"Os reis deixaram aqui suas coroas e cetros; os heróis, suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava neles e não em coisas externas, levaram com eles sua grandeza."
Fiquei muito impressionado como, em 2016, tivemos tantos lançamentos consecutivos
de filmes de super-heróis. Batman Versus Superman foi lançado em 24 de
Março, Capitão América: Guerra Civil foi lançado em 28 de Abril e X-Men: Apocalipse em 19 de Maio. Nos últimos
três meses, nós tivemos praticamente um lançamento mensal para cada uma das
mais icônicas personagens em quadrinhos que já existiram. Sem falar que está
previsto para 4 de Agosto pelo menos mais um lançamento, Esquadrão Suicida. Neste caso, serão
vilões que apelarão para o lado altruísta de si mesmo (vamos esperar o filme
explicar esse enredo). Enfim, será que há alguma lógica por trás dessa "febre"?
Superman foi o primeiro
super-herói em quadrinhos criado, no ano de 1938. Este link mostra em detalhes a
cadeia de eventos históricos que culminou no lançamento do primeiro gibi desta
personagem. Aquela revista serviu como estopim para o surgimento de tantas
outras figuras, como Batman, Mulher-Maravilha, Vingadores, X-Men etc. A maioria dos
lançamentos e das criações de super-heróis aconteceram no final da década de 30 e início de 40. O que
ocorria naquele período? Pois foi uma época de recuperação após a maior
recessão econômica já vista, bem como o intervalo entre os dois maiores
conflitos mundiais, a Primeira e a Segunda Grande Guerra.
E hoje, o que acontece hoje? É um período que busca a recuperação após a
pior crise econômica mundial desde aquela primeira da década de 30. Além disso,
guerras civis, crises políticas e terrorismo estão espalhados pelo mundo como nunca
visto antes. Seria coincidência estarmos tão interessados em super-heróis
novamente? Parece que alguém está esperando um salvador, um messias.
Consciência coletiva... global? Aliás, sabia que um dos criadores da figura do
Superman foi Joseph Shuster, canadense, filho de
imigrantes judeus, o primeiro povo a esperar por um salvador, um messias?
Desviando: O Capitão América foi criado por Joe Simon e Jack Kirby, e fazia parte da Timely Comic (atualmente Marvel Comics) de Martin Goodman. Após dar um calote
nos dois criadores da personagem, que acabaram indo procurar emprego na DC Comics, Goodman decidiu que não precisaria contratar mais ninguém para tocar
suas publicações. O que ele fez? Promoveu a editor um office-boy de 19 anos que
não lia quadrinhos, Stanley Lieber, ou Stan Lee, que foi apenas o
criador de Vingadores, X-Men, Homem-Aranha e outros heróis.
Voltando: Existe um programa de TV chamado Os Super-Humanos de Stan Lee, da History Channel. É uma série que
procura por humanos capazes de feitos extraordinários, impossíveis para
qualquer outro ser humano comum. Tem de tudo, homem que não se fere com
furadeira, outro que consegue entrar em uma banheira de água fervendo sem queimar-se,
ainda outro que é imune a choques elétricos, um que consegue estourar bolsas de
água quente apenas assoprando etc. A ideia do programa é promover uma caçada
por alguém que possa ser considerado um super-herói da vida real, com super
poderes de verdade. Então, eu fiquei pensando, se existisse um herói como dos
quadrinhos, o que ele precisaria fazer para que eu acreditasse nele? Usar uma
fantasia? Voar? Lançar fogo pelos olhos? Talvez ricochetear a bala de uma arma
de fogo? Ou ainda, erguer automóveis como quem ergue uma folha de papel? Seria
necessário todas essas coisas juntas, ou pelo menos uma delas? Pense você,
alguém aparece na sua frente e diz que é um super-herói, o que você esperaria
ver para acreditar nele?
Durante este devaneio, eu resolvi extrapolar a questão. Não sei como ser
menos direto, portanto, se Deus aparecesse na minha frente, o que Ele
precisaria fazer para que eu acreditasse que Ele existe e é Deus? Eu fiquei
pensando... E se Ele viesse com algum tipo de roupa especial, uma farda por
exemplo? Acredito que isso sugeriria a perda da minha liberdade e talvez motivaria
a rebelião em mim. Será que eu precisaria ver sinais poderosos, super poderes? Mas
isso poderia provocar medo e faria com que eu quisesse esconder-me dEle. Talvez
Ele tivesse que aparecer com algum armamento extraordinário? Uhm... Isso inspiraria
vingança, "olho por olho, dente por dente" e como em uma reação em cadeia nós poderíamos
nos extinguir. Quem sabe Ele tivesse que aparecer com um super exército? No
entanto, isso "cheiraria" a dominação e fatalmente iríamos querer destituí-lo do
seu "cargo". Ou ainda, teria Ele que mostrar que é um ser avançado de uma galáxia
longínqua? Desta vez, que tipo de deus seria um limitado pelas leis da física e
da biologia? OK, e um ser transcendente, um espírito pairando no ar, contemplativo?
Além de transparecer passividade, nunca teria direito de fazer cobranças, pois
não saberia o que é ser um humano.
Há registros de que, certa vez, um homem apareceu dizendo que era Deus,
claramente. Ele disse que se desfez da sua divindade e tornou-se igual a nós
para nos ensinar o que é a vida de verdade, para mostrar que Ele sabe o que é
ser um ser humano e que, consequentemente, conhece todas as nossas aflições. Entre
suas missões, uma foi nos inspirar a prática de atos que não sabíamos que
éramos capazes de executar, ou que sabíamos, mas estavam inertes. Ele foi
simples, sem farda, sem super poderes, desarmado, sem um exército e de carne e
osso, apesar de sua natureza divina. Ele disse muitas palavras, que apesar de
modestas, são muito difíceis de se entender, a tal ponto que, por pura
ignorância de minha parte, as vezes acho mais fácil nem tentar entendê-las. Sem
falar dos atos praticados. Aliás, as vezes não tentamos entender algumas coisas
apenas por que o assunto é muito batido, de tal maneira, que acreditamos já
saber o suficiente. Isso já não é ignorância, mas presunção de minha parte.
Não é estranho? As primeiras características que listei parecem ser de
uma divindade em quem acreditaríamos, mas que por outro lado nós não
gostaríamos que existisse. As últimas listadas, as mais simples, são aquelas
que gostaríamos de ver em Deus, mas que por sua vez, tendo sido exatamente
desta maneira, não acreditamos que seja verdade. Se eu não sei o que esperar de
Deus e por isso eu não acredito Nele, isso é uma limitação minha, mas não de
Deus. Então, começo a acreditar que a questão relevante não é se Deus existe,
mas sim o que Deus teria que fazer para que eu acreditasse que Ele existe.
Enfim, cada um deve ter sua própria resposta. Há quem diga que Deus é
tudo. Jeová, Jesus, Buda, Oxalá, Natureza, Universo, Infinito etc. Mas deve
haver alguma coisa que faça com que todos O reconheçam igualmente, algo padrão.
"Acreditar em tudo é o mesmo que acreditar em nada."
"Se um sistema é muito fechado, ele tende a morrer. Porém, se um sistema for muito aberto, muito fluido, ele tende a se descaracterizar."
Ed René Kivitz
Para finalizar, "não reconhecer" não é sinônimo de "não existir". Se Deus
aparecesse na sua frente bem agora, o que Ele teria que fazer para você
acreditar que Ele existe e é Deus? Somente com essa questão em mente estaremos
prontos para reconhecê-lO, caso Ele apareça. Inclusive, talvez nos
surpreendamos ao descobrir que Ele sempre esteve lá, "disfarçado" entre nós. Ou
não, podemos apenas considerar que tudo não passa de "histórias em quadrinhos", coincidências
e que não merece mais atenção do que duas horas de uma sessão de cinema.