"Nenhum vencedor acredita no acaso."
Alfred Nobel foi químico,
engenheiro e inventor. Nasceu em 1833, na Suécia. Ele adquiriu uma indústria siderúrgica
que, em suas mãos, tornou-se uma grande fabricante de armas. Inventou a balistita, um precursor de
explosivos militares que não geram fumaça. Sua invenção mais famosa foi a
dinamite. Durante a vida, acumulou fortuna e contribuiu com mais de 355
invenções, sendo a maioria delas destinadas ao setor bélico.
Em 1888 seu irmão Ludvig Nobel faleceu. Um jornal francês publicou o
obituário "O mercador da morte morreu"
considerando, por equívoco, que fosse Alfred quem tivesse morrido (sua morte
ocorreria de fato oito anos depois). Diz-se que ao ler o "próprio" obituário,
Alfred Nobel ficou estarrecido ao perceber a forma como seria lembrado (o tal
do legado) e decidiu "mudar de vida". Então, ele assinou um testamento para que a
maior parte de seus ativos fossem dedicados a uma série de premiações, nas
áreas da física, química, medicina, literatura e paz, àqueles que realizassem
benefícios à humanidade.
Desviando: Eu coloquei a expressão "mudar de vida" entre aspas, pois
mudar, mudar mesmo, Alfred Nobel não mudou. Ele continuou com suas empresas e
invenções rendendo lucros em benefício próprio até sua morte. O que ele fez foi "recompensar" a situação após sua morte.
E quer saber? Eu não o julgo, pois seria muito impiedoso de minha parte.
Porém, preocupam-me os impetuosos juízos que ele pode sofrer, considerando a forma como a "grande massa" costuma
condenar pessoas que fizeram um bocado de coisas erradas, principalmente depois
que elas decidem mudar de vida. Você nunca ouviu falar: "ah, fez besteira a vida toda, agora quer vir dar uma de santo; é um santinho do pau-oco"? Ou será que com
Alfred o peso e a medida da "grande massa" são diferentes?
Enfim, agora fiquei em dúvida sobre nossa capacidade de julgamento.
Talvez não sejamos tão imparciais quanto acreditamos que somos. Ou talvez não sejamos
tão misericordiosos. Ou talvez não sejamos as duas coisas.
Voltando: Para tomar conta da fortuna e organizar a premiação, foi
criada a Fundação Nobel. Então, em 1901 os prêmios foram concedidos pela primeira vez. E assim
surgiu o Prêmio Nobel.
Pensei a respeito do Prêmio Nobel, e de quanto eu não sabia sobre sua
origem, enquanto eu lia "Breves respostas para grandes questões" de Stephen Hawking. No livro, o
brilhante cientista relatou que nunca fora premiado, apesar de seus grandes
esforços no campo da Física e de suas incríveis descobertas a respeito de
buracos negros e sobre o início e o formato do tempo.
Como, estranhamente, um assunto puxa outro, desta vez foi pensando em
Hawking que lembrei-me de um de seus assistentes, Leonard Mlodinow. Uma das obras de
Leonard foi "O andar do bêbado", onde ele discorre muito sobre estatística e sobre
a maneira como o acaso rege a nossa realidade. No livro, o autor consegue nos
mostrar de um modo irreverente, e acredito que irrefutável (o que talvez não seja
bom), que as nossas vidas se parecem mais com o lançamento de dados do que com
o montar de um prato em um restaurante do tipo "sirva a si mesmo".
Eu vou tentar usar um dos exemplos de Leonard. Pense no melhor jogador
de futebol de todos os tempos (eu vou tomar a liberdade de chamá-lo de Pelé). A
questão proposta no livro é, Pelé teria sido um ótimo jogador de futebol devido
a própria competência, ou ele teria sido o resultado do acaso? Bem, sabendo que
Pelé precisou treinar muito para se tornar o rei do futebol, inevitavelmente
concluiríamos que seu talento não foi mero acaso. Porém, Leonard não se dá por
satisfeito e levanta outra questão, o Pelé não seria apenas a concretização da
probabilidade do surgimento de uma pessoa muito esforçada para o futebol? Estatisticamente,
era inevitável que um dia surgisse alguém que se esforçasse mais do que os mais
esforçados, quis o acaso que ele se chamasse Pelé. Em outras palavras, o
talento do Pelé até pode ter sido resultado de muito esforço, mas o fato de ter
sido ele quem se esforçou seria, literalmente, por acaso. E isso gera um
problema, pois torna os méritos questionáveis.
Foi pensando nisso, e agora retrocedendo pelo meu fio associativo, que lembrei-me
novamente de Stephen Hawking. Desta vez, recordei especificamente uma de
suas hipóteses para o surgimento do nosso universo. Ele disse que,
estatisticamente, existem infinitas possibilidades de universos e que
prevaleceu aquela com condições favoráveis a existência de seres capazes de elaborarem
questões a respeito do mesmo universo. Nas minhas palavras, segundo Hawking,
nosso universo é o número seis sorteado em um dado, quando precisamos
exatamente do seis para vencer o jogo e sob a premissa de que podemos lançar o
dado quantas vezes desejarmos.
Sendo assim, finalmente encerrando meu caminho no ponto onde comecei, eu
não consegui deixar de imaginar uma possível oração a ser feita por um
matemático sério que venha a ser contemplado com o Prêmio Nobel: "Deus, por favor, exista e seja o criador do
Universo, para que eu de fato tenha sido premiado, mas não apenas sorteado".
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