"Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido."
O Dr. Enéas Carneiro fez alguns cálculos muito interessantes neste vídeo. Considerei tão
provocativo que resolvi colocar neste texto. No entanto, minha citação está
ligeiramente diferente da explanação dele, uma vez que precisei fazer pequenas
correções.
Os 23 pares de cromossomos humanos possuem em
torno de sete bilhões de nucleotídeos. Considerando que cada
nucleotídeo representa uma única unidade de informação (um bit), chegamos à
conclusão de que nosso DNA possui
sete bilhões de bits. Sabendo que uma letra de qualquer alfabeto pode ser
codificada com sete bits, de acordo com o "Código Padrão Americano para o Intercâmbio de Informação", o DNA humano poderia codificar um bilhão de
letras. Se tomarmos as seguintes médias, que uma palavra possui em torno de seis
letras, que a página de um livro tem em torno de 200 palavras e que um bom
livro tem em média 300 páginas, chegamos ao incrível resultado de que nosso
código genético possui informação suficiente para preencher 2778 livros de 300
páginas. Não estamos falando de livros com rabiscos, mas sim de códigos que
possuem um significado, informação, dados. E lembre-se, isso é o código fonte apenas dos
seres humanos. O Dr. Enéas encerra o raciocínio dele dizendo, "eu me recuso a
acreditar que isso é o acaso; eu tenho o direito de recusar".
Desviando: Matematicamente falando (já citei isso aqui), mutações ao acaso destroem muito mais
informação no DNA do que constroem algo útil. Seria mais fácil eliminar a vida do
que dar origem a novas espécies. É comparável a retirar, acrescentar e
substituir palavras de um dicionário, aleatoriamente, esperando que um dia ele
se torne uma enciclopédia. Pode até ser que ele chegue lá, mas bem antes
terá deixado de ser um dicionário.
Voltando: Somando o vídeo da palestra do Dr. Enéas a outras situações
que vou expor logo em seguida, percebi que quando paramos para prestar atenção,
acabamos tropeçando em algumas verdades.
Veja, por exemplo, o caso de uma cantora bem popular atualmente. Ela
disse, nessa entrevista, que "loucos são os que abandonam
seus sonhos para viver de aparência", que "seu padrão é você e não a sociedade". Nesta outra entrevista, ela disse que apoia a diversidade, em resposta
a seguinte pergunta, "como é ser inspiração para outras mulheres, especialmente
negras e gordas, que até pouco tempo tinham que lidar com um padrão de beleza
que tem mais a ver com a Europa do que com o Brasil?". Porém, dias atrás, ela fez
um ensaio fotográfico e, entre outras fotos, tirou essa aqui:
Poxa vida, eu confesso que esperava mais gordinhas e gordinhos na foto, depois de todos aqueles discursos.
Achei que há muito padrão de beleza europeia nesse enquadramento.
Não estou interessado se ela está correta ou errada, não estou
questionando o talento dela – perceba que não coloquei aspas na palavra cantora
dois parágrafos atrás –, não estou colocando em cheque as motivações dela,
tampouco atrevendo-me a julgar o merecimento. O que eu estou querendo expor é
que as mensagens nem sempre são o que parecem. A parcialidade sempre serve a um
propósito. Aliás, pelo menos no caso da cantora, o objetivo é bem fácil de
identificar.
Chesterton trata muito bem de convicções
parciais em seu livro Hereges. Ele questiona os
eruditos ingleses de sua época, por concluírem que os nativos de Mumbo Jumbo acreditavam
que os mortos se alimentavam na jornada para além-vida, já que colocavam comida
ao redor do defunto durante o funeral, sempre sob os olhares críticos dos
sacerdotes. Ele percebeu que tal dedução era tão absurda quanto concluir que
acreditamos que os mortos sentem cheiro, uma vez que temos o hábito de rodeá-los
com flores, também durante o funeral, sob o olhar de senhoras perturbadas cujas
coroas estão atrasadas.
Desviando: Chesterton percebeu que a divisão entre ritualistas e não-ritualistas
é uma distração que serve a um propósito. A realidade é a divisão entre
ritualistas conscientes e ritualistas
inconscientes. O primeiro grupo é muito simples e fácil de compreender, o
segundo grupo é o caso realmente pesado e complicado. Exemplos nas palavras do
próprio autor – meus esclarecimentos entre colchetes.
"O motivo secreto que leva uma
tribo selvagem a adorar macacos ou a lua não pode ser descoberto, ainda que
alguém ande entre tais selvagens e tome nota das respostas num caderno, ainda
que o mais inteligente dos homens possa seguir tal caminho. A resposta está na
Inglaterra; está em Londres; mais ainda, está no próprio coração. Quando alguém
descobrir porque os homens na Bond Street usam chapéus pretos, descobrirá, no
mesmo instante, porque os homens em Tombuctu usam penas vermelhas."
"O que pode ser mais solene e
absurdo, se considerado em abstrato, do que simbolizar a existência do outro
sexo retirando uma parte da vestimenta e fazendo um aceno?" [levantar o chapéu
para uma senhora que passa]
"Qualquer um com
talento poético admitirá que, para o instinto humano comum, o pão simboliza
algo que não pode ser facilmente simbolizado de outra forma. Mas gravatas
brancas ao anoitecer são um ritual, e nada além de um ritual" [pois não
significam nada].
G. K. Chesterton
Voltando: Enfim, se caminhando por uma praia, víssemos na areia seis letras
formando uma palavra, imediatamente concluiríamos que um ser inteligente esteve
ali antes de nós. Se captássemos códigos ordenados vindo do espaço, chegaríamos
a conclusão inequívoca de que não estamos sozinhos no Universo. Ironicamente,
tropeçamos no código mais impressionante (em conteúdo e em composição) que já foi constatado, o DNA, mas só
conseguimos associá-lo ao acaso. Ou não queremos enxergar, ou nossas convicções
parciais estão servindo a um propósito. Aliás, uma coisa não exclui a outra,
necessariamente.