"Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia."
Leandro Karnal, em uma de suas palestras no programa "Café Filosófico" da TV Cultura, citou Bauman, segundo quem o Pós-Modernismo significa a falência das metanarrativas – aquelas que dão sentido a todas as coisas que se possa entender. Karnal disse: "Surge o indivíduo que rejeita a Bíblia, a Ilíada, a Odisseia, Shakespeare e diz: 'nada disso vale, eu penso diferente.' Essa é a característica da pós-modernidade. A opinião passa a ser constituidora de sentido." Já em "Pós-Modernismo, razão e religião", de 1992, Gellner disse: "O Pós-Modernismo parece ser claramente favorável ao relativismo, tanto quanto ele é capaz de claridade alguma, e hostil à ideia de uma verdade única, exclusiva, objetiva, externa ou transcendente."
Entretanto, algo me sugeriu que esta tendência – de constituir significado baseado em opinião – seja mais démodé do que poderíamos imaginar e, eventualmente, mais do que gostaríamos que fosse. Há uma chance, bastante plausível, de que a geração atual esteja apenas assumindo seu lugar à fila das discussões. Assim, certo aspecto humano, o de nos acharmos sempre especialmente originais, poderia estar fazendo com que tenhamos o falso pressentimento de que agora sim, algo que nunca fizemos antes estaria sendo feito.
Percebi o equívoco de nossa autointitulada "particularidade moderna" em um texto de Plantão (399 a.C.), em "A Defesa de Sócrates". Veja se não lhe soa como uma crítica ao Pós-Modernismo: "Por fim, fui ter com os artífices; tinha consciência de não saber, a bem dizer, nada, e certeza de neles descobrir muitos belos conhecimentos. Nisso não me enganava; eles tinham conhecimentos que me faltavam; eram, assim, mais sábios que eu. Contudo, atenienses, achei que os bons artesãos têm o mesmo defeito dos poetas; por praticar bem a sua arte, cada qual imagina ser sapientíssimo nos demais assuntos, os mais difíceis, e esse engano encobria-lhes aquela sabedoria. De sorte que perguntei a mim mesmo, em nome do oráculo, se preferia ser como sou, sem a sabedoria deles nem sua ignorância, ou possuir, como eles, uma e outra; e respondi, a mim mesmo e ao oráculo, que me convinha mais ser como sou."
Parece-me, então, que a única coisa que nossa geração realmente inseriu no mundo foi a tecnologia, ou seja, os novos meios de expressar opiniões e seus alcances. Já a vontade de dar "pitacos", ela aparenta agora ser tão velha quanto a própria humanidade.
Desviando: Outra ideia que percebi como "pseudo recente" é um tipo de arrependimento coletivo, proclamado por uma geração "inteira", contra atos de gerações passadas. Inclusive, sugerindo algum tipo de restituição moderna aos injustiçados de outrora – por falta destes, àqueles que julgamos serem seus representantes legítimos. E por que ilusoriamente recente? Pois bem, leia o que C. S. Lewis escreveu em seu texto "Os perigos do arrependimento nacional", ora publicado no livro "Deus no banco dos réus", por volta de 1930: "O arrependimento pressupõe condenação. O primeiro encanto fatal do arrependimento nacional é, portanto, o incentivo que nos dá para nos afastarmos da amarga tarefa de arrepender-nos de nossos próprios pecados e, em vez disso, voltarmos ao dever mais agradável de lamentar – mas primeiro, de criticar – a conduta dos outros."
Voltando: Então, por ter percebido a decrepitude do que há de mais moderno na nossa geração, chamo a atenção para o fato de que, negligenciar nossa antiguidade tem feito buscarmos soluções para a própria humanidade sempre da mesma maneira, reiteradamente. Aprender com os erros do passado é um mito.
Pense na política, ela nunca esteve tão em "moda", no sentido da ânsia de se ter e expressar opiniões a seu respeito. Porém, ela é tão arcaica quanto é antiga a sapiência dos atuais "artesãos de Sócrates" a respeito dela.
"O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol." (Salomão)
A política é para mim um placebo ao qual estivemos – e estaremos – presos por toda a vida... Um placebo em todos os seus aspectos. Ela tem sua função, seu benefício e até mesmo sua importância, isso não se pode negar. Porém, ela não é a cura. Nunca foi. Nunca será. Tampouco encontraremos a solução por meio dela. Ela é somente o que conseguimos fazer de "menos pior". Que tal, então, abdicarmos da ferocidade? Olhe para o passado e veja como tudo terminou, ou melhor, recomeçou.
Assim, inevitavelmente, é produzido em mim a espera por uma solução "sobrenatural", um salto ontológico, cujas recorrentes e tediosas tentativas humanas – entre elas, a política – mostram que não somos capazes de dar por nós mesmos. Pense... O que de fato mudou nas relações humanas entre o Homem das Cavernas e o Homem das Redes Sociais?
Longe de um individualismo pós-modernista ilusoriamente superestimado, minha espera – ativa – se apoia nos ombros de uma tradição milenar, ora testada, esmiuçada, esmigalhada e provada filosófica e intelectualmente – uma das tais metanarrativas –, que, justamente por tanta lapidação, ainda resiste às opiniões. Uma promessa aguardando para ser, finalmente e de uma vez por todas, colocada em prática. E ela diz que não seremos nós quem a implantaremos. No máximo, somos capazes somente de prenunciá-la através de nossos atos, tão grandes quanto menores eles forem – sim, são nossos valores que criam o paradoxo (já falei sobre isso aqui).
Magia? Algo me diz que seja algo mais tecnológico do que somos capazes de conceber. Pensando bem, não sobrenatural, mas uma "supra realidade", que faz o aqui e o agora parecerem um sonho, um devaneio fugaz.