sábado, 22 de setembro de 2018

Depende ou Não Depende? Eis a Questão

"A moral é uma, os pecados são diferentes."

No programa Café Filosófico da TV cultura, transmitido no dia 08 de setembro, Leandro Karnal falou sobre o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman. Em determinado trecho da palestra ele disse:  "Pós-modernidade significa a falência das metanarrativas amplas. Metanarrativas são narrativas vastas, gerais que dão sentido a todas as coisas que eu posso entender. Exemplo clássico, a Bíblia. Explica tudo de onde veio, tudo como está e tudo para onde vamos. A Bíblia não explica a história do povo judeu, ou a história dos primeiros cristãos. A Bíblia diz, no princípio criou Deus o céu e a terra. E no final, no Apocalipse, último livro do Novo Testamento, a Bíblia encerra isso. E essas metanarrativas bíblicas tiveram concorrentes. A partir do século XVII e XVIII, o Iluminismo. A partir do século XIX, o Marxismo. E a partir do século XIX e XX, o Idealismo. Todas essas metanarrativas são universais. E agora nós passamos a viver o fim das narrativas do tipo metanarrativas. Não há mais explicações gerais. As narrativas passam a ser curtas, tópicas. Só têm valor para mim. Surge o indivíduo que rejeita a Bíblia, a Ilíada, a Odisseia. Surge o individuo que rejeita Shakespeare e diz:  'Nada disso vale, eu penso diferente.' (neste momento Leandro Karnal segurou a risada), característica da pós modernidade. A minha opinião é constituidora de sentindo. O colapso da modernidade é o colapso da razão e a ascensão da manipulação dos signos. Dessa capacidade de deslocar sentidos para o individuo."


O conceito de Lei Natural (Direito) surgiu com o propósito de avaliar as opções humanas no sentido de agir de modo razoável e bom. Ou seja, surgiu com o objetivo de descrever a moral como uma regra absoluta, inerente ao ser humano. Posteriormente, com o desenvolvimento da ciência, a Lei Natural (Ciência) passou a representar algum fenômeno natural que possa ser observado regularmente, como, por exemplo, a gravidade, que nos mantém presos ao chão.

Neste texto, gostaria que focássemos apenas no sentido original da Lei Natural. Gostaria que pensássemos sobre as colocações de Leandro Karnal, de que verdades gerais tem sido moldadas para atender ao indivíduo.

Desviando: Se bem que, o conceito cientifico da Lei Natural também daria um bom texto, pois, atualmente, mesmo a ciência tem sido colocada em cheque, haja vista questionamentos recentes contra a biologia e contra a esfericidade da Terra – para citar somente dois exemplos.

Voltando: Sendo assim, a Lei Natural, ou a moral, existe mesmo? Há o certo e o errado independente do indivíduo?

O primeiro exemplo que podemos pensar refere-se ao conceito de contratos. São eles que nos fazem cumprir acordos, ou é a nossa noção sobre certo e errado que nos torna fiéis ao que foi combinado? De fato, se analisarmos com um pouco mais de cuidado, perceberemos que contratos não possuem valor. Eles são apenas testemunhas além do tempo e do espaço. Qualquer pessoa que ver um contrato saberá que um pacto foi firmado e deve ser cumprido, mesmo que ela não tenha estado presente no momento e no local do apertar de mãos. Portanto, o que nos torna fiéis a acordos é uma lei moral de que quebrar promessas é errado. Sem esse conceito, nem ao menos entenderíamos para que serve um contrato.

Outro exemplo, por que Hitler se armou para fazer valer seus planos e ideais? Foi porque ele, além de ter os próprios conceitos sobre certo e errado, também era capaz de reconhecer o julgamento alheio (dos Aliados) sobre o que eles consideravam certo e errado. Portanto, ele se preparou para as consequências. Se Hitler não tivesse a Lei Natural dentro de si e não soubesse que ela existe de forma geral nos demais, ele poderia, sinceramente, não saber porque estava sendo retalhado, ou sequer ter se armado.

E além disso, a moral vai muito mais além. Nós ficamos com raiva de uma pessoa que propositadamente tenta nos derrubar, mesmo que ela não consiga. Porém, absolvemos quem desastradamente e sem intenção alguma consegue nos derrubar de fato. A moral é algo que nos faz julgar além das consequências.

Visto que a Lei Natural, ou a moral, existe mesmo, ela é absoluta ou personalizável? O que é moralmente correto ou errado para um povo, não o é necessariamente para outro povo? O que é correto para uma pessoa não é absolutamente para outra?

Na maioria dos casos, não percebemos que, apesar das distintas ideias morais entre diferentes povos e culturas, a essência da moral em si difere muito pouco entre eles. Se é que difere.

Eu compararia a Lei Natural, ou a moral, à "menor" partícula constituinte da matéria. O átomo é a estrutura básica, fundamental, a partir da qual todas as moléculas são criadas e posteriormente as maiores estruturas, como pedras, árvores e mesmo nossos corpos. Uma cultura pode considerar errado que um homem tenha quatro esposas, mas outra cultura pode considerar correto. Esse aspecto da moralidade é só a molécula. Porém, ambos os povos concordam que um homem não pode ter qualquer mulher, mas apenas aquela que seja sua esposa. Sendo essa última, portanto, o átomo da Lei Natural. Aliás, podemos ir além, e devemos, o verdadeiro átomo só veio à tona poucas décadas atrás. Hoje um homem só pode ter uma mulher que queira ser sua esposa.

Pois bem, feitas todas essas observações, o que eu poderia dizer sobre nosso tempo, o da pós-modernidade? Qual a minha opinião sobre a individualização das verdades? Desta vez fiquei feliz em perceber que, quando formei uma opinião, alguém já a havia citado antes de mim. Aliás, tenho duas opiniões: a primeira é a mesma risada contida como a de Leandro Karnal na citação inicial; a segunda segue abaixo.

"Todos sabem que o dado está viciado
Todos lançam-no com os dedos cruzados
Todos sabem que a guerra acabou
Todos sabem que os caras bons perderam
Todos sabem que a luta foi armada
Os pobres continuam pobres, os ricos ficam ricos
É assim que as coisas são, todos sabem
Todos sabem que o barco está vazando
Todos sabem que o capitão mentiu
Todos têm esse sentimento quebrado
Como se o pai ou o cachorro deles tivessem morrido
Todos conversando com seus bolsos
Todos querem uma caixa de chocolates e uma rosa de haste longa
(...)
Todos sabem que você me ama, baby
Todos sabem que você realmente ama
Todos sabem que você foi fiel
Oh, tirando uma ou duas noites
Todos sabem que você foi discreto
Mas havia tantas pessoas que você precisava conhecer sem suas roupas
(...)
É assim que as coisas são, todos sabem
(...)
E todos sabem que é agora ou nunca
Todos sabem que sou eu ou você
E todos sabem que você vive para sempre
Quando você faz uma linha ou duas
Todo mundo sabe que o negócio está podre
O velho Black Joe ainda colhe algodão
Para suas fitas e arcos
(...)
E todos sabem que a praga está chegando
Todos sabem que está se movendo rapidamente
Todos sabem que o homem e a mulher nus
São apenas um artefato brilhante do passado
Todos sabem que a cena está morta
Mas haverá um registro em sua cama
Isso irá divulgar o que todos sabem
E todos sabem que você está com problemas
Todos sabem o que você passou
Da cruz sangrenta em cima do Calvário até a praia de Malibu
Todos sabem que está se afastando
Dê uma última olhada neste Sagrado Coração antes que ele exploda
(...)"

Ah, estava quase me esquecendo. Tenho uma terceira opinião sobre pós-modernidade:


Créditos: Quero dar o devido crédito ao autor de todos exemplos, com exceção de um ou dois de minha autoria. Além de ser ético, do ponto de vista da Lei Natural, também traz credibilidade às afirmações, pois mostra que não são opiniões individuais. Pois, os exemplos se encontram todos no livro Cristianismo Puro e Simples de C. S. Lewis.

2 comentários:

  1. Nossa Sandrine! Muito bom como sempre. Sempre me surpreendo com seus textos.

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    1. Oi Luciano. Obrigado por curtir o blog. Grande abraço. Ah, desculpe ter demorado tanto para publicar seu comentário e por respondê-lo. Só agora percebi que eu não estava recebendo as notificações de novos comentários por email. Sorry...

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