"Um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta para casa para encontrá-lo."
O Universo originou-se no Big Bang e desde então vem se
expandindo. Porém, essa expansão não é tão intuitiva
como parece ser. Ela não refere-se a objetos espalhando-se pelo vazio, mas sim ao
vazio sendo "esticado" (na falta de uma palavra melhor). O próprio surgimento
do Universo nos dá algumas pistas. Antes que ele viesse a existir, não é que havia
um vazio a ser ocupado, o fato é que nem mesmo o vazio existia, não havia nada,
seja lá qual for o conceito correto para o nada.
Desviando: Lembrei-me de um amigo que, enquanto ensinava-me programação,
sempre dizia, "vazio é diferente de nulo". Tenho a sensação de que quando
desenvolvemos a programação para informática encontramos alguns vestígios sobre
os segredos do Universo. Já falei disso aqui.
Voltando: Vamos usar um pouco de matemática para entender melhor. Com o Sistema de Coordenadas Cartesianas, desenvolvido por René Descartes, é possível, por exemplo, definir dois pontos quaisquer em um plano e
obter a distância entre eles. No plano abaixo, tome os dois pontos A e B, cujas
coordenadas são (1,1) e (5,4), respectivamente. A distância entre eles pode ser
calculada e é igual a 5. Para aumentarmos o espaço entre estes dois pontos, as
coordenadas não podem continuar sendo (1,1) e (5,4) dentro do plano, elas
precisam ser necessariamente alteradas.
Não é isso o que ocorre na expansão do Universo. A distância entre os
pontos A e B está aumentando, mas as coordenadas continuam sempre as mesmas (a natureza do espaço-tempo é não-euclidiana).
Para tentar ficar mais claro (engraçado, falo isso como se eu estivesse
entendendo), vamos usar outro exemplo, mesmo que não represente precisamente a
realidade. Pegue um elástico de amarrar dinheiro e use uma caneta para marcar
dois pontos distantes entre si sobre a borracha. Ao esticar o elástico, você
estará aumentando a distância entre as duas marcas, mas cada uma delas ainda
continuará sobre o mesmo ponto do elástico. As marcas não terão se movido com
relação a borracha, mas será o elástico quem terá se expandido.
O movimento das galáxias não está relacionado exclusivamente a energia cinética (energia associada a qualquer corpo em movimento), mas está também, e
principalmente, relacionada a quantidade de espaço que é "criado" (ou expandido)
entre elas. A teoria clássica explica a autoestrada parada e o carro movendo-se
sobre ela. A teoria da expansão do Universo conta que o automóvel sempre fica
parado e é a rodovia que cresce entre ele e o local de origem.
Se voltarmos ao exemplo do elástico de borracha, há uma implicação
importante a ser considerada. A borracha romperá, se continuar sendo esticada.
Não diferente, para o Universo existe a teoria do Big Rip. Ela diz que, em determinado momento, a velocidade de expansão chegará
a um ponto critico. Nesta situação, não somente as galáxias estarão se
afastando uma das outras, mas a matéria começará a desagregar-se também. Os
átomos passarão a se distanciar uns dos outros de tal forma que não haverá mais
nenhum tipo de coesão gravitacional, ou mesmo energia. Será então a morte do
tempo. Isso mesmo, "fim", "the end", "c'est fini". Pensei agora, isso seria o nada
novamente? De qualquer forma, pode ficar tranquilo, os autores desta teoria,
entre eles Robert Caldwell, calcularam que isso
só deve ocorrer daqui 21 bilhões de anos.
Aliás, recentemente, o matemático brasileiro Marcelo Disconzi apresentou
a solução para a equação de Lichnerowicz. Equação esta que
foi criada com o objetivo de descrever o comportamento de fluidos viscosos
viajando a velocidades próximas a da luz. Após o seminário de apresentação na Universidade
de Vanderbilt, no Tennessee, Estados Unidos, os professores de física Thomas
Kephart e Robert Scherrer convidaram o brasileiro para juntos aplicarem a
solução encontrada à cosmologia. Então comprovaram que o cenário do Big Rip é
realmente possível. Se desejar, você pode conferir mais detalhes sobre o
trabalho do brasileiro aqui.
Desviando: Certo texto diz que nós, seres humanos, nunca nos saciamos durante
busca por respostas, mesmo que não sejamos capazes de descrevê-las. Diz também
que, associado a isso, tudo se repete. Mais precisamente:
"Todas
as coisas trazem canseira. O homem não é capaz de descrevê-las; os olhos nunca
se saciam de ver, nem os ouvidos de ouvir.
O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará
novamente; não há nada novo debaixo do sol."
Eclesiastes 1:4-11
Voltando: Chega a ser constrangedor, mas às vezes meus neurônios "fritam" tentando entender algumas ideias, tentando encontrar-me na realidade em que
vivo. Eventualmente chego a alguma conclusão, mas não consigo expressar-me e
sinto-me como naquela situação, quando queremos nos lembrar de uma palavra, mas
ela não escapa da ponta da língua. Frequentemente, após nadar muito contra a
maré, descubro que a ideia não é um sentimento particular, tampouco novo.
Absolutamente sempre, pelo menos um alguém, seja lá de que época for, já conseguiu expressar parte das ideias. Como
quem conta com um amigo para lembrar da palavra, se não satisfeito, fico mais
aliviado.
"E
agora você está tentando explicar
Coisas
que não precisam de explicação
(...)
Agora
acabou
Agora
que você é mais velho,
Você
está sonhando com a luz do sol da sua juventude?
Você
sabe que é inútil olhar para trás
Não
há redenção lá para você
(...)
Enquanto
você estava procurando algo
Todos
os seus amigos se estabeleceram
Tem
sido assim para sempre
E você só notou agora?"
Foi sempre assim, mas não significa que deveria ter sido. Acho muito
difícil olhar ao meu redor e não questionar-me a respeito do Universo, sobre o
que havia antes e o que haverá depois. Esse tipo de pergunta, ainda que não possa
ser respondida (não pode?), encolhe demais a minha realidade, faz com que, por
exemplo, até uma simples garoa e todo o processo que culmina com as gotas caindo do céu deixem
de ser triviais. Afinal de contas, por que seria tão natural e esperado que a
chuva ocorresse no Universo? Seria porque ela ocorre na Terra? Pensar assim não
é limitar o Universo por baixo, mais especificamente por um único planeta? Já
falei aqui
que, se Alice tivesse nascido no País das Maravilhas, ela não se admiraria com
nada.
Enfim, que tipo de realidade pode haver além daquela que queremos
enxergar? O que podemos estar perdendo? Como vou escolher viver os dias que me
restam? Eu estou disposto a tirar a cabeça de dentro da caixa? Já falei um
pouco sobre coragem aqui e aqui. Confesso, é bem
possível que eu esteja apenas preocupado demais com questões irrelevantes. Quem
sabe minhas dúvidas sejam só tolices e expliquem os risos de alguns leitores sugerindo
ingenuidade no que leram. Não me admiraria se eu realmente me descobrisse
imaturo. Porém, neste caso, o que seria relevante então?
"Nós
construiríamos um foguete
E
então voaríamos para bem longe
Costumávamos
sonhar com o espaço sideral
Mas
agora eles estão rindo na nossa cara
Dizendo:
acorde, você precisa ganhar dinheiro
(...)
Gostaria
que pudéssemos voltar no tempo
Para
os bons velhos tempos
(...)
Mas agora estamos estressados"
Você já parou para pensar que, considerando a velocidade de expansão do Universo
e o aumento da distância entre galáxias e planetas, o ponto exato onde você
nasceu está muito, muito longe? Cada dia que passa ficamos cada vez mais
distante de casa. Qual será o nosso destino final? Onde repousaremos as nossas
mentes, as nossas aflições, os nossos medos? Onde encontraremos um padrão
diferente, mas aconchegantemente familiar e diremos, enfim, "lar doce lar"?
Abraço: Ao FOS, que abriu minha mente para o fato de que vazio não é
igual a nulo.
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