"A nossa pálida razão esconde-nos o infinito."
O modelo do Big Bang é um sistema de
equações que foi deduzido por Georges Lemaître, e outros, a partir das seguintes premissas:
3. O Universo é aproximadamente homogêneo em uma escala suficientemente
grande.
Assim, o modelo diz que o Universo, independente da quantidade de
matéria, surgiu, como é hoje (com suas constantes definidas), homogêneo, em algum
momento no passado, vindo a expandir-se desde aquele instante.
O que acontecia ou existia antes daquele momento? Não se sabe. E que
nome damos, tecnicamente, a algo que não sabemos explicar? Singularidade.
Desviando: Eu acho muito curioso o fato de que, com o passar do tempo, o
desconhecido se torna trivial apenas por ter ganhado um nome. Nós sempre
confundimos "ser familiar" com "ser compreendido". Eu acho que temos preguiça de
pensar. Por exemplo, já tentou refletir sobre Deus sem considerar o nome?
Voltando: Na geologia e paleontologia, nós inferimos o
passado da Terra com base em pistas deixadas no solo e nos fósseis,
respectivamente. Na cosmologia, vemos o passado dos
astros, já que a luz tem uma velocidade finita. Por exemplo, a luz do sol leva oito
minutos para nos alcançar. A luz da constelação de Orion leva 1300 anos para
chegar aqui na Terra. E é precisamente pelo fato de que nossas conclusões são
todas baseadas em vestígios, que temo pela possibilidade de estarmos
equivocados. Tenho a sensação de que somos capazes de fazer medidas, mas que
não temos condições de tirar conclusões.
Já falei sobre a personagem do jogo de videogame aqui, mas quero
desenvolver o raciocínio um pouco mais. Ao ligar o aparelho, a personagem surge
em seu universo. Ela carrega consigo todas as memórias que lhe foram
programadas. Imagine que ela crie consciência em dado momento, olhe para si e
se veja na forma de um ser de trinta anos, por exemplo. O que ela concluiria ao
associar sua aparente idade às memórias que possui? Inevitavelmente, que está
vivendo há pelo menos trinta anos. Porém, mal sabe ela que o videogame foi
ligado há apenas cinco minutos. O aparelho nem esquentou ainda.
O filme Dark City (já o mencionei aqui
também) mostra algo
que vem ao encontro dessa ideia. Seres interplanetários agrupam alguns humanos
em uma cidade artificial no espaço. O objetivo é tentar entender, ou descobrir,
a alma dos seres humanos. Os extraterrestres fazem a seguinte experiência: de
tempos em tempos, eles alteram toda a estrutura da cidade, mudam as pessoas de
lugar e de família, inserindo-as em contextos completamente diferentes, e lhes injetam
memórias que se enquadram àquela nova situação. As cobaias humanas passam a viver
no novo cenário normalmente, como se sempre tivessem tido aquela vida. As
pessoas não percebem que a realidade está sendo manipulada. Os ETs concluem que
a consciência humana não existe, que tudo não passa de conjuntos de memórias.
E se o nosso Universo for análogo a um jogo de videogame? Como podemos
garantir que o aparelho não foi ligado há somente "cinco minutos"? Como poderíamos
perceber essa realidade? Pensar isso não lhe dá uma sensação de que tudo o que descobrimos
até hoje perde o sentido? Que todo nosso conhecimento sobre o que nos rodeia está
incompleto ou mesmo errado? Você não acha que precisamos repensar tudo? No meu
caso, pensar nisso esmaece a realidade diante dos meus olhos. Literalmente,
tenho a sensação de que preciso franzir os olhos, fazer força para enxergar
tudo o que está ao meu redor, como se não conseguisse focar as coisas. Talvez
seja mais simples, eu só tenha que trocar as lentes dos meus óculos.
Como saber que tudo não surgiu exatamente como é hoje? Como ter certeza
que as nossas medições não estão nos enganando? Se a realidade fosse "fabricada",
comparável as memórias artificiais, como poderíamos perceber? Tenho de concordar,
um bom contra-argumento seria dizer que, de acordo com as observações que
fazemos de tudo ao nosso redor (leis da Natureza e do Universo), nada nasce de
repente e de uma única vez. Porém, essa alegação não valeria apenas para o
Universo pronto, que já existe como é? Antes do Big Bang, quando era apenas o
nada, ou era qualquer coisa, que lei determinava o que poderia surgir e que
princípio regia a forma como poderia acontecer?
Sinto como se tivesse sido colocado entre dois espelhos paralelos entre
si. A imagem parece infinita para cada lado que eu olhe. Com muito esforço
tento focar o ponto mais distante dentro de cada um deles, querendo entender a
realidade em que estou inserido. Porém, não percebo que qualquer ponto dentro
dos espelhos, mesmo o mais distante, são apenas reflexos daquele reduzido
e limitado espaço entre o espelho e eu. Todo o infinito está ali, ao alcance
das minhas mãos.
Desviando: Alguns antigos diziam que existe um véu obstruindo a visão da humanidade. Eu fico cada vez mais impressionado com o nível intelectual dos homens
e mulheres do passado, com a competência e precisão como conseguiam esclarecer
suas ideias através de simples comparações. Hoje, as mensagens deles são consideradas
ultrapassadas, simplesmente por serem tão familiares, mesmo que não sejam
compreendidas. Ou talvez porque não usavam réguas para concebê-las. Se
prestássemos mais atenção àqueles pensamentos, quem sabe obteríamos as
respostas que ansiamos, ou ao menos percebêssemos que há muita diferença entre descrever
e responder.
Voltando: Enfim, desta vez eu quis apenas dar minha breve opinião sobre
o Universo, mas sem abordar nenhuma moralidade. Ou, talvez, eu esteja mesmo
querendo rever minhas escolhas e decisões morais, quando olho para a
possibilidade de que a realidade não envolve números, quando considero a chance
de estarmos ignorando a verdade apenas porque não podemos provar que ela seja mais
que mera especulação.