"Não sou eu quem está
confuso. Você nem mesmo sabe quem você é."
Leonard Mlodinow disse em seu livro "O Andar do Bêbado" que, se não acreditasse em aleatoriedade, agradeceria
a Hitler pela própria
existência. O exército alemão matou a esposa de seu pai e seus dois filhos,
apagando a vida anterior que tivera. Portanto, foi por causa da Segunda Guerra Mundial que o pai de Leonard mudou-se para Nova York, conheceu a sua mãe,
também refugiada, e tiveram três novos filhos, entre eles o próprio Leonard.
No livro "O Dilema De Einstein" de Jeremy Stangroom, o seguinte dilema
moral é proposto, "Lamentamos mesmo que Hitler tenha existido?". Ele propõe a
seguinte questão, se tivéssemos a capacidade de viajar no tempo, deveríamos
voltar ao passado e matar Hitler antes que ele se tornasse o que se tornou?
Assim como mencionei sobre Leonard, quantos milhares ou milhões de pessoas não
teriam nascido caso a grande guerra não tivesse acontecido?
Estas questões giram em torno de um paradoxo, a obrigação moral de
lamentar um grande mal sem uma exigência moral de lamentar a própria
existência. Em outras palavras, se não há uma exigência moral que obrigue o
sacrifício da própria vida para impedir determinado mal, então também não se
pode exigir que se lamente a ocorrência do mesmo mal, caso a única maneira de
impedi-lo seja à custa da própria existência. Talvez, o máximo que se possa
fazer seja oferecer os pêsames pelo mal ocorrido, junto com a sinceridade de que
se a própria existência pudesse ter acontecido em circunstâncias diferentes,
assim o preferisse.
Mas não vamos dar o assunto por encerrado, pois essa foi apenas a
introdução. Extrapolando a discussão, um leão em busca de alimento, caçando uma
zebra, é mau? E os seres humanos, criando quantidades "astronômicas" de gado ao
longo dos anos para se alimentarem, são malvados?
É fato que só foi possível alcançar a atual quantidade de pessoas no mundo porque "evoluímos" os métodos de produção de
alimento, seja a pecuária ou seja a agricultura (isso, estou falando dos
agroquímicos também), sem falar da medicina (os testes laboratoriais com animais).
Talvez você só exista porque algumas dezenas de animais foram mortos, centenas
de árvores foram derrubadas e milhares de animais perderam suas "casas". Ou pior,
talvez você só continue existindo, pois essas coisas ainda continuam
acontecendo. Você, eu e todo mundo somos os responsáveis por tudo o que está
acontecendo ao Meio Ambiente.
Então, até que ponto estamos mesmo preocupados com os "animaizinhos", a
natureza e a sustentabilidade? O que estamos dispostos a dar em prol de nossas
ideologias? Talvez conseguíssemos resolver todos os problemas do planeta
eficazmente se metade, ou quem sabe dois terços da
população mundial "enfiasse uma bala" no meio da própria cabeça. Quem se prontifica? Calma, muita
calma nessa hora. Nós estamos falando apenas hipoteticamente. Estamos apenas
querendo colocar nossas ideologias à prova para pensarmos sobre elas.
Já soube de "crentes" que chamaram Jesus de Genésio, quando seus ideais
foram testados. Não se engane, já soube de ateus que chamaram Genésio de Jesus
quando o "chão lhes faltou". Já vi "machões" chorarem como crianças quando foram
pegos. Já vi feministas que dariam tudo por um pouco de músculos à sua
disposição quando precisaram. Já vi intelectuais gaguejarem e "grosseirões" andando
sobre as pontas dos pés, quando a autoconfiança foi colocada à prova.
Desviando: "Oh, eu não sei se eram os antigos que diziam
Em
seus papiros Papillon já me dizia
Que
nas torturas toda carne se trai
Que
normalmente, comumente, fatalmente, felizmente
Displicentemente
o nervo se contrai
Oh,
com precisão"
Voltando: Por que você não
testa suas ideologias, seus ideais e sua fé? Questione a sua autoconfiança.
Porém, se estiver disposto a fazer isso mesmo, não faça de forma tendenciosa.
Faça pra valer. A não ser que você já saiba onde quero chegar com esse texto e
se conheça o suficiente para saber que não precisa fazer teste nenhum, ou mesmo
que não irá suportá-lo.
Enfim, o que fazer? Como ser
o que talvez tivéssemos que ser? Ou como sermos melhores do que somos hoje? Não
sei. Pelo menos deveríamos buscar nos reconhecermos, ou melhor, buscar nos
conhecermos. Deveríamos deixar de tentar parecer quem não somos, ou de parecer mais
do que somos realmente.
Apenas para deixar
bem claro o meu ponto de vista, não tentei defender Hitler. Não tentei dizer
que ele não é tão mau assim. Eu tentei dizer que todos nós somos naturalmente maus. Fica
a esperança de que não passamos de leões caçando zebras, ou pelo menos de que sejamos
julgados assim.