domingo, 24 de junho de 2018

Uma Breve História do Universo

"A nossa pálida razão esconde-nos o infinito."

O modelo do Big Bang é um sistema de equações que foi deduzido por Georges Lemaître, e outros, a partir das seguintes premissas:

1. A Relatividade Geral é suficientemente exata;
2. As leis da Termodinâmica são válidas;
3. O Universo é aproximadamente homogêneo em uma escala suficientemente grande.

Assim, o modelo diz que o Universo, independente da quantidade de matéria, surgiu, como é hoje (com suas constantes definidas), homogêneo, em algum momento no passado, vindo a expandir-se desde aquele instante.

O que acontecia ou existia antes daquele momento? Não se sabe. E que nome damos, tecnicamente, a algo que não sabemos explicar? Singularidade.

Desviando: Eu acho muito curioso o fato de que, com o passar do tempo, o desconhecido se torna trivial apenas por ter ganhado um nome. Nós sempre confundimos "ser familiar" com "ser compreendido". Eu acho que temos preguiça de pensar. Por exemplo, já tentou refletir sobre Deus sem considerar o nome?

Voltando: Na geologia e paleontologia, nós inferimos o passado da Terra com base em pistas deixadas no solo e nos fósseis, respectivamente. Na cosmologia, vemos o passado dos astros, já que a luz tem uma velocidade finita. Por exemplo, a luz do sol leva oito minutos para nos alcançar. A luz da constelação de Orion leva 1300 anos para chegar aqui na Terra. E é precisamente pelo fato de que nossas conclusões são todas baseadas em vestígios, que temo pela possibilidade de estarmos equivocados. Tenho a sensação de que somos capazes de fazer medidas, mas que não temos condições de tirar conclusões.

Já falei sobre a personagem do jogo de videogame aqui, mas quero desenvolver o raciocínio um pouco mais. Ao ligar o aparelho, a personagem surge em seu universo. Ela carrega consigo todas as memórias que lhe foram programadas. Imagine que ela crie consciência em dado momento, olhe para si e se veja na forma de um ser de trinta anos, por exemplo. O que ela concluiria ao associar sua aparente idade às memórias que possui? Inevitavelmente, que está vivendo há pelo menos trinta anos. Porém, mal sabe ela que o videogame foi ligado há apenas cinco minutos. O aparelho nem esquentou ainda.

O filme Dark City (já o mencionei aqui também) mostra algo que vem ao encontro dessa ideia. Seres interplanetários agrupam alguns humanos em uma cidade artificial no espaço. O objetivo é tentar entender, ou descobrir, a alma dos seres humanos. Os extraterrestres fazem a seguinte experiência: de tempos em tempos, eles alteram toda a estrutura da cidade, mudam as pessoas de lugar e de família, inserindo-as em contextos completamente diferentes, e lhes injetam memórias que se enquadram àquela nova situação. As cobaias humanas passam a viver no novo cenário normalmente, como se sempre tivessem tido aquela vida. As pessoas não percebem que a realidade está sendo manipulada. Os ETs concluem que a consciência humana não existe, que tudo não passa de conjuntos de memórias.

E se o nosso Universo for análogo a um jogo de videogame? Como podemos garantir que o aparelho não foi ligado há somente "cinco minutos"? Como poderíamos perceber essa realidade? Pensar isso não lhe dá uma sensação de que tudo o que descobrimos até hoje perde o sentido? Que todo nosso conhecimento sobre o que nos rodeia está incompleto ou mesmo errado? Você não acha que precisamos repensar tudo? No meu caso, pensar nisso esmaece a realidade diante dos meus olhos. Literalmente, tenho a sensação de que preciso franzir os olhos, fazer força para enxergar tudo o que está ao meu redor, como se não conseguisse focar as coisas. Talvez seja mais simples, eu só tenha que trocar as lentes dos meus óculos.

Como saber que tudo não surgiu exatamente como é hoje? Como ter certeza que as nossas medições não estão nos enganando? Se a realidade fosse "fabricada", comparável as memórias artificiais, como poderíamos perceber? Tenho de concordar, um bom contra-argumento seria dizer que, de acordo com as observações que fazemos de tudo ao nosso redor (leis da Natureza e do Universo), nada nasce de repente e de uma única vez. Porém, essa alegação não valeria apenas para o Universo pronto, que já existe como é? Antes do Big Bang, quando era apenas o nada, ou era qualquer coisa, que lei determinava o que poderia surgir e que princípio regia a forma como poderia acontecer?

Sinto como se tivesse sido colocado entre dois espelhos paralelos entre si. A imagem parece infinita para cada lado que eu olhe. Com muito esforço tento focar o ponto mais distante dentro de cada um deles, querendo entender a realidade em que estou inserido. Porém, não percebo que qualquer ponto dentro dos espelhos, mesmo o mais distante, são apenas reflexos daquele reduzido e limitado espaço entre o espelho e eu. Todo o infinito está ali, ao alcance das minhas mãos.


Desviando: Alguns antigos diziam que existe um véu obstruindo a visão da humanidade. Eu fico cada vez mais impressionado com o nível intelectual dos homens e mulheres do passado, com a competência e precisão como conseguiam esclarecer suas ideias através de simples comparações. Hoje, as mensagens deles são consideradas ultrapassadas, simplesmente por serem tão familiares, mesmo que não sejam compreendidas. Ou talvez porque não usavam réguas para concebê-las. Se prestássemos mais atenção àqueles pensamentos, quem sabe obteríamos as respostas que ansiamos, ou ao menos percebêssemos que há muita diferença entre descrever e responder.

Voltando: Enfim, desta vez eu quis apenas dar minha breve opinião sobre o Universo, mas sem abordar nenhuma moralidade. Ou, talvez, eu esteja mesmo querendo rever minhas escolhas e decisões morais, quando olho para a possibilidade de que a realidade não envolve números, quando considero a chance de estarmos ignorando a verdade apenas porque não podemos provar que ela seja mais que mera especulação.

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