domingo, 18 de junho de 2017

Você Disse e Eu Não Pude Acreditar

"O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano."
Isaac Newton


Em 1800, William Herschel direcionou a luz solar através de um prisma decompondo-a nas cores do arco-íris. Ele então mediu a temperatura de cada cor e percebeu que ela aumentava do violeta para o vermelho. Além disso, observou que a temperatura mais alta ficava além do vermelho, em uma região onde não havia luz e cor. Estava descoberta, portanto, a radiação infravermelha.

Johann Wilhelm Ritter, por sua vez, verificou que algum tipo de "luz invisível", que se comportava como os raios de luz violeta, interferiam em reações químicas. Ele nomeou essa radiação como "raios químicos". Anos mais tarde esse termo deu lugar a radiação ultravioleta.

Em 1845, Michael Faraday descobriu que a luz respondia a um campo magnético. Em 1860, James Maxwell formulou equações de onda que descreviam os campos elétrico e magnético, e que, de acordo com a teoria, essas ondas viajavam à velocidade da luz. Então, concluiu-se que a luz é uma onda eletromagnética e ela representa apenas uma pequena parte de todo o espectro existente. Havia um universo inteiro escondido além do alcance de nossos olhos.


Nós equacionamos alguns aspectos observados no Universo e isso é suficiente para ficarmos em paz. Algo só passa a existir para nós quando podemos observá-lo. Pelo menos essa é a lógica do método científico. Está errado? Não sei. Como seria um mundo baseado em fatos que não podem ser provados? Provavelmente não haveria verdades absolutas e estaríamos divididos em grupos em função de cada uma delas. Estranho, o mundo é exatamente assim. Ou nossos métodos ainda não encontraram a verdade, ou só queremos ser convencidos de que podemos dormir bem à noite.

Desviando: Chesterton, em seu livro Hereges, diz que a "ciência consegue analisar uma bisteca suína e dizer quanto dela é fósforo e quanto é proteína; mas a ciência não consegue analisar qualquer desejo humano por uma bisteca, e dizer o quanto desse desejo é fome, o quanto é hábito, o quanto é ansiedade e o quanto é um assombroso amor pelo belo. (...) O desejo do homem por uma bisteca permanece literalmente tão místico e etéreo quanto seu desejo pelo Paraíso".

Voltando: De vez em quando eu fico admirado com nossas capacidades. Como podemos ter evoluído intelectual e cientificamente com nossas lógicas? Talvez a pergunta correta seja, temos mesmo avançado? Não há um padrão de comparação para saber se estamos indo rápido ou lento demais, ou onde estamos e onde podemos chegar. Com a falta de uma referência, o que nos impede de exaltarmos um pouco nossas equações? Se você não contar nada para ninguém, eu também não conto.

Algumas coisas são ocultas e fazemos questão de não pensar sobre elas. Torná-las visíveis pode fazer com que nos envolvamos. Responsabilidade é um fardo que não carregamos confortavelmente. É difícil falar em verdade absoluta quando estão em jogo palavras como negligência, cumplicidade e, eventualmente, culpa. (está vendo, "fui forçado" a associar culpa com a palavra eventualmente) Mesmo o escutar nos incomoda. Como eu já disse aqui, tapamos os ouvidos, fechamos os olhos e gritamos: "lah, lah, lah, lah". Assim, os aspectos que não conseguimos equacionar não tiram nossa paz.

Desviando: Já que 05 de Junho foi o dia do Meio Ambiente, mesmo atrasado, eu gostaria de citar a obsolescência programada. A maioria dos aparelhos eletrônicos são feitos com um prazo de validade definido. Vamos focar nos celulares, por exemplo. Sua durabilidade não é dada pelo esgotamento em função do uso, mas porque a economia tem que girar. Eles são feitos para serem substituídos propositadamente após certo tempo. Todo ano são lançadas novas versões. Os aplicativos são descontinuados em aparelhos mais antigos. Isso tem uma consequência para o Meio Ambiente, a produção de lixo eletrônico no mundo alcançou 49 milhões de toneladas e a Universidade das Nações Unidas (UNU) prevê quem em 2017 esse número vai aumentar 33%. Lutamos mesmo em favor do Meio Ambiente, ou resume-se novamente àquela questão de poder dormir bem à noite? A realidade nos é oculta, ou somos nós que não queremos enxergá-la? Talvez o preço a se pagar seja muito elevado. Não dizem que cada um de nós tem seu preço?

Voltando: Há relatos de que, certa vez, alguém veio de um "lugar" diferente. Esse alguém nos apresentou uma realidade invisível aos nossos olhos, tentando nos ajudar, consequentemente, a entender o que podemos ver. Porém, parece que as respostas que nos são dadas não nos satisfazem completamente. Nós precisamos das conclusões que podemos encontrar, as tais das equações. Talvez por isso, pessoas que parecem conhecer alguma verdade absoluta manifestem-se através de parábolas, metáforas e simbolismos.

O que significaria se alguém que não compartilha das mesmas crenças e filosofias que nós, que talvez nem mesmo saiba que existam, conseguisse especificá-las tão bem através de uma mensagem? Consigo pensar em duas possibilidades. Primeiro, ou a mensagem seria incrivelmente genérica, podendo ser usada para explicar qualquer crença ou filosofia. Segundo, ou haveria algum tipo de consciência coletiva prevendo verdades iminentes e inevitáveis.

"Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas dos planetas
Derrubando com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam se tratar
De um outro cometa
Não digo que não me surpreendi
Antes que eu visse, você disse e eu não pude
Acreditar
Mas você pode ter certeza
De que o seu telefone irá tocar
(...)
Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora e vi dois sóis num dia
E a vida que ardia sem explicação"

Enfim, sempre existirão as pessoas que querem dizer e aquelas que não querem acreditar. Inevitavelmente, um dia os telefones de todas irão tocar.

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