segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nada Como um Dia Após o Outro

"Em primeiro lugar é o Universo que deve ser interrogado sobre o homem e não o homem sobre o Universo."
André Breton

O Sol concentra um pouco mais que 99% de toda a massa do sistema solar. A massa dele é, por exemplo, 332.900 vezes maior que a massa da Terra. Parte da energia gerada pela fusão dos átomos de Hidrogênio, 74% da massa do Sol, chega a Terra em forma de luz, que demora em média 8 minutos para nos alcançar. Essa luz e também o calor em forma de radiação são fontes de praticamente toda a energia que existe na Terra. A vegetação, as chuvas, os rios, os ventos, os animais, o clima, você e mesmo a energia absorvida por plantas e animais há milhões de anos e que futuramente se tornariam componentes orgânicos fósseis, hoje o Petróleo, tem o Sol como fonte de energia.

O Sol é a estrela central de nosso sistema, o que significa dizer que a Terra gira em torno dele. Uma volta completa da Terra ao redor do Sol dura aproximadamente 365 dias e a cada 24 horas a Terra também completa uma volta em torno de si mesma. Ou seja, sempre há uma face da Terra voltada para a luz do Sol, o que chamamos de dia, e outra face voltada para o lado oposto, o que chamamos de noite. Volta a volta, os dias vão passando e os anos vão ficando para trás, em um ciclo de renovação que não significa nada do ponto de vista do Universo, mas que faz todo o sentido na mente de quem sente o calor aconchegante no rosto ao raiar do dia.

A teoria heliocêntrica foi oficializada através da publicação "Da revolução de esferas celestes" de 1543, mesmo ano da morte de seu autor, Nicolau Copérnico. Até meados do século XVI a Terra era considerada o centro do Universo, mas a partir daquela publicação (com ressalvas), o Sol foi colocado no centro. Alguns séculos mais tarde a Via Láctea seria descoberta e o Sol deixaria de ocupar essa posição central. Hoje outras galáxias também já foram descobertas, então não se sabe mais qual é o centro do Universo, se é que existe um. Mas tudo isso refere-se a discussões por títulos oficiais, pois não oficialmente sabemos qual é e sempre foi o centro do Universo, pelo menos do ponto de vista dos seres humanos.


Desviando um: Um homem era capaz de responder a qualquer pergunta. Ele mesmo, por si só, não tinha as respostas, mas de uma forma misteriosa qualquer, quando alguém lhe fazia uma pergunta, a resposta aparecia na sua mente. Pelo capricho do destino, tentando alertar as autoridades (não tenho muita certeza se contra um atentado, ou contra um crime hediondo), ele se tornou suspeito, pois quem poderia ter detalhes tão profundos do crime antes do acontecimento sem ser o mentor ou o cúmplice? Durante sua caminhada para a cela, onde passaria os próximos trinta anos cumprindo pena por um crime que não cometeu, ele foi ridicularizado pelo oficial que o acompanhava, "então quer dizer que você é capaz de responder a qualquer pergunta?" O homem respondeu que sim. O oficial emendou outro achincalhamento, "então, se eu te perguntar qual a forma perfeita de sair desta cadeia você saberá a resposta e poderá colocá-la em prática?" Não diferente, a resposta foi sim. O oficial não suportou o desafio e lançou como golpe final, "então prove que você faz o que diz, qual a forma perfeita de sair dessa cadeia?"

Trinta anos depois, quando o notável homem estava saindo da cadeia, após cumprir toda a injusta pena, quis o destino que o acompanhante fosse o mesmo oficial que o escoltou durante a entrada. É curioso como após trinta anos uma pessoa pode permanecer a mesma, sem nenhuma evolução. O oficial, com o mesmo ar de deboche lançou a fatídica pergunta, "pelo jeito você era culpado, pois permaneceu preso por trinta anos, mesmo após eu ter feito a pergunta cuja resposta te libertaria". O homem com poderes especiais deu sua resposta cabal, "essa caminhada final para a liberdade é a conclusão do plano perfeito para sair desta cadeia, você não entende isso porque não procura por respostas que sejam a verdade, mas procura por respostas que estejam de acordo com as suas vontades."

Desviando dois: Talvez você não goste de conto de fadas, então vamos falar de Direitos Fundamentais. Toda aquela história sobre os direitos dos cidadãos a moradia, educação, saúde, segurança e lazer. Suponha que você é fumante (se for mesmo, pare com isso, faz mal) e que o Estado acaba de proibir a prática do fumo no país. Ora bolas, você tem o direito de escolher entre o que é bom para você e o que não é. O Estado não tem direito de se meter na sua vida. Onde estão os seus direitos? Vamos pintar as caras e sair as ruas, mas não antes de fazermos alguma reflexão.

Depois de um tempo fumando (expressão máxima de sua liberdade, nada contra), você adoece por causa do vício e precisa de um hospital. Como eu acho difícil que você deixe de procurar um médico (e nem deve), com a consciência de que você foi o responsável pela degradação de sua saúde e por isso é corajoso o suficiente para ficar em casa esperando a morte chegar, a minha pergunta seria, quem tem mais direito de ocupar o leito hospitalar, você que fumou a vida toda, ou uma pessoa que adoeceu por puro acaso? (É importante eu deixar claro que tenho consciência da dificuldade de se livrar dos vícios químico e psicológico, não estou tratando dessa questão, mas se mesmo assim você estiver desconfortável com meu exemplo, substitua o vício do fumo por um paraquedas que quase abriu tarde demais – você vai sobreviver).

Não há diferença, vocês dois tem os mesmos direitos por um tratamento. O ponto que queremos discutir está no momento das escolhas. Você tem responsabilidade pela sua saúde não somente por si mesmo, mas porque ela tem um custo para você e para o Estado, consequentemente para o seu vizinho. Justamente vislumbrando isso, o Estado poderia se ver na obrigação de proibir o fumo, preparado para aceitar certos níveis de perdas (as próximas eleições talvez, por causa de medidas "impopulares") em prol do bem da maioria. É o mesmo para educação, segurança e moradia. Nós deveríamos entender isso, mas porque não aceitamos? Umbigo, o problema é o umbigo.

Você poderia me questionar sobre as pessoas que não tem condições de desfrutar de seus direitos pelos seus próprios esforços, mas eu não vou entrar no mérito se os sistemas de governo (democracia) e de economia (capitalismo) que escolhemos para nós são os melhores. Se são sistemas absolutos, ou se podem ser questionados. Quem sabe um dia eu tenha alguma inspiração para falar sobre termos o direito de fazer qualquer escolha, assim como será exclusivamente nossa a responsabilidade sobre cada consequência. Ou é justamente sobre isso que estou falando? 

Desviando três: Tanto o cão quanto o gato ficaram avaliando os seus donos, prestando atenção em tudo o que eles faziam. Os cuidados em colocar comida na vasilha, o carinho em dar banho e escovar os pelos, a preocupação em levá-los ao veterinário, a dedicação em preparar uma cama quente e confortável. Então o cão pensou, "poxa, meu dono é tão bom comigo, ele só pode ser deus", mas o gato pensou, "poxa, meu dono é tão bom comigo, eu só posso ser deus."

Voltando tudo: Talvez você não acredite em conto de fadas, ou em governantes, ou em filosofia de internet. Então, vou tentar falar de mim. Hoje eu sei que as vezes as coisas vão dar errado e isso não vai necessariamente ter algum significado, não adianta eu "bater o pé" como uma criança que deseja uma guloseima antes do jantar. Hoje eu sei que existem momentos que eu vou ter que abdicar de um direito meu em prol do bem de outra pessoa e que de alguma forma isso vai ser bom para mim também. Hoje eu sei que não devo mesmo conseguir tudo o que eu gostaria, pois poderia fazer mal para mim, ou pior, fazer mal para outra pessoa. Hoje eu sei que não tenho o controle de tudo, que eu não conheço os meandros de todas as coisas que me cercam, então devo ser um pouco mais humilde em minhas opiniões. Hoje eu sei que querer não é poder. Hoje eu sei que o meu umbigo não é o centro do Universo.

O problema do hoje é o amanhã, um dia totalmente diferente, quando eu vou me esquecer de tudo que eu sei hoje. Eu vou me perceber acreditando novamente que o Universo estará conspirando contra mim ao menor sinal de dificuldade. As vezes a face de tudo está virada para o meu umbigo, outras vezes está virada para o lado oposto.

Tem uma passagem bem interessante no livro que eu julgo ser a mais completa enciclopédia sobre seres humanos que existe (Olha o umbigo aí de novo, esse livro não era sobre Deus?):

"Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade."
Lamentações 3.22-23

Não vamos achando que esse trecho diz que nós temos alguma importância no Universo, de modo que sempre teremos privilégios dia após dia. Essa passagem pode estar dizendo justamente o contrário, que somos tão limitados, fracos e insignificantes que dia após dia sempre vamos cometer os mesmos erros, afinal de contas, que tipo de pessoa precisaria de misericórdia renovada um dia após o outro?

Nenhum comentário:

Postar um comentário