"É impressão minha, ou o mundo está ficando mais louco?"
Eu acredito ter uma limitação, mas não sei dizer bem qual é. Não sei se
sou simplista demais, ou ingênuo, se sou inconformado, ou muito crítico. Quem
sabe seja apenas um raciocínio infantilizado de minha parte. É, pode ser isso,
infantilidade.
Deixe-me fazer uma introdução com esse exemplo que ocorreu na
Espanha. A reflexão gira em torno de uma pergunta de prova e a respectiva
resposta dada por uma criança. No teste, o professor solicitou: "Escreva com
cifras os seguintes números". Abaixo, à esquerda, você pode encontrar os números
por extenso e, à direita, as respostas da criança.
Dez: 11
Noventa e oito: 99
Oitenta e um: 82
Sessenta e seis: 67
Trinta: 31
Perceba na foto original que todas as respostas foram consideradas como
incorretas. Porém, foi o aluno quem não entendeu a questão, ou foi o professor
quem não entendeu a resposta? Entendo que a palavra "seguinte" no enunciado tornou
ambígua a questão do professor e a simplicidade de uma criança percebeu isso.
Minha impressão é que, à medida que nos tornamos mais velhos, fazemos julgamentos
priorizando as experiências vividas. Tendemos a pensar menos criativamente e
mais comparativamente. O aluno da questão acima tentou entender o que o
professor escreveu. Eu, como já fiz centenas de testes como esse, quase nem
precisei do enunciado para saber o que deveria ser feito. É por isso que as
perguntas que as crianças nos fazem são tão inteligentes e difíceis de
responder, pois nossos juízos não se baseiam mais em pensar em conceitos, mas
em encaixá-los em algum padrão. Para nós, os adultos, as coisas não precisam
ser necessariamente explicadas, elas precisam apenas ter um nome (e quanto mais
glamoroso o nome, melhor). As crianças ainda precisam que os rótulos sejam
explicados, pois faltam-lhes experiências.
Penso que é esse tipo de raciocínio infantil que me faz achar o mundo
tão maluco. Sou ciente que estou muito aquém de uma criança, mas o pouco que eu
ainda não amadureci me faz sentir a necessidade de escrever todo esse desabafo
(sim, meus textos são mais úteis a mim do que a você, se é que são úteis a você).
Enfim, ao passo que o mundo me parece cada vez mais louco, menos eu sei lidar
com ele. Isso acontece o tempo todo, mas vou dar apenas um exemplo.
Há aproximadamente um mês, eu vi uma manchete em um website que dizia, "para influenciadora, funk é machista porque reflete a sociedade". Essa afirmação
estimulou uma discussão em minha mente. Considerando que a cultura e a arte são
sim uma forma de expressão da sociedade, as perguntas que faço são: O funk reflete a sociedade inteira ou
apenas parte dela? Se o público que consome funk
representar 30% da sociedade e o público que consome algum gênero musical
romântico representar 40%, a sociedade deve ser definida como machista, ou como
romântica? Entendo que faltam dados estatísticos para tirar essa conclusão. E
por fim, quando a influenciadora usou a palavra "sociedade", ela incluía
mulheres, ou ela se referia apenas à parcela masculina?
Calma, não se deixe enganar por essa discussão, todas essas minhas
perguntas não são ainda o ponto onde quero chegar. O mundo não é louco por
causa disso. A maluquice vem agora.
Uma influenciadora se deu ao trabalho de levantar um ótimo debate sobre
machismo e sobre funk. Eu li a
manchete e comecei a divagar sobre o assunto, enquanto continuava rolando o
cursor do mouse, descendo para as
próximas notícias do website. Então,
toda a reflexão perdeu instantaneamente o valor, pois uma segunda manchete me
mostrou que a mesma sociedade, que está com a temática sobre machismo em alta, também
está achando "bonito" mulheres darem amor e sexo em troca de bens materiais. Veja
a figura abaixo e você vai entender. Essa foto não foi montada. As duas
manchetes apareceram nessa mesma ordem, no mesmo website, no mesmo dia.
Desviando: Para quem não sabe o que significa Sugar Baby, segue a definição
que eu encontrei no Wikipédia: Sugar
dating é expressão da língua inglesa para relacionamentos românticos. Refere-se
à relação entre duas pessoas de idades distintas, nas quais uma das partes é
sustentada por dinheiro, presentes ou outros benefícios em troca da relação
amorosa. Nesse tipo de relacionamento, sugar baby é aquela pessoa que recebe os
agrados financeiros, enquanto que seu parceiro é referido como sugar daddy.
Voltando: É isso, foi exatamente aqui que eu fiquei confuso. Pense
comigo, letras de funk que tratam
mulheres como objeto é machismo, mulheres que decidem dar seu carinho e corpo
em troca de bens materiais são independentes e modernas (aqui você precisa entender
que também estou fazendo referência a outras reportagens, que trazem esse enfoque
de independência e modernidade à prática Sugar
Baby, como essa).
Enfim, guardadas as devidas proporções entre a inteligência criativa de
uma criança e a minha limitada apenas a comparações, eu gostaria de ousar fazer
uma pergunta infantil. Se um homem falar a uma mulher que acha que ela está desvalorizando
a si mesma ou a todo o seu grupo, ele estará sendo machista, ou feminista?
Dando um exemplo prático, se um homem criticar a prática Sugar Baby, ele estará sendo machista ou feminista? E não, não são
perguntas retóricas ou irônicas, elas são sinceras.
Em um mundo estranho como o nosso, eu já não sei mais qual ideia devo
apoiar, ou com quem devo concordar. Alguém já me aconselhou, "para manter sua
mente saudável, faça-se de louco".
"O palhaço não sou eu,
mas sim esta sociedade monstruosamente cínica e tão ingenuamente inconsciente
que joga ao jogo da seriedade para melhor esconder a loucura."
Ah, você ainda quer saber... Sim, eu acho que nossa sociedade é machista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário