"Tão correto e tão bonito, o infinito é realmente um dos deuses mais lindos."
Já ouviu falar sobre
os paradoxos de Zenão? Ele, o Zenão, tentava provar
através de dialética que conceitos de
multiplicação, divisão e movimento eram absurdos. Por exemplo, imagine um velocista
percorrendo determinada distância. Durante o percurso, ele terá que passar pelo
ponto que corresponde metade do caminho, depois pelo ponto que corresponde 2/3
de todo o trajeto, depois 3/4, depois 5/6, depois 30/31, depois 199/200, depois
5647/5648 e assim sucessivamente. Ou seja, o velocista terá de percorrer infinitos
pontos no espaço, o que nos faz concluir que ele nunca chegará ao ponto final.
Quanto mais ele tenta se aproximar, mais a linha de chegada parece inalcançável.
Desviando: Quando criança, eu ouvi uma explicação para o infinito que
nunca mais esqueci. Foi na casa de um vizinho, quando alguém perguntou, "qual o
tamanho do Universo?" Outro alguém respondeu, "é infinito". Obviamente, caras de
interrogação. Porém, veio a explicação, "imagine que quanto mais você tenta se
aproximar do fim do Universo, mais distante ele fica". Uma inteligentíssima
explicação para crianças de no máximo 10 anos de idade, talvez menos (estou com
quase 36 e ainda não consegui pensar em uma explicação melhor).
Voltando: Não parece que tem
alguma coisa errada com a lógica de Zenão? O que estamos deixando escapar? Pois
o problema foi que ele viveu em uma época (século V a.C.) quando dois importantes
conceitos ainda não eram conhecidos.
Primeiro, somos
levados a crer que a soma de todos os intervalos de tempo necessários para
percorrer cada ponto do espaço resultará em um número infinito de tempo. Porém,
a soma de todos os tempos tende a um número inteiro e determinado, mas não
infinito. Esse conceito é o de convergência a um limite. Portanto, o
velocista não ficará infinitamente correndo.
Segundo, para o raciocínio
de Zenão ser exequível, as dimensões do corredor deveriam ser desprezíveis, o
que não é possível. Além disso, ele ainda não sabia que as leis da mecânica clássica de Newton não são aplicáveis para dimensões inferiores
ao comprimento de Planck. Para dimensões muito pequenas (atômicas), sãos as leis
da mecânica quântica que valem (já falei aqui que
o mundo macro não se dá muito bem com o mundo micro).
Vamos dar um desconto
para Zenão, afinal de contas, até o surgimento de Newton seriam 21 séculos e
até o alvorecer da mecânica quântica seriam 24 séculos. De qualquer forma, não o
subestimemos, pois suas proposições já previam uma das mais importantes peças
da mecânica quântica, o princípio da incerteza de Heisenberg (deixemos isso para outro post, pois já estou
complicando-me demais, se bem que sempre poderemos recorrer a um macaco para explicar as
coisas).
Todavia, em uma coisa Zenão estava certo, na maioria da vezes nós
olhamos para a matemática e nos esquecemos do mundo físico. Por exemplo,
segundo a mesma teoria matemática sobre convergência a um limite, se dividirmos
o número 1 por um número infinitamente pequeno (infinitesimal), o resultado do
cálculo tende ao infinito (como assim?!). Como o resultado desta divisão pode ser
maior que 1, ou maior que tudo? Pensemos menor. O resultado de 1 dividido por
0,5 é 2, certo? Agora divida uma barra de chocolate ao
meio. Você tem duas barras de chocolate iguais a primeira? Não, você tem duas metades. Bingo! Dividir 1 por 0,5 não é divisão, é multiplicação, é multiplicar por 2. Na prática,
ou no mundo real, sempre falta dizer o que é o 1 e o que é o 2. Parece simples,
mas quando as contas ficam absurdamente complexas, ou quando alguém enrola a
explicação como eu tentei fazer, a gente esquece destes detalhes.
Há uma frase atribuída a
Albert Einstein que diz o seguinte, "nenhum
cientista pensa com fórmulas". Talvez Einstein tenha superestimado o
intelecto humano. Tomando ele próprio como referência, eu faria uma pequena
modificação nesta frase, "nenhum gênio
pensa com fórmulas".
Desviando: Pois é,
infelizmente não será possível criar um Universo de chocolate a partir de um
bombom.
Voltando: E se pensarmos no contrário? Se pensarmos no tudo, ele
converge para qual limite? Os cientistas dizem que teremos um pacote de energia. Minha opinião? Tudo se condensa em uma única centelha (já falei aqui sobre a ideia de que
quando não há limites, o tudo tem o tamanho que desejarmos).
O infinito é ou não é inalcançável? Ele é ou não é imensurável? Pois
vamos mudar o nome dele agora. Deixemos o nome infinito de lado e o chamemos de
plenitude. Não existem cálculos matemáticos precisos, não existem palavras
corretas que possam ser ditas, não existe tempo suficiente para se passar ajoelhado,
não existe penitência cabal, não existem julgamentos
completamente justos, não existe mente completamente esvaziada, não existe
promessa que se possa cumprir, não há felicidade nem tristeza redentoras, não
existe nada que nos permita alcançar a plenitude. Nada, não existe nada que possamos
fazer. Não temos força, capacidade, competência ou tempo suficientes para
alcançá-la. Qualquer tentativa pode resultar, no máximo, em um pequeno
vislumbre da verdade.
Sabe o que me intriga? Na história da humanidade, pelo menos na porção
que conheço da parte registrada, surgiram muitos homens iluminados. Eu poderia
listar uma dezena deles como Moisés, Gandhi, Buda, Confúcio, Dalai Lama... (OK, talvez eu
não consiga listar dez deles). Cada um, em seu momento, apontou para algo que deveria
ser feito para que a plenitude pudesse ser alcançada. Por exemplo, seguir leis,
esvaziar a mente, deixar de lado os egos e os desejos, meditar, doar etc. No
entanto, somente um foi direto ao ponto ao dizer (com outras palavras) que não
há nada que se possa fazer para alcançarmos a tão almejada plenitude, que tudo
não passa de vaidade e de vãs tentativas e que, por isso, a própria Plenitude
teria e teve que vir nos buscar.
Desviando: Eu não vou dizer
o nome Dele de propósito. Tenho a sensação que se fosse mencionado, o texto
passaria a soar como um clichê, se bem que não foi isso que aconteceu com os
outros nomes citados, concorda? A sugestão tem o poder de nos fazer pensar mais
do que o presente do indicativo. Taí uma boa reflexão, já mencionei algo aqui
sobre o fato das palavras não serem o conceito propriamente dito, mas serem
pré-conceitos.
Voltando: O finito
não pode ser divido em Infinito, mas o Infinito pode convergir a um limite. A Plenitude
não poderia ser alcançada, mas Ela pôde vir nos buscar. Olha a sugestão aí de novo.
Puxa Sandrini. Gostei muito desse. Esse assunto me é muito caro justamente pela intersecção com o "componente teológico" que você introduziu no final de forma muito elegante. Parabéns e obrigado. Abs!
ResponderExcluirQue bom que gostou, Rogério. Sabe que por um momento considerei não postá-lo. Fiquei feliz agora! Grande abraço.
ExcluirA definição de infinito que mais me alucina é a de Cantor. O fato dele propor (e provar!) que existem conjuntos infinitos maiores que outros conjuntos infinitos explode minha mente. Abs!
ResponderExcluirAh legal, vou procurar ler sobre Cantor. Esse assunto me interessa bastante também, além de fritar os neurônios. Valeu.
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