"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: Senhoras e senhores, eu sou um canalha."
Leonard Mlodinow, em seu livro Subliminar, relatou alguns
testes feitos com um tipo específico de deficiente visual. O objetivo dos
experimentos fora tentar responder à seguinte pergunta: quanto da visão humana
pode ser inconsciente?
Desviando: O sistema visual humano, muito basicamente (porque é só nesse
nível que conheço do assunto), é constituído por: globos oculares, que captam a
imagem (ou a luz); nervos ópticos, que transmitem a "informação" captada; e o
cérebro (ou parte dele), onde os "dados" são processados (recebidos, traduzidos,
compreendidos e respondidos).
Voltando: O tipo específico de deficiente, cujo teste foi citado no
livro de Leonard, fora uma pessoa saudável com relação aos globos oculares e aos
nervos ópticos, mas que não podia enxergar devido a uma falha na porção do
cérebro responsável pelo processamento da imagem. Vamos chamá-lo de deficiente
visual cerebral. Ao deparar-se com essa pessoa, algumas perguntas foram
inevitáveis. A visão humana limita-se apenas ao reconhecimento do mundo externo?
Ela interfere apenas no aspecto consciente de uma pessoa? Ou a mente faz uso da
visão mais do que percebemos? O que acontece no cérebro de alguém que pode
enxergar com os olhos, mas que não é capaz de processar o que vê?
Enfim, segue a descrição dos três testes. Primeiro, bolas pretas e
brancas foram apresentadas aleatoriamente ao individuo, para verificar se ele
seria capaz de identificar a diferença de cor mesmo sem enxergar a imagem. A
taxa de acerto foi maior que cinquenta por cento, o que indicou que não foram meros
palpites. Segundo teste, os experimentadores se perguntaram, que tipo de imagem
o cérebro é mais especializado em reconhecer do que simples bolas pretas e brancas?
Faces humanas. Então, apresentaram ao deficiente rostos femininos, masculinos,
tristes, alegres etc. Nesse caso, a taxa de acerto foi maior que setenta e
cinco por cento. O terceiro e último teste foi feito concentrando-se em uma
função do cérebro para a qual ele praticamente foi desenvolvido, a sobrevivência.
Em um corredor com alguns obstáculos, o individuo testado conseguiu cruzar todo
o caminho sem atingir uma barreira sequer. Quando questionado como pôde fazer aquilo,
ele respondeu que alterava a trajetória sempre que sentia uma sensação de
desconforto ou de medo.
Por que me lembrei da citação destes testes no livro Subliminar? Porque
vi um contrassenso que me fez pensar, se há uma capacidade visual inconsciente,
poderia também haver uma cegueira no mesmo nível? Não consigo "bater o martelo",
se a contradição que vi corresponde a essa possível cegueira involuntária, mas
que ela me fez lembrar dos testes, isso fez. Aliás, o exemplo de incoerência a
que me refiro, que detalharei mais adiante, é bem medíocre, mas, por não
conseguir lembrar de casos mais expressivos, será "o que se tem para hoje" (na
verdade, o problema aqui não é memória, é preguiça de pensar mesmo).
Desviando: Antes do relato do que vi, gostaria de compartilhar uma
história que li no livro A Sutil Arte de Ligar o F*da-se (acho que foi lá; se não foi, perdoe-me o engano; aliás,
não gostei do livro, achei muito superficial, eu esperava por um "interruptor" mais radical). É uma piada que demonstra nossa incrível dificuldade de olharmos
para nós mesmos. Segue... Um motorista está dirigindo seu veículo em uma
autoestrada. Então, ele ouve no rádio o seguinte alerta: cuidado a todos que
passam pela autoestrada nesse momento, pois há um maluco pilotando na pista
contrária. O motorista olha ao redor e ao notar "todos na contramão", responde ao
rádio: Um maluco não, todo mundo.
Voltando: Sem mais delongas, o contrassenso, ao qual venho me me referindo, começou com uma
reportagem em um website informando
que a Rússia concluiu com sucesso testes na utilização de uma internet desconectada do resto do mundo.
Veja a figura abaixo.
A reportagem, além de relatar em que consistiu o teste, fez uma análise geopolítica
dos possíveis interesses do governo russo. A suspeita é que essa desconexão
permita que o governo exerça controle sobre as informações que podem entrar em
seu país a partir do Ocidente. Considerando as diferenças existentes entre os
sistemas políticos dos dois lados, isso tornaria a vida dos governantes russos
mais... digamos, prática.
Veja, por exemplo, o que destacou Alan Woodward (calma, eu também não sabia que esse cara existia), quando consultado
pela reportagem:
E quer saber? Concordo com essa teoria da conspiração. Acredito sim, que
o objetivo principal seja exercer algum tipo de controle, censura, ou
manipulação de cada cidadão e, consequentemente, de todo um povo, no caso, o
russo. Porém, como sempre, eu não consigo me eximir de minhas
responsabilidades.
Eu acredito que ainda temos tantas lições para aprender, que não sei se já
seria hora de passarmos a nos preocupar com a vida alheia. Os governos
ocidentais exercem tanto controle sobre nossas vidas aqui (não somente os
governos), que eu passo a ter dúvidas se o presidente russo, de fato, não está
apenas preocupado em se defender do Ocidente, ou pelo menos a se defender em um
primeiro momento. Pense, nós deveríamos nos defender também.
Então, a contradição se concluiu quando vi o artigo abaixo, que foi ao
encontro de meu senso de responsabilidade pessoal. O que chamou minha atenção
foi que a matéria seguinte estava no mesmo website
e no mesmo dia da reportagem da internet "desplugada" na Rússia.
Se uma reportagem, que quer me ensinar como eu devo dar e receber
elogios quando ganho um presente, não for uma forma sutil, porém deliberada, de
tentar exercer algum tipo de controle sobre mim, então eu não sei nada sobre
controle de massas.
Provavelmente, eu não saiba nada mesmo sobre manipulação. Mas,
considerando os dois exemplos que citei, eu pensei em pelo menos duas formas de
colocá-la em prática. A primeira, forçando alguém a fazer algo contra a própria
vontade. Essa forma é fácil de reconhecer, portanto possível de ser combatida.
Ela inevitavelmente desmoronará em algum momento, talvez por si só, inclusive. A
segunda, seria fazer alguém acreditar que deseja, concorda ou acredita em algo.
Essa forma é mais difícil de lutar contra, pois seria comparável a trancar a si
mesmo dentro de uma cela, mas acreditando que se encontra do lado de fora do
portão.
Resumindo, ou nossa cegueira é inconsciente, ou nossa visão é
conscientemente seletiva. Infelizmente, uma coisa não exclui a outra com
relação aos resultados que "cairão" sobre nós. Ou talvez seja felizmente, já que eu acredito piamente
que colher consequências negativas (se f@d3r) é didático.
"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: Deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão."