"O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso."
Já ouviu aquela história do rapaz que trabalhava como empacotador em um
caixa de supermercado? Com o passar do tempo, ele foi melhorando gradativamente
o processo de embalar as compras. Ele desenvolveu meios mais rápidos de
empacotar os produtos, descobriu maneiras de embrulhar os pacotes de forma que facilitassem
o carregar, evoluiu no trato com os clientes, era sempre prestativo e não
faltava um dia sequer ao trabalho. De fato, um ótimo exemplo de profissional e,
como ele mesmo dizia, muito feliz.
O jovem destacou-se de tal maneira que seu superior imediato o promoveu
a cobrador em um dos caixas do supermercado. O chefe decidiu que era hora do
empacotador dar o próximo passo na busca pelo sucesso. O rapaz não negou, pois
nunca negaria qualquer trabalho, ainda mais quando havia associada uma promessa
por mais felicidade. Porém, na nova função, ele não teve o mesmo desempenho
como empacotador. O trabalho executado foi de baixa qualidade, eram muitas as dificuldades.
Passados alguns meses, após muita ajuda e muitas chances, não houve outra saída
senão demitir o rapaz. Parece que havia alguma questão legal que impedia um
retrocesso de função. Infelizmente, o supermercado perdeu o melhor empacotador
que possuía e agora tinha as filas aumentando nos outros caixas.
Quando o jovem foi questionado sobre o motivo pelo qual seu rendimento
não teria sido tão bom na função de caixa como fora na de empacotador, a
resposta foi simples: "Eu não sei o motivo porque não consegui me sair bem, o
que sei é que eu gostava muito de empacotar mercadorias. E eu ainda tinha tantos
planos para colocar em prática naquela primeira função."
Pensando nesse caso, lembrei-me que, frequentemente, usa-se a imagem de
uma escada como uma metáfora para representar a trajetória em busca do sucesso.
Mas quem fez essa comparação pela primeira vez? E por quê? Hoje, quando atento
a essa analogia, fico com dúvidas sobre nossos objetivos profissionais. O
sucesso é em si a resposta, o fim último almejado? Ou ele é o meio para
viabilizar outro objetivo?
Desviando: É curioso como alguns padrões parecem ficar mais claros, ou
até mesmo demonstram-se loucos, quando fazemos comparações com situações mais simples
e familiares.
Voltando: Quando morava junto com meus pais, tínhamos uma escada em casa
que dava acesso a uma lavanderia, em um nível superior. Fiquei imaginando o que
eles pensariam se um dia, perguntando-me porque subi a escada, eu respondesse
algo diferente de: "Para chegar a
lavanderia". O que pensariam, se eu respondesse, por exemplo: "Subi a escada apenas para alcançar o último
degrau. Escadas sempre nos exortam a subi-las somente pelo fato de terem um
topo."?
Está certo, concordo. Alguém poderia dizer que na vida profissional o
topo é inalcançável e essa seria uma motivação suficiente. Pois ainda acho que
meus pais estranhariam muito se eu dissesse que precisássemos permanentemente
acrescentar degraus a nossa escada, de forma que continuássemos tendo motivos
para escalar a mesma, já que sobe-se uma escada pelo fato de não se poder alcançar
o último degrau.
Desta maneira, a busca pelo sucesso profissional não seria melhor
representada pelo processo de lapidação e polimento de uma pedra preciosa, ao
invés do subir de uma escada? Com esta nova comparação haveria um objetivo representado
e nela caberiam pessoas que desejam evoluir tanto vertical quanto
horizontalmente. Haveria espaço para todos, sem chance para que se colocasse em
dúvida pontos como ambição, comprometimento, engajamento, profissionalismo etc.
Penso que estamos fazendo jus àquela piada: "Por que a galinha atravessa a rua?" E cuja resposta é: "Para chegar ao outro lado." (Já dei outro
enfoque para essa mesma piada aqui). No nosso caso, por que a galinha subiria a escada?
Sabe que, pensando bem, começo a concordar com a imagem da escada
comparada a nossa busca pelo sucesso. Se ela não representa bem o que deveria
ser, pelo menos mostra claramente o que tem sido.
Ou quem sabe, a pergunta correta seja tão óbvia que deixamos de pensar
sobre ela: o que é o sucesso? Nós temos mesmo o péssimo hábito de achar que
temos as respostas apenas porque consideramos algumas ideias muito familiares
(já falei disso aqui também).
Fazendo uma última comparação, talvez o sucesso seja como a cadeira de Clarice Lispector, no conto "Tempestade
de Almas": "Quem terá inventado a cadeira?
Alguém com amor a si mesmo. Inventou então um maior conforto para seu corpo.
Depois os séculos se seguiram e nunca mais ninguém prestou realmente atenção a
uma cadeira, pois usá-la é apenas automático."