"Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo."
Martin Luther King
Pensando em uma frase do último post, "o correto, mesmo que pelos motivos errados,
talvez baste" e também após uma conversa com um colega de trabalho sobre um
professor de filosofia avesso a regras, foi que eu tive a inspiração para esse
texto. (Inspiração? Esse negócio de escrever está subindo pra cabeça.)
Eu sei que estamos no Outubro Rosa, mas vou falar de
outro tipo de doença que acomete as mulheres, o câncer de colón de útero. Esta enfermidade está relacionada diretamente
ao vírus HPV e as estimativas 2014/2015 do INCA (Instituto Nacional de Câncer) giram em torno de 16.000 novos casos anuais no
Brasil. As principais formas de contágio são início precoce da atividade
sexual, elevado número de parceiros sexuais, parceiro com vida promiscua, baixa
da imunidade, tabagismo e más condições de higiene. Como um método de
prevenção, o Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal, em 2014, a
vacina contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos de idade. Outro fator para reduzir
os riscos de contaminação pode ser a circuncisão. Um estudo realizado
em Uganda, de 2003 a 2006 e publicado pelo "The Lancet" em 2011, indicou que as parceiras dos homens circuncidados foram 28%
menos propensas a serem infectadas com o vírus do HPV do que as parceiras dos
homens não circuncidados.
Desviando: Eu julgo que existem três coisas que movem um ser humano em
seu caminho, a obediência, a consciência e o instinto. Já citei aqui a diferença entre
uma criança que é apenas obediente a ordens e uma criança que é consciente
porque já ralou o joelho no chão. Poderíamos falar também da tentativa de
explicar para uma criança os motivos pelos quais ela precisa comer verduras e
legumes. Ela poderá até entender as explicações, mas ainda assim continuará
comendo salada porque é uma ordem e não porque é uma escolha. Apenas com o
amadurecimento intelectual, a escolha passará de obediência para consciência. Porém,
quando madura, ainda há a possibilidade do instinto falar mais alto. Aquele adulto,
mesmo que consciente, talvez prefira reforçar estímulos neurais que lhe dão
prazer a atender a voz daquele "anjinho", que fica em cima de seu ombro direito,
suplicando ao ouvido para que preste atenção na distribuição das cores no prato.
Voltando: Em um dos livros do
Pentateuco,
escrito aproximadamente 3.000 anos atrás, mais
precisamente em Levítico capítulo 12, versos de 2 a 3, a circuncisão foi estabelecida como lei
para os hebreus. Todos os meninos, ao oitavo dia do nascimento, deveriam ser
circuncidados como sinal de que pertenciam ao
povo de Deus. Diferente
do que se possa imaginar, aquela lei não foi criada naquele período de tempo,
ela já existia antes, mas era considerada apenas como uma regra, até que Moisés a registrou no livro das leis dos hebreus. A origem da regra data de aproximadamente
4.000 anos, quando Deus prometeu a Abraão que criaria uma nação a partir de sua descendência
e pediu para que ele estabelecesse a circuncisão como um sinal desta promessa. Aqui
vale um paralelo. O que transforma um grupo de pessoas em uma nação? Uma
cultura ou modo de vida em comum, um conjunto de leis e também uma terra. Historicamente,
a terra está sendo disputada até hoje.
E por que a circuncisão deveria ser realizada ao oitavo dia do
nascimento? Bem, isso não foi explicado por Deus, ou pelos hebreus em seus
livros. Era apenas uma ordem que deveria ser cumprida. Porém...
"Com base na consideração das determinações de vitamina K e de protrombina, o dia
perfeito para se realizar uma circuncisão é o oitavo dia." (citação de "Nenhuma Dessas Doenças", Dr. S. I. McMillen, 1986,
pág. 21, em inglês).
A vitamina K é também conhecida como vitamina
anti-hemorrágica e a protrombina é um elemento de coagulação sanguínea, ou
seja, seguir a regra do oitavo dia ajudava a evitar o perigo de hemorragia, isso segundo os
conhecimentos contemporâneos.
Os hebreus, em seu início como povo há 4.000 anos, possuíam bagagem
técnica ou intelectual suficientes para entender a relação da circuncisão com a saúde pública da época? Eles sabiam o que era profilaxia? Ou melhor, já
tinham consciência de que algumas doenças poderiam ser causadas por maus
hábitos de higiene? Eles conheciam doenças sexualmente transmissíveis? Ao menos
conheciam o organismo feminino? Sabiam o que era um útero e quais as
consequências de uma higiene masculina inadequada? Será que aprenderam com a
observação? Quantos anos foram necessários para que a observação deixasse a
relação entre higiene e saúde tão clara em suas mentes? Onde os resultados
dessas observações teriam sido registrados para que geração após geração fosse
possível chegar a derradeira conclusão? Minha opinião é que eles não passavam
de crianças que não sabiam os motivos pelos quais deveriam comer saladas. Eles eram mais obedientes do que conscientes.
Desviando: Alguém estava além do tempo e sabia que um povo, que
estava tentando se estabelecer como nação, não poderia se dar ao luxo de ter suas progenitoras mortas ou estéreis e também seus genitores dizimados por maus
hábitos de higiene. Em uma época tão remota, cuidados simples poderiam fazer
toda a diferença entre a evolução de um povo e o seu completo extermínio. Alguém
sabia que a humanidade ainda não tinha uma consciência evoluída e que naquele
período da história ela deveria apenas ser obediente. Esse alguém, além de ter
claro o conceito de medidas profiláticas, de saúde e de medicina há 4.000 anos
atrás, também conhecia a psicologia humana e suas limitações. Assim como um pai
sabe como lidar com uma criança a cada fase de sua evolução, esse alguém soube
quando foi necessário apenas estabelecer regras. A questão que fica é, quem? Um viajante do tempo? Um ser extraterrestre, arquiteto da vida e da humanidade? Uma consciência (ou inconsciente) coletivo? A mãe Natureza? Talvez um único homem muito sábio? Quem sabe Deus? Não será hoje que falaremos disso. Aliás, acho que não será em outra ocasião também, pois já falei bastante sobre escolhas em outros textos.
Voltando: Por mais que nos esforcemos, não é possível conscientizar todo
mundo a usar o cinto de segurança. Não é possível fazer com que todos decidam pela escolha certa só porque é a escolha correta a se fazer. Sempre será necessário limitar por baixo. Será necessário definir
regras e leis.
"CTB
- Lei nº 9.503 de 23 de Setembro de 1997
Institui
o Código de Trânsito Brasileiro.
Art.
167. Deixar o condutor ou passageiro de usar o cinto de segurança, conforme
previsto no art. 65:
Infração
- grave;
Penalidade
– multa de R$ 127,69;
Medida administrativa - retenção do veículo até
colocação do cinto pelo infrator."
Existe um relato que me deixa muito, muito curioso. Aliás existem dois
relatos que me deixam muito inquieto. É como se eu quisesse acordar de um sonho,
mas não conseguisse. Em determinado momento Jesus é questionado
por Pilatos sobre o que é a
verdade, mas fica em silêncio. (Poxa vida, não fique em silêncio. Por favor,
responda. Não me deixe com essa curiosidade.) Em outro momento, aliás anterior a
esse que citei primeiro, Jesus diz que há muito o que dizer, mas que não
podemos suportar agora. (Ah! O que não estamos enxergando? O que é demais para
nós?)
Enfim, existem momentos que tentar explicar os motivos pelos quais ele não
deve deixar a toalha molhada em cima da cama não vai resolver. Na maioria das
vezes, ela não irá entender porque não pode "investir" em sapatos usando aquelas
economias que foram poupadas para uma emergência. Muito provavelmente sua vovó
nunca vai entender porque você não gosta de carregar o guarda-chuva, e a
experiência dela nunca será suficiente para convencê-lo de que muitas dores de
cabeça podem ser evitadas ao se proteger de uma chuva. Não haverá itens
suficientes na lista de boas ações de seus amigos que possam convencer seu pai de
que eles são "maneiros", assim como você nunca conseguirá imaginar seu pai como um
adolescente em uma roda de amigos, cercado de todo tipo de pessoas, fazendo
exatamente o que você faz hoje e por isso conhecendo todas as desculpas que você pode dar. Nestes momentos e em outros, algumas regras
deverão ser estabelecidas, a relação deverá ser definida de acordo com
critérios de obediência, mas não de consciência, e todos teremos que estar
conscientes pelo menos disso.
Não dá para explicar tudo
sempre. Existirão momentos que você terá que simplesmente mandar ou obedecer, confiar. E se não o fizer, terá que lidar com as consequências. Não vai dar
para culpar a ciência, a religião, os homens maus (ou até os bons) ou o mundo sempre. Quando não
há evolução, seguir ordens pode ser o suficiente, ou pelo menos deveria ser o
primeiro passo.
Menção: Abraço ao RS,
colega de trabalho com que troquei algumas ideias sobre as regras serem ou não
serem relevantes.