quarta-feira, 29 de maio de 2019

Ser E Não Ser, Eis a Afirmação

"Acho que me perdi numa excursão que fiz na tua certeza e na contradição."


Um paradoxo é uma afirmação verdadeira que contraria a lógica, ou que resulta em uma situação contrária a intuição comum. Segundo o dicionário do Google, um paradoxo é um "pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião comum, a crença ordinária e compartilhada pela maioria."

Os paradoxos tem sua importância na medida em que são reveladores, pois quebram paradigmas, trazem à luz conceitos contrários ao que até então está estabelecido como senso comum. Destaque para o rompimento com o senso comum.

Existem paradoxos simples, que soam como uma brincadeira. Por exemplo, "toda regra tem sua exceção". Basta nos perguntarmos se essa afirmação é uma regra para que ela contrarie a si mesma.

Outro exemplo simples é uma citação de Luís Fernando Veríssimo: "se você tentou falhar e conseguiu, você descobriu o que é paradoxo."

Há ainda o que chamamos de paradoxos morais: "Se você tivesse uma máquina do tempo, você voltaria ao passado para matar Hitler antes de sua ascensão? Se sim, o que faria com as famílias que foram formadas e as pessoas que nasceram como resultado da Grande Guerra?"

Também existem paradoxos do tipo filosóficos. Na obra de Dom Quixote, o paradoxo da forca foi apresentado por Miguel de Cervantes. "Qualquer pessoa que cruzasse determinada ponte, seria indagada sobre quais seriam suas motivações em atravessar para o outro lado do rio. Se fosse sincera com a resposta, seguiria em frente. Porém, se mentisse, seria enforcada. Um homem, ao cruzar a ponte e ser questionado sobre o que faria do outro lado, respondeu, 'vou ser enforcado'." Neste exemplo, o paradoxo consiste no fato de que se o homem fosse enforcado, teria sido sincero, portanto, não era merecedor da morte. Se ele não fosse enforcado, teria mentido, portanto, era merecedor da morte. O fiel escudeiro de Dom Quixote, o senhor Sancho Pança, não conseguiu resolver o paradoxo, mas apresentou a seguinte ideia, "quando há justiça igual nos dois lados, é melhor agir com piedade."

Por outro lado, segundo o mesmo dicionário do Google e diferente de um paradoxo, uma contradição pode ter a seguinte definição: "dito, procedimento ou atitude oposta ao que se dissera ou adotara anteriormente." Ou seja, uma contradição não é um rompimento com o senso comum, mas sim uma incoerência consigo mesmo.

Desviando: Lembrei-me daquele caso de três irmãos que planejaram uma viagem para outro país. Com medo de se envolverem em um acidente aéreo e todos morrerem, eliminando qualquer possibilidade de perpetuação da família, eles resolveram viajar em aviões diferentes. Porém, como seguiram o trajeto para o aeroporto? Todos os três no mesmo taxi.

Voltando: Diferente do paradoxo, uma contradição não tem o que ensinar. Porém, ela pode ter muito o que revelar e, obviamente, revela sobre os seres que mais nos interessam neste blog, nós.

Deixe-me listar as poucas contradições das quais consigo me lembrar neste momento e que, obviamente, tem me intrigado. Adianto que não estou preocupado em defender uma ideia em detrimento de outra, apesar de ter minha opinião em cada caso. Minha indagação é, por enquanto, qual posicionamento queremos tomar? Se é que desejamos mesmo fazer uma escolha. Pois entendo, deixar as possibilidades em aberto pode ser conveniente. Enfim...

Desviando: Peço perdão, pois não busquei referência para todos os exemplos, mas tenho certeza que você é uma pessoa muito bem informada e tem as próprias referências para cada caso. Ou pelo menos tem acesso ao Google.

Voltando: Lutamos pela liberdade de expressão, na mesma medida que lutamos por restringir a liberdade aos limites do politicamente correto.



Novos tipos de casais querem provar que seu amor é sublime, por isso lutam pelo direito de assinar alguns papéis para que sua união seja reconhecida pela sociedade. Casais do tipo tradicional querem provar que seu amor é sublime, por isso lutam pelo direito de se manterem unidos sem precisar assinar papeis, pois a sociedade não tem nada a ver com isso.

Mudamos a legislação para abolir um produto que mata tartarugas marinhas. Queremos mudar a legislação pelo direito de matar humanos. Perdão mais uma vez, nesse caso sinto-me compelido em expor minha opinião: concordo, é mais fácil defender a vida de quem não precisa de mim para cuidar de si mesmo.

Finalmente, o último exemplo de contradição, que ficou para o final apenas porque é mais recente. Um goleiro virou motivo de chacota porque recebeu uma premiação irônica, de uma emissora de TV, devido seu mau desempenho. Obviamente e coerentemente, muitos vieram em sua defesa e os responsáveis pediram desculpas por promoverem a brincadeira de mau gosto. Um portal de internet entrou na discussão também, em defesa do goleiro:


Repare na frase, "na zoeira sem limites, mídia tradicional precisa ser o filtro."

Então, três manchetes abaixo, o mesmo portal de internet publica a seguinte matéria:


Não vou tentar descrever a sensação que tive, pois, às vezes, nossa forma de comunicação não é eficiente para expressar tudo o que sentimos. Mas fico descansado, pois sei que consegui passar a mensagem. Eu tenho certeza que você teve a mesma sensação desconfortável que eu a respeito desse portal de internet. Não é à toa que dizem que uma imagem vale mais que mil palavras.

Ah sim, posso estar cometendo um tremendo equívoco. Talvez tudo se resolva se estabelecermos que portais de comunicação consagrados na internet ainda não sejam considerados mídias tradicionais.

Enfim, com todas as nossas contradições, volta à minha mente a ideia de que não queremos buscar pela verdade absoluta, mas ansiamos por verdades convenientes. Tudo bem, sei que não escolher é em si uma escolha. Se é isso o que queremos, então que seja. Lembremo-nos ao menos que, apesar de as verdades nos darem a liberdade de serem convenientes, as consequências não nos darão a mesma chance. Sobre as verdades nós temos o controle, mas sobre os resultados não. Sim, fiquei em dúvida se essa última afirmação foi um paradoxo ou uma contradição.

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