquer caminho serve."
Alice no País das Maravilhas
Voltando: Justamente inconformados com a aparente falta de coesão entre realidade física e realidade quântica, alguns cientistas "criaram" um outro tipo de interpretação. Segundo eles, o plano físico, ou o plano macro (por falta de uma definição melhor) é apenas o resultado de processamentos no nível quântico.

Vejamos alguns exemplos segundo essa interpretação. Primeiro, talvez a velocidade da luz não seja a constante limitadora, mas pode ser que o Universo tenha uma velocidade limite de processamento e a luz seria a única coisa capaz de atingir, seja qual for, esse limite. Outro exemplo, se a gravidade curva o espaço, então o espaço deveria estar contido em algo, mas não poderia ser dentro de outro espaço, pois nesse caso teríamos uma regressão infinita. Assim, uma possibilidade seria que o espaço fosse o resultado de um processamento criando algo vazio. Por último, se conseguíssemos viajar próximo a velocidade da luz, o tempo passaria muitíssimo devagar, seria análogo a dizer que o Universo está ocupado demais com uma elevada carga de processamento, por isso "está dando umas travadas". Enfim, são vários exemplos e você pode conferir cada um deles aqui com mais detalhes. Se desejar ver a matéria completa em inglês, pode clicar aqui também.

Em qual outro lugar nós também vemos processamentos, que ocorrem em níveis invisíveis, criarem um mundo visível, macro e útil? Dentro de um computador. E justamente pensando em computação, eu comparei meus conhecimentos sobre a história da humanidade (percebi que são bem limitados por sinal) com as diferentes versões de softwares que os desenvolvedores disponibilizam frequentemente.

Desviando: Na minha mente, eu tenho a seguinte linha do tempo, mais em função de um raciocínio por reflexo do que uma pesquisa consciente por dados: Pré-História (algum período depois dos dinossauros); Idade Antiga (Egípcios, Grécia, Roma); Idade Média (uma época obscura na minha mente); Idade Moderna (um bocado de Independências); e Idade Contemporânea (as duas grandes Guerras Mundiais e o dia de hoje).

Voltando: Vamos escolher uma civilização qualquer, os Egípcios a 3000 ou 4000 anos atrás. Imagine um chefe de família padrão, com uma família padrão daquela época. Qual era o nome dele? Qual era a primeira ação dele ao se levantar da cama? Ele parava por alguns segundos sentado? Ele se levantava rápido? O céu estava escuro ou claro, quando ele saía de casa? Como ele ia para o trabalho? O que ele pensava durante o caminho? Como eram os nomes dos filhos dele? Como eles se reuniam para o jantar? Sobre o que conversavam? Como ele gesticulava ao falar? Falava sobre o que com seus amigos? O que faziam nas horas vagas? Quais eram os planos de carreira desse homem? O que ele esperava do futuro? Quais eram suas expectativas? O que ele construiu? Como foi seu nascimento e sua infância? Como foi sua morte? Quem se lembra dele?

Quando pensamos em cada momento da humanidade, pensamos macro, pensamos na massa, mas essa massa é feita de processamentos ínfimos, quase desprezíveis, individuais. Não pensar no pequeno faz o "agora" parecer a única realidade que já existiu e faz todo o resto parecer nada mais que histórias para entretenimento. Cada uma das versões da humanidade construiu algo e cada pessoa, no seu dia a dia exclusivo e individual, participou dessa construção, consciente ou não, concordando ou não. Aliás, fazem parte da construção as coisas que são feitas por aqueles que não concordam com ela (paradoxo?). Então, se tentamos pensar no pequeno, no específico, enquanto conhecemos o resultado do todo, algumas questões mais capciosas começam a surgir na nossa mente (pelo menos surgem na minha). O que a nossa versão da humanidade está construindo conosco como cúmplices? Onde queremos chegar? Como seremos vistos pelas versões futuras?

Todos os dias, sem exceção, eu vejo pessoas em seus carros saindo de casa, para fazerem exatamente as mesmas coisas que elas e tantas outras pessoas pelo mundo sempre fazem. Existem bilhões de pessoas, salvo algumas exceções, vivendo os mesmos tipos de vidas, todos os dias. Buscando os mesmos tipos de coisas, dia a dia. Eu vejo casas e me pergunto, "por que concreto?" Eu vejo um padrão de horário e me pergunto, "todo mundo funciona igual?" Eu vejo busca por sucesso e me pergunto, "quais são as expectativas?" Vejo famílias e me pergunto, "nossos laços mais constantes não são profissionais?" Vejo cuidado com a forma física e me pergunto, "por que construímos conforto?" Vejo pressa e me pergunto, "onde queremos chegar?" Tudo isso faz parte da programação? É isso? Quem definiu a programação?

Que nível de influência um "bit" é capaz de ter na tentativa de mudar algo, caso esteja inconformado, insatisfeito, ou não concorde com a funcionalidade geral do software? O que pode ou consegue fazer um "bit" que não está conseguindo entender porque todos os outros "bits" consideram tudo tão normal, quando tudo é tão esquisito e não faz o menor sentido. Como todos os "bits" juntos processam e constroem constantemente, por livre e espontânea vontade, um software que parece ter como única função limitar um "bit" a ser nada mais que apenas um "bit"? Que função pode ter um "bit", se ele não se comportar como um "bit". (Já mencionei algo aqui sobre a questão, o software é para a máquina ou a máquina para o software?)

Desviando: Em informática existe um recurso chamado de "máquina virtual". São softwares que permitem simular um sistema operacional dentro de outro sistema operacional. Uma das grandes vantagens desse recurso é a possibilidade de criar pontos de restauração. Ou seja, se qualquer problema ocorrer dentro da máquina virtual, seja um vírus, seja um programa que não deu certo, seja um arquivo que se corrompeu, sejam dados que se perderam, a qualquer momento é possível voltar ao ponto de restauração, que foi criado antes do problema ocorrer e então começar tudo de novo, continuar a partir do ponto onde tudo ainda funcionava.

Voltando: Talvez, se pudéssemos ter todas as chances possíveis, se pudéssemos criar pontos de restauração de nossas vidas e recomeçar a qualquer momento, até conseguirmos encontrar a versão ideal, quem sabe o software não fosse diferente.

"Eu estou errado por pensar fora da caixa onde me encontro?
Eu estou errado por dizer que escolho outro caminho?
Eu não estou tentando fazer o que todos os outros fazem,
Apenas por que todos fazem o que fazem.
(...)
Então, estou errado por pensar que poderíamos ser algo de verdade?
Agora, eu estou errado por tentar alcançar as coisas que não consigo ver?
(...)
Se me disser que eu estou errado, eu não quero ser certo."

Por que não conseguimos compreender a relação entre o "mundo quântico" e o "mundo físico"? Por que não conseguimos ver além do senso comum?

Créditos: Obrigado aos amigos RLC e RLM pela sugestão das máquinas virtuais.

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