"Culpamos as pessoas das quais não gostamos pelas gentilezas que nos demonstram."
"Não são o corpo rígido e a luz conversíveis um em outro, e não podem os corpos receberem muito de sua atividade de partículas de luz que entram em sua composição?"
Isaac Newton - Optics 1704, Livro Três, Parte 1 Qu.30.
Sobre esse tema, alguns pesquisadores atribuem a Olinto de Pretto a elaboração da seguinte fórmula, E=mc2. Onde E é energia, m é massa e c é a velocidade da luz. Essa equação representa nosso conhecimento atual sobre a equivalência massa-energia. E Pretto a teria publicado em 1903. Porém, a dedução mais exata para o conceito foi feita por Henri Poincaré e Albert Einstein, por volta de 1905.
Então, não é que Einstein teria formulado aquela expressão matemática, mas em seu artigo "A Inércia de Um Corpo Depende De Sua Energia?", publicado em um dos mais antigos e conhecidos periódicos alemães sobre física (Annalen der Physik), ele disse que é a diferença da massa, antes e depois do gasto de energia, que é igual a E/c2.
Enfim, devemos perceber que a expressão E=mc2 permite transformar uma quantidade de massa em energia, e vice-versa, proporcionalmente a um fator extremamente grande, a velocidade da luz multiplicada por ela mesma.
Existem aplicações práticas para essa relação. Uma delas é que, se conseguirmos transformar átomos mais pesados em átomos mais leves, será possível liberar uma quantidade de energia suficientemente grande para abastecer a rede elétrica de várias cidades, após algumas conversões térmicas intermediárias. Esse é o princípio das centrais nucleares.
Outra aplicação – precisamente a que nos interessa hoje – é que se fizermos essa redução de massa acontecer sem muito controle no centro de um aglomerado populacional, a energia liberada pode dizimar dezenas, centenas, milhares de pessoas. Sim, estamos falando de uma bomba nuclear, ou mais especificamente de uma bomba de fissão nuclear.
Os números são impressionantes. A velocidade da luz é 299.792.458 metros por segundo. Se multiplicarmos esse valor por ele mesmo e, então, multiplicarmos por um único grama, teremos uma quantidade de energia equivalente 21.481 toneladas de dinamite. Essa comparação com toneladas de TNT já é incrível por si só, mas vamos considerar outra. Minha casa consome 150 kWh de energia por mês, em média. A variação daquele único grama de matéria atômica seria suficiente para abastecer minha residência por 13.870 anos.
Uma das bombas nucleares lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Grande Guerra, causou uma explosão equivalente a 16.000 toneladas de TNT – como vimos anteriormente, uma variação de massa menor que um grama – e com uma eficiência de consumo de massa nuclear de apenas dois porcento. O raio da devastação foi de quase dois quilômetros, enquanto incêndios se espalharam por outros onze quilômetros quadrados. Ao todo, setenta mil pessoas morreram e outras setenta mil ficaram feridas, com uma única bomba.
Desviando: A fusão nuclear é outra reação também bem energética. De fato, ela consome muita energia para iniciar, mas libera ainda mais como resultado final. Esse é o processo que ocorre no Sol, por exemplo. Ele está fundindo átomos de hidrogênio há aproximadamente cinco bilhões de anos e está só na metade de sua existência. Mesmo sem calcular toda a energia, mas apenas sabendo o tempo que ele "queimou" e "queimará", conseguimos imaginar quão grande é a massa que ele possui. E quer saber outra curiosidade? Foi essa mesma massa que serviu como um "palito de fósforo para acender a boca do fogão". A atração entre as partículas, por causa da gravidade, foi compactando tanto cada uma delas – quanto mais compactado, maior a "força" de compactação – que em algum momento o calor gerado foi suficiente para fundir os primeiros átomos de hidrogênio. A partir daí seguiu-se o equilíbrio infernal. O "fogo" tentando afastar as partículas umas das outras, mas a gravidade tentando uni-las. Por isso, o Sol fica lá "parado", como uma esfera perfeita, sem se expandir ou colapsar, "queimando" pacientemente.
Voltando: Não fosse pela Física, nunca existiria a bomba atômica. E olhando para todo o poder aniquilador da explosão, eu concluo que a Ciência é uma ferramenta que deveria ser abandonada. O conhecimento científico destrói. Ele é capaz de dizimar nosso planeta, ou nos eliminar da face da Terra. Ele é uma ameaça à liberdade, à livre expressão. Ele é usado para promover divisão social e monetária. Ele exacerba as diferenças, ao invés de permitir que convivam pacificamente em aceitação mútua. Ele é o rugido do mais forte. A Ciência é um instrumento de dominação das massas pelo medo. Infelizmente, a Ciência mata.
Calma... Eu sei, eu sei. De onde eu tirei toda a insanidade do último parágrafo? Sim, a Ciência ou conhecimento cientifico não têm nenhuma responsabilidade em si mesmos. Obviamente, o problema é o homem, que pode usar um martelo para construir uma casa, ou para quebrar o crânio de outro homem. O problema é sempre o homem. E isso fica muito claro ao ler o parágrafo anterior. As palavras lá nos compelem em querer ir além da conclusão simplista e igualmente equivocada. Algo fica muito desconfortável dentro de cada um de nós com todas aquelas afirmações. Gera uma inquietação que nos constrange em querer rebater cada imprecisão citada, em querer expressar toda a nossa discórdia contra cada uma daquelas ideias. Quase não podemos nos conter. E com razão, muita razão.
Carl Sagan resumiu bem o engano daquelas palavras: "E se o mundo não corresponde em todos os aspectos a nossos desejos é culpa da Ciência ou dos que querem impor seus desejos ao mundo?"
Porém, nós não sentimos o mesmo inexprimível e óbvio incomodo ao ouvir afirmações do tipo, "o futebol mata", "a política corrompe", "a religião arrebanha as massas", "o dinheiro domina". Não seria justo também aplicar o aforismo de Carl Sagan a todos os demais arranjos que criamos, que só existem porque existimos? Por que nos satisfazemos tanto em concluir um raciocínio lógico, ou uma análise sociológica ou filosófica, no ponto em que culpamos o futebol, a política, a religião e o dinheiro? Por que, para alguns sistemas específicos, tomando o homem como vítima deles quando é justamente o contrário, a condenação dos mesmos denota profundidade intelectual de quem executa o juízo, ao invés de promover o mesmo sentimento de reprimenda de parágrafos atrás?
Sinto muito, não tenho uma resposta a oferecer. Só sei que é assim. Equivocadamente assim. Quem sabe Nietzsche estivesse certo. Parafraseando-o, preferimos direcionar a culpa às estruturas que evidenciam a nossa barbárie justamente pela gentileza que fazem de sinceramente revelar a nossa monstruosidade.
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