"A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente." Albert Einstein
Em algum momento alguém decidiu começar a contar. Um, dois, três,
quatro... E até hoje nós não paramos essa contagem. Todos que nascem entram na "brincadeira" e continuam a contagem a partir de onde ela parou. O tempo sempre foi algo
muito intrigante mesmo.
E temos nos especializado nessa contagem, inclusive. O relógio mais preciso que existe no planeta (atrasa ou adianta alguns segundos em centenas de
anos) mede o tempo através da oscilação do átomo de Césio. Quando esse átomo é
bombardeado por energia, ele emite nove bilhões, cento e noventa e dois
milhões, seiscentos e trinta e um mil, setecentos e setenta (9.192.631.770)
pulsos por segundo. Ao contar esses pulsos, nós conseguimos garantir que precisamente
um segundo se passou.
Inicialmente, acreditava-se que a contagem do tempo era fixa, que em
qualquer lugar do Universo essa contagem seguia o mesmo ritmo e sempre para
frente (quem propôs isso foi Newton). Mais tarde surgiu
uma ideia de dilatação do tempo, ou seja, se estivermos nos movimentando, o ritmo dessa contagem muda,
mesmo que não percebamos (quem propôs isso foi Einstein).
Desviando: Dilatação é só um nome, não tente entender o conceito pela
palavra, mas entenda o conceito em si. Por qualquer que seja o motivo, nós tendemos
a nos preocupar menos com os conceitos e passamos a assumir que as palavras tem
todo o conteúdo em si mesmas e que seriam suficientes para a interpretação dos
significados.
"Rama-Kandra: (...)
A resposta é simples. Eu amo muito a minha filha. Eu a acho a coisa mais bela
que já vi. Mas, de onde viemos, isso não é suficiente. Cada programa criado
precisa ter um propósito, senão ele é deletado. (...)
Neo: É
que... Eu nunca...
Rama-Kandra:
Ouviu softwares falarem sobre amor.
Neo: É
um sentimento humano.
Rama-Kandra:
Não. É uma palavra. O importante é a conexão que a palavra representa. Vejo que
você está amando. Pode dizer-me o que você daria para manter essa conexão?
Neo:
Qualquer coisa.
Rama-Kandra:
Então, talvez o motivo de você estar aqui não seja tão diferente do motivo de
eu estar."
Matrix Revolutions
Voltando: O tempo e o espaço não são independentes, quanto mais temos de
um, menos temos do outro. Se você e eu estivermos parados um com relação ao
outro, veremos os nossos relógios marcando o tempo no mesmo ritmo. Mas se eu me
movimentar, o tempo para mim vai passar diferente do tempo para você, e maior
será a diferença quanto maior for a velocidade do meu movimento. Nesse caso,
quando nos encontrarmos, o seu relógio estará atrasado com relação ao meu, por
exemplo, mesmo que nem você e nem eu tenhamos alterado o ritmo de nossas
contagens. Um , dois, três, quatro... (cuidado, por enquanto é assim, mas não
se esqueça da possibilidade de existirem homens em caravelas com roupas estranhas).
Isso implica em algumas coisas
bem malucas e uma delas está relacionada aos limites entre passado, presente e
futuro. Imagine que o "agora" é tudo o que acontece em qualquer lugar do Universo
para nós nesse momento. Nós vamos colocar tudo isso em uma única fatia de pão.
As fatias para trás sãos os momentos no passado e as fatias para frente são os
momentos para o futuro. O "agora" é a mesma fatia para todos no Universo que se
encontram no mesmo estado de movimento que nós estamos. Nós estamos cortando as
fatias de tempo e espaço perpendicularmente ao comprimento do pão.
Mas imagine que exista um viajante do espaço, que esteja muito longe de
nós e que começa a se mover de forma a se afastar do planeta Terra ainda mais.
De acordo com a teoria da dilatação, como o movimento desacelera a passagem do
tempo, se você pedir para esse viajante fatiar o mesmo pão para fixar tudo o
que representa o "agora" para ele, o corte dele vai ser em angulo para trás com
relação ao nosso corte. Isso significa que a fatia do "agora" dele contempla
coisas aqui na Terra que ocorreram para nós há 200 anos atrás, por exemplo. E se
o viajante estiver se movendo em direção a Terra, o corte dele também será em
ângulo com relação ao nosso corte, mas desta vez para frente. Ou seja, o "agora" para ele contemplará aqui na Terra as coisas que ainda vão acontecer daqui há
200 anos.
Eu não estou inventando nada, nem mesmo dando meu ponto de vista, ou uma
nova interpretação. Eu estou apenas repetindo o que alguém um dia já falou. Veja
esse vídeo, ele dá exatamente
essa interpretação da teoria da relatividade, mas bem mais clara e prática do que eu estou conseguindo
expor.
Todo o tempo existe sem distinção de passado, presente e futuro, bem
como o espaço existe todo em si mesmo sempre. Enfim, considerando que o tempo e
o seu fluxo são apenas ilusão, continua fazendo sentido pensarmos em começo,
meio e fim? O Universo poderia ter começado ontem? Ou pior, pode estar
começando exatamente agora, pelo menos para alguém longe de nós e se afastando?
Será que não há um corpo celeste, ou até uma civilização, cujo movimento
resulta em uma fatia do "agora" que está passando exatamente pelo Big-Bang? Que
sentido há falar em cadeia de eventos, quando as migalhas que estamos seguindo
são ilusórias? Tudo existe e sempre existiu? Se o Universo está em expansão e a
velocidade está aumentando a cada instante, o que acontecerá quando se alcançar
velocidades próximas a da luz?
Desviando: Acho, apenas acho, que começo a ter um pequeno, bem pequeno,
vislumbre do que um ser que se autointitula o Eterno está tentando dizer quando
fala:
"Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim." Apocalipse 22.13
Voltando: Se o tempo como o
interpretamos é ilusão, o que são nossas expectativas? Um emprego? Um salário?
A compra de uma casa? A pessoa correta? Uma vaga na faculdade? Um visitante? Um
filho? Um pedido de desculpas? Justiça? Dias melhores? As expectativas não
seriam subjetivas e irrelevantes? E depois da morte? Todos somos eternos? Todos
nós sempre existimos em alguma fatia do pão? Existiria a possibilidade de todas
as fatias se tornarem uma no mesmo momento? Do que estamos falando? Qual o
conceito?
Alguns poucos anos atrás eu tive a oportunidade de ficar frente a frente
com algumas pessoas mortas. Mas calma, não eram fantasmas, eram pessoas mortas
de fato, entes queridos, deitados em uma caixa funerária, sendo visitados pela
última vez. Cada um desses momentos foram únicos, fui impelido a me perguntar
quais eram as minhas expectativas? Cheguei a conclusão que eu não devo ter
expectativas, pois elas serviriam apenas para que eu me sentisse frustrado,
afinal de contas, qualquer coisa que eu possa querer, ou até mesmo conquistar, vai
se encerrar comigo quando eu estiver ali, deitado. Passei a tentar me
concentrar no agora, mas não é fácil, por diversas vezes me pego ainda fisgando
a isca que o tempo insiste em lançar, pois o tempo que contamos enquanto
estamos vivos é insuficiente para fazermos todas as escolhas que gostaríamos,
mas ele é suficiente para fazer com que esqueçamos aquelas que fizemos.
Tenho tentado manter a esperança. Isso... Esperança envolve responsabilidade, envolve escolhas ao invés de ilusão, de perdas atreladas as
expectativas. A esperança de que o "depois" é tão "agora" quanto foi o "antes", de que
o segundo que vivemos é o sempre. Decidi escolher acreditar de que um dia
teremos controle sobre a variável tempo como temos controle sobre as outras
três variáveis: comprimento, profundidade e altura.
"Na casa de meu Pai há muitos lugares. Se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver." João 14.2 e 3
Quando começamos a pensar nos meandros da realidade, ela deixa de ser tangível e começa a se tornar etérea. Analogamente, é bem
possível que o que consideramos etéreo hoje seja tão tangível quanto fatiar um pedaço
de pão. Alguém um dia usou a palavra "espiritual" para tentar explicar alguns
conceitos, mas talvez essa palavra não esteja explicando bem, apesar de ser o
melhor ou o mais próximo que temos para chegar da verdade. Ainda talvez, o
significado que essa palavra tenta carregar tenha se esvaecido com o tempo, de
forma que ela tenha se desviado da verdade que está tentando explicar. O
conceito de realidade e de ilusão são bem questionáveis, já falei sobre isso aqui.
Qual a sua esperança? Qual a sua escolha? Não vai dizer que só está
deixando as coisas acontecerem, pois já vimos que essa sensação de fluxo é pura
ilusão. Você abre ou fecha sua mente para os conceitos em função das palavras
que ouve? Mas os conceitos não são antes das palavras?
Nenhum comentário:
Postar um comentário