"Resultados são resultados. Você não pode simplesmente jogá-los fora porque não atendem suas expectativas."
Momento linear (ou quantidade de movimento) é uma das duas grandezas físicas que prevê a correta relação entre corpos, ou sistemas. A outra grandeza é a energia. Os entes, quando se inter-relacionam, trocam energia e momentum sempre obedecendo à lei de conservação (a somatória de todas as quantidades de movimento, ou de todas as energias, antes e depois do instante de interação são exatamente iguais). O momento linear é uma grandeza vetorial: importa a magnitude, a direção e o sentido. Já a energia, é uma grandeza escalar: importa apenas a magnitude.
Com relação a quantidade de movimento, vamos imaginar, por exemplo, que três bolas de bilhar (Q1, Q2 e Q3, de mesma massa) estejam se movendo conforme a figura abaixo. As setas (vetores) representam graficamente o momento linear de cada uma, em sua magnitude (tamanho da seta), em sua direção (vertical/horizontal) e em seu sentido (cima/baixo/esquerda/direita). Se "somarmos" matematicamente os vetores, obteremos o momentum total do sistema igual a QR.
Assim, a lei da conservação nos diz que, se em determinado instante, essas bolas de bilhar se atingirem, perceberemos que suas trajetórias terão mudado, e suas velocidades também. Porém, se depois do impacto "somarmos" as novas "setas" que terão sido geradas, o resultado ainda será exatamente o mesmo QR.
Bingo! Acabamos de descobrir o princípio no qual se baseiam os jogos de bilhar: brincar com a quantidade de movimento das bolas.
A física nos fornece uma previsão precisa de tudo o que acontece entre corpos e sistemas. Ou seja, sabendo como estão hoje (velocidade, direção e sentido), saberemos como estarão amanhã. Mas há um detalhe que pode ter passado desapercebido, a física oferece resultados "somente". O que quero dizer? No texto "As Leis da Natureza", no livro "Deus no Banco dos Réus", C. S. Lewis disse: "Em toda a história do Universo, as leis da Natureza nunca produziram acontecimento algum." Explico...
Em uma mesa de bilhar, a ciência oferece previsões para o movimento das bolas e suas inter-relações. Ela parte de um estado inicial do conjunto para realizar seu prognóstico, mas nunca trata de motivações, ou intenções. Por exemplo, para uma primeira bola se movendo, a física não se propõe a fazer nenhuma análise do porquê aquela bola teria sido colocada em movimento. E isso não é uma crítica, reitero que a física não se propõe a fazer nenhuma análise sobre "vontade".
Alguém poderia dizer que não é necessário um humano, e seus desejos, para colocar bolas de bilhar em movimento. Poder-se-ia dar o exemplo de uma mesa de bilhar em um navio em alto-mar, cujas bolas se movem devido ao chacoalhar da embarcação. Porém, a armadilha é justamente essa, uma vez que essa linha de raciocínio resultará inevitavelmente em uma singularidade, aquela prevista, mas não mencionada, por C. S. Lewis em sua frase parágrafos acima.
Nós poderíamos retroceder nas relações de causa e efeito, ponto a ponto, minuciosamente, que colocaram uma bola de bilhar em movimento involuntário sobre uma mesa, em um navio em alto-mar: o próprio navio naquele local; as correntes marítimas; o vento; a gravidade da lua e sua posição; a temperatura das águas no oceano; o movimento da Terra; os raios solares e o próprio Sol; a formação do sistema solar e das galáxias; etc. Percorrer esse caminho infinitesimalmente para trás duraria aproximadamente 14 bilhões de anos, chegando ao "ponto zero" do Big-Bang. E é aqui que reside o problema, nós não somos bons em equacionar a vontade, a intenção, a voluntariedade. A nossa fraqueza é o "peteleco inicial".
Desviando: O que a Relatividade Restrita pode nos dizer sobre a existência do tempo e do espaço? Imagine que o gráfico abaixo representa o "tecido" do espaço-tempo. O eixo X (horizontal) representa a parcela relativa ao espaço, e o eixo Y (vertical) representa a parcela relativa ao tempo.
A teoria diz que as setas existentes no gráfico têm tamanho constante, ou seja, que o "movimento" pelo espaço-tempo é constante e igual à velocidade da luz sempre.
Perceba que quando as setas estão em alguma posição diagonal entre os eixos, do tempo e do espaço, significaria dizer que nós temos parte do "movimento" total no espaço (a sombra da seta no eixo horizontal) e parte do "movimento" total no tempo (a sombra da seta no eixo vertical).
Agora, imagine que nosso "movimento" (nossa seta) esteja totalmente sobre o eixo do espaço, ou seja, que estejamos nos movendo pelo espaço à velocidade da luz (não há sombra de nossa seta no eixo do tempo). Isso significa dizer que nosso tempo está parado com relação ao tempo de quem está "de fora". Nessa condição, nós veríamos tudo acontecer ao nosso redor em um piscar de olhos. Seria como se toda a existência do Universo, de seu início ao seu fim, fosse em um único instante. Aliás, do ponto de vista de um fóton, que se move no espaço à velocidade da luz, de uma estrela qualquer até nossos olhos, sua viagem de 14 bilhões de anos acontece instantaneamente. Mais precisamente, zero diferença de tempo entre um ponto e outro, para ele.
Finalmente, imagine que nosso "movimento" (nossa seta) esteja totalmente sobre o eixo do tempo, ou seja, que estejamos nos "movendo" pelo tempo à velocidade da luz. Isso significa dizer que não haveria nada ao nosso redor (não há sombra de nossa seta no eixo do espaço). Nem mesmo perceberíamos um espaço, estaríamos resumidos apenas ao tempo.
Uma consequência da Relatividade Restrita é o fato de que toda e qualquer percepção depende da referência. Por causa de seus resultados, não seria ilógico dizer que o Universo é eternamente nada, ou que ele foi criado já cheio de tudo.
Voltando: Nós somos uma faísca que escapa do riscar de um fósforo. Somos uma pequena língua de fogo que foge para o ar e logo se apaga, quando alguém sopra a chama de uma vela. Somos a centelha de um motor à combustão dando partida. Somos o apertar de um botão de iniciar, que logo volta à sua posição original. Nós somos o sinal elétrico de um neurônio cerebral. Somos uma gota de lágrima que se espalha com um piscar de olhos. Uma bolha de sabão soprada através do brinquedo de uma criança, e que não resiste ao sol. Nós somos o pronunciar de uma única palavra. Somos um instante de uma imaginação, de uma ideia, de um vislumbre, de uma vontade primordial, que talvez nem se quer tenha se concretizado. (também já falei aqui sobre o Logos)
Nós não somos nada e somos tudo. Como já foi dito aqui, quando não há nada além da fronteira, o tudo tem o tamanho que desejarmos. Mesmo pequeno, ele pode parecer infinitamente grande. Mesmo infinitamente grande, ele pode ser quase nada. A nossa existência nunca esteve relacionada a tamanhos e quantidades, mas sempre e tão somente a uma vontade.