"Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"
Friedrich Nietzsche
As profecias são relatos que
dizem poder prever acontecimentos futuros. Geralmente transbordam alegorias e
simbolismos, causas das mais diversas interpretações. Na maioria das vezes, essa
variedade de interpretações provoca descrédito, banalização, mas convenhamos, a polêmica
é justamente a pitada de tempero sobre o assunto. Algo que seja direto, certo e
racional é um fato, não uma profecia.
Os tipos de profecias que mais atraem a nossa atenção (ou pelo menos a
minha atenção) são aquelas sobre o fim apocalíptico do mundo,
muito por manterem abertas as possibilidades de como tudo
ocorrerá, permitindo que a imaginação de cada um seja o único limite. E haja
imaginação. Confesso que as vezes fico achando que vivemos em
um filme de Hollywood e que o grand finale está sempre a espreita.
Acho tudo muito surreal. Deixe-me listar alguns exemplos curiosos.
Juda Ben Samuel foi um judeu alemão que no ano de 1217 registrou uma previsão de três
partes para a nação de Israel. Ele disse que por oito jubileus, ou por 400 anos
(1 jubileu = 50 anos), os turcos Otomanos reinariam sobre Jerusalém. Pasmem, 300
anos após o registro das previsões, de 1517 a 1917, foi exatamente isso que
ocorreu. Na segunda parte da previsão, o rabino havia dito que durante um
jubileu, Jerusalém seria terra de ninguém. Segure o queixo, pois entre 1917 e
1967 Jerusalém ficou sob a alçada britânica a mando da Liga das Nações, não
pertencendo literalmente a nenhuma nação. Na terceira parte, o rabino disse que
durante o décimo jubileu, Jerusalém estaria sob os cuidados do povo judeu e que
após esse período, o messias apareceria para estabelecer seu reino final. Um
pedaço desta terceira parte da previsão já se cumpriu, a partir de 1967, após a
Guerra dos Seis Dias, Jerusalém passou à tutela dos judeus, como está até hoje. O que dá um
certo frio na barriga é que esse período que culmina com a chegada do messias
judeu e seu reinado final se encerra em 2017. Apenas para que esse post não fique
grande demais, achei esse site que apresenta os
fatos históricos que marcaram cada período, caso você tenha curiosidade.
São Malaquias, um arcebispo
irlandês, no ano de 1199 fez previsões que supostamente indicariam os 112 papas
da igreja católica a partir de Celestino II, sendo que o 112° papa seria o
último antes do fim do mundo. Nesta página você encontra cada
uma das 112 previsões e a suposta ligação de cada uma delas com os respectivos papas,
indicando o possível cumprimento. Eu confesso que fiquei bastante impressionado
(dica, comece do fim para o começo). Não diferente, o frio na barriga ronda o
ambiente, pois o 112° papa seria o então papa Francisco. E quer saber mais? No ano de 2015 esse mesmo papa, por qualquer que seja o motivo, disse sentir que seu
papado será de quatro ou cinco anos no máximo. Fazendo as contas, 2013 mais
cinco é igual a 2018. Ai, caramba, primeiro ano após o fim do último jubileu
previsto pelo rabino judeu Juda Ben Samuel.
No capítulo 13 do livro de Marcos, nos versos de 28 a 32 (estou falando da Bíblia), Jesus disse que deveríamos
ficar atentos a lição da figueira, que quando ela florescesse não passaria uma
geração sem que seus relatos sobre os fins dos tempos se cumprissem. Na mesma
Bíblia, a figueira costuma representar Israel e uma geração dura por volta de
70 anos. Levando isso em consideração, em 1948 Israel conquistou sua independência, floresceu, e
contando mais 70 anos chegamos ao ano de 2018. Afe...
Tudo muito interessante e empolgante, não é mesmo? Me divirto com esse
tipo de assunto. Parece aquele episódio de seriado, que acaba no ponto alto da trama
e aí temos que esperar uma semana até o próximo capítulo. Ainda bem que 2017/2018
está logo aí. Enfim, eu poderia listar aqui uma dezena de profecias, ou previsões,
que preveem o fim do mundo para logo, mas... Acho
que o nosso interesse por profecias se baseia no horror de partir desse mundo, mas ele continuar. Não pode, como a história tem a ousadia de continuar sem a gente?
E pensando nisso, tem uma profecia para o fim que é certeira, tiro e queda, na
mosca, não tem jeito de dar errado, a expectativa de vida.
Desviando: Lendo uma reportagem do Woody Allen, ele menciona ter
tomado consciência da morte aos quatro, ou cinco anos de idade. Nas palavras
dele, igual a todo mundo. No entanto, eu tive uma experiência diferente.
Provavelmente, eu tenha entendido o conceito na mesma época, com quatro ou
cinco anos de idade, mas a consciência chegou para mim apenas aos 33 anos (que
idade mais cabalística). Não vou explicar
como foi (pelo menos não hoje), pois eu nunca pensei exatamente sobre isso. Sei
que foi uma cadeia de eventos que culminou no abrir de olhos, muito parecido
com aquele tipo de sono pesado, com um sonho que parece muito real, mas que em
determinado momento se acorda, se perguntando se é meio de semana, ou se é
final de semana, se deve-se levantar para o trabalho, ou se podemos dormir mais
um pouco, se é noite, ou se é dia, se estamos em casa, ou em outro lugar. Como
no acordar do sono pesado, do sonho quase real, tomei um baita susto, mas foi
libertador. Acho...
Voltando: Segundo o IBGE (dados de 2014) a expectativade vida no Brasil é de 74,9 anos de vida. Faça as contas. OK, um
pouco mais, um pouco menos, mas será nessa faixa. O que pensaremos sobre nós e
nossa vida naquele dia, naquela hora, naquele minuto, naquele segundo? Eu não
acredito que seja possível adquirir a consciência do próprio fim e continuar
fazendo tudo como se fazia antes. O conceito da morte nos permite continuar
igual, mas a consciência não. Dá para continuar vendo ou pensando o mundo do
mesmo jeito? Dá para continuar vivendo e fazendo as coisas do mesmo jeito?
Raiva? Mágoa? Medo? Ambição? Egoísmo? Expectativa? Lucro? Cargo? Posição ou
reconhecimento social? Bem material? Distância?
"É
melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde
há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem se
esquecer disso."
Eclesiastes 7.2
No programa "Café Filosófico" da TV Cultura com o tema "Ética no cotidiano, com Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho", gravado em 29 de Maio
de 2014, o filósofo Mario Sergio Cortella fala que muitas pessoas olham as aves no céu e
dizem que gostariam poder voar livres como os pássaros. Ele fala que esse
conceito de liberdade é distorcido, pois os pássaros não voam porque escolheram
voar, mas voam por ser a única coisa que eles sabem e podem fazer. Ele dá um
exemplo, menciona que um pássaro não pode olhar para o ótimo clima ao sair do
trabalho e decidir ir caminhando para casa, para aproveitar o momento. Então, ele
conclui que nós somos livres, pois pensamos e podemos fazer escolhas.
Sinceramente? Não sei se pensar e escolher é muito diferente de voar? Talvez
seja a única coisa que sabemos e podemos fazer, assim como os pássaros com
relação ao voo. Pior ainda, escolhemos mesmo? Podemos fazer umas listas das
nossas escolhas e ter certeza que foram nossas? Quer tentar fazer a lista?
Já que citamos a palavra ética, mas não fugindo do assunto, o pastor
evangélico Ed René Kivits, na sua pregação do
dia 03 de Agosto de 2015 (muito boa pregação por sinal, segue o link) menciona que alguém
já disse que ética é a capacidade de escolher entre o errado e o errado, que
entre o certo e o errado nós não precisamos ter ética, mas precisamos ter
coragem. Estendendo o conceito, coragem pode ser a linha que está entre o que
nós escolhemos de fato e o que foi escolhido para nós. Talvez naquele dia, com
33 anos de idade, não tenha sido bem um susto, quem sabe não foi uma pequena injeção
de coragem, provocada pela consciência de que não se tem nada a perder, mas que
tudo já está perdido.
Desviando: Vem a minha mente agora um jogo eletrônico com o qual
costumava me divertir quando ainda era adolescente (meados da década de 90). O
nome do jogo era "Prince of Persia" e em determinado momento nossa personagem
precisava enfrentar a própria imagem gerada em um espelho. Gastei horas, dias,
quase uma semana inteira, tentando acertar a cópia, tentando vencê-la. Gastei
toda a minha criatividade para encontrar onde, ou como, poderia acertá-la com a
espada de forma a derrotá-la. Sempre que conseguia acertá-la, minha personagem
era ferida no mesmo ponto e no mesmo instante. Não conseguia entender, até que
em determinado momento tudo ficou claro. A minha luta era o que me derrubava.
Tudo o que eu fazia para tentar vencer o inimigo era exatamente o que me derrotava,
afinal de contas, era uma cópia da personagem que eu controlava.
Voltando: Minha opinião é que todo nosso esforço se concentra em obter conforto,
que poderia ser alcançado se não nos esforçássemos por esse motivo e, somente
nesse caso, descobriríamos o que nos conforta de verdade (já falei algo sobre
isso aqui) . Minha impressão é
que sabemos disso, mas o que nos falta é a coragem para fazer diferente. Minha aposta
é que inevitavelmente nos arrependeremos disso, mas nesse dia estaremos nos
tornando estatísticas para os cálculos da expectativa de vida.
"Oráculo:
Tudo que tem um começo tem um fim."
Matrix Revolutions
(2003)
O fim do mundo é individual,
é solitário, é claustrofóbico, é frio, é pálido, é triste. Eventualmente há uma
flor aqui ou ali, no máximo, tentando nos convencer que o mundo acabou um pouco
para todo mundo também, ou pelo menos um pouco para quem mandou as flores.
PS: Acho que o clima ficou
um pouco pesado, então apenas para não acabar desse jeito, segue uma citação
final de esperança.
"Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
João 3:16
Nenhum comentário:
Postar um comentário