sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Verdadeiro Cético Duvida Até de Seu Ceticismo

"Vejo através dos meus olhos e não com eles."
William Blake

Ao continuar lendo "O Fim da Terra e do Céu – O Apocalipse na Ciência e na Religião" de Marcelo Gleiser, que já mencionei aqui, cheguei a um ponto interessante do livro.

Desviando: Se você colocar um bloco de gelo dentro de um copo de água líquida, eles vão trocar calor entre si de modo que o gelo derreterá e a água vai se resfriar, até que ambos atinjam uma temperatura de equilíbrio.

Voltando: Pois bem, o autor expôs em seu livro que existe uma radiação cósmica de fundo espalhada pelo Universo, resquício do Big-Bang, que se encontra a determinada temperatura. Alguns sinais dessa radiação demoraram alguns bilhões de anos para nos alcançar e outros sempre estiveram aqui, ou seja, estes dois sinais específicos estão se encontrando somente agora, por exemplo. O ponto interessante é que tanto a radiação de fundo que demorou bilhões de anos para nos alcançar quanto a que já existia aqui, aos redores da Via Láctea desde sempre, estão com a temperatura em equilíbrio perfeito, com precisão de milésimos de graus Celsius. Seria o mesmo que ter a água líquida e o bloco de gelo exatamente à mesma temperatura, mesmo que eles nunca tivessem se encontrado. Como isso é possível? A ciência ainda não tem certeza, mas uma forte possibilidade é que o Universo tenha passado por um período inflacionário, teoria de que todo o Universo observável teria se originado em uma pequena região e depois se expandido tão rápido quanto a velocidade da luz. É pertinente ressaltar que a mesma ciência especifica que nada pode ser tão rápido quanto a luz (mas já falei aqui sobre outras possíveis interpretações desse limite). Se a ciência ainda tem dúvidas, não é de se admirar que eu continue com a minhas. Inclusive é de se questionar se eu de fato entendi alguma coisa.

Quer "colocar mais lenha na fogueira"? A teoria da Relatividade de Albert Einstein especifica que a gravidade de um corpo interfere no correr do tempo. Por exemplo, quanto maior for a gravidade de um planeta, mais devagar o tempo passará naquele lugar. Então, se tivermos uma gravidade próxima do infinito, segundo a teoria, não haverá tempo, o relógio ficará parado para sempre. É aí que entra o Big-Bang mais uma vez, a tal singularidade, um ponto em um instante com densidade e a gravidade infinitas. Minha dúvida, quando a gravidade dessa singularidade ficou um milésimo, bilionésimo, "zilionézimo" (quase nada) abaixo do infinito, quanto tempo se passou nessa situação? Que referência estamos utilizando para definir a idade do Universo? Esse período de gravidade quase infinita está entrando na conta? Se sim, qual era o passo do relógio? Enfim... Acho que o problema sou eu.

Vamos procurar por mais um "caroço nesse angu". Nesta reportagem consta que foi descoberta a galáxia mais antiga e distante do Universo. Ela está a 13 bilhões de anos-luz de distância. Posso começar com a dúvidas? Considerando que o Universo tem aproximadamente 13,6 bilhões de anos, como poderia existir uma galáxia quando o Universo tinha no máximo 600 milhões de anos, período em que ainda não haviam condições suficientes para a formação de galáxias? Por que a luz da galáxia mais velha do Universo demorou 13 bilhões de anos para nos alcançar? Essa luz não deveria permear todo o Universo desde o início? Não foi a Terra que chegou depois? Se uma das formas de se medir a idade do Universo é pela distância em que se encontra a galáxia mais longínqua, como garantir que não existe um Universo infinitamente maior além dos limites observáveis, cuja luz ainda não nos alcançou? Talvez a teoria que já citei, da inflação do Universo, responda a essas perguntas, ou talvez não.

Desviando: Eu conheci uma pessoa que dizia, se colocarmos um macaco de frente com um computador para sempre, um dia ele vai digitar algo que se aproveite. Pelo menos é o que diz o teorema do macaco infinito. Basicamente, se um macaco ficar infinitamente de frente a um teclado de computador, batendo aleatoriamente nas teclas, um dia alguma obra conhecida será reproduzida. Por exemplo, se desconsiderarmos pontuação, acentuação e maiúsculas, se considerarmos apenas as letras do alfabeto, segundo esse teorema, a probabilidade de que um macaco digite a palavra Hamlet é uma em 26 elevado a sétima potência, ou uma em 8.031.810.176 chances (oito bilhões, trinta e um milhões, oitocentos e dez mil, cento e setenta e seis). Para se ter uma ideia, a probabilidade de se ganhar na Mega-Sena é 160 vezes maior (já falei sobre Mega-Sena aqui e sobre infinito aqui). Por isso que, tendendo ao infinito, o mesmo macaco poderá escrever a obra completa de Hamlet. Com esse teorema em mente, não é difícil inferir, ou supor, que precisaríamos de um Universo infinito no tempo para que um código genético completo tenha sido formado na base da tentativa e erro, compondo uma única espécie de ser vivo adaptado ao meio em que vive. No entanto, a melhor teoria que nos apresentaram, por enquanto, é de que o Universo não é infinito no tempo (já mencionei isso aqui).

Aliás, eu vi outra reportagem na TV muito capciosa. Falava de uma espécie específica de serpentes, a jararaca-ilhoa, que ficou confinada no topo de um monte em virtude das inundações após o fim da era glacial, há milhares de anos. Esse pico deu origem a Ilha da Queimada Grande, no litoral paulista. Ao longo dos milhares de anos, as serpentes evoluíram geneticamente até adquirirem um veneno mais letal, para poderem caçar as aves sem que estas tenham tempo de fugir, por exemplo. A reportagem também diz que os cientistas chegaram a conclusão de que as serpentes estão em risco de extinção, pois ao viverem confinadas na pequena ilha as reproduções ocorrem entre indivíduos da própria "família", o que diminui a variabilidade genética. Minha dúvida, diminuição da variabilidade genética? Mas não foi justamente o confinamento que permitiu que elas evoluíssem até se tornarem as serpentes mais mortais do mundo? As serpentes precisaram de milhões de anos para entrarem em risco de extinção? A evolução e a extinção não são inversamente proporcionais nesse caso? Foi no mês passado que os indivíduos da mesma "família" de serpentes começaram a se reproduzir entre si? Não estamos forçando a barra?

Voltando: Não estou falando que as teorias estão erradas, ou que há uma consciente conspiração tentando nos direcionar em um único sentido de conhecimento (talvez seja inconsciente). Estou falando que ainda existe muita margem para dúvida, muita margem para interpretação. Ainda tem muita coisa relacionada a escolha e não a lógica. Já mencionei algo aqui.

No passado haviam "lutas" teóricas entre filósofos e "cientistas" e isso nos fez chegar onde chegamos. Hoje as teorias parecem ter sido definidas, ou pelo menos as fronteiras parecem ter sido fixadas, de modo que quem tenta levantar dúvidas além dessas fronteiras não é mais um "lutador" como os pensadores antigos, mas é um ignorante fundamentalista que não deve ser levado em consideração.

Design Inteligente? Criacionismo Científico? Por que não aprendemos sobre essas teorias nas escolas? Por que eu só ouvi falar delas aos 35 anos de idade, após navegar muito pela internet e completamente por acaso? Quantas teorias eu ainda não ouvi falar? Por que aprendemos na escola que o contra ponto da Evolução é a Geração Espontânea, uma teoria que soa quase como uma piada? Por que não ficamos sabendo a opinião de matemáticos dos bons sobre a probabilidade de algumas teorias? Por que não nos dizem que existe muita margem para pensar e para criar, que cada um de nós pode ser o grande pensador de amanhã? Por que colocam tudo dentro de uma caixa? Quem coloca lá?

Durante aproximadamente 250 milhões de anos (tempo estimado para o surgimento da humanidade), o homem olhou para o céu do ponto de vista da Terra e as pistas que seguiu o fizeram concluir sempre que tudo girava em torno da Terra. Há aproximadamente 350 anos (eu estou aproximando pela época em que Isaac Newton esteve entre nós condensando as teorias) o homem se imaginou fora da Terra, então pôde interpretar as mesmas pistas de forma diferente, tudo não passava de uma esfera azul girando no espaço, presa ao nada.

O que me ocorre agora é que durante toda a nossa história temos tirado conclusões do ponto de vista de dentro do Universo físico. O que acharemos quando olharmos a partir do outro lado? Por toda a nossa vida temos tirado conclusões do ponto de vista de dentro das realidades que construímos em casa, na rua, no trabalho, no trânsito, nas compras, nas festas, nas redes sociais etc. O que acharemos quando olharmos a partir do lado de fora de cada uma dessas realidades?


Quando o nada fica além da fronteira, o tudo tem o tamanho que desejarmos. Mesmo pequeno, ele pode parecer infinitamente grande. Mesmo infinitamente grande, ele pode ser quase nada.

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