"Só é útil o conhecimento que nos torna melhores."
Nestes dias que se passaram lembrei-me da fórmula matemática para força.
F = m x a
Onde,
F = força em Newton
m = massa em quilograma
a = aceleração em metro por segundo ao quadrado
Fiquei pensando, qual a diferença entre a força do mundo físico e a
força do universo matemático? Concluí que aquela escrita sobre o papel não
produz nada, não move nada, não executa nada.
No filme "O Homem Irracional", um professor de
filosofia, autor proeminente de artigos críticos às fúteis aspirações da
sociedade moderna, passa por uma crise existencial. Em determinado momento da
narrativa, ele ouve uma desconhecida lamentar-se que perderá a guarda dos
filhos para o ex-marido, que é um péssimo pai. Sem saber que está sendo ouvida
pelo professor, a mulher detalha que o juiz designado para o caso será
partidário de seu ex-marido em troca de dinheiro.
O professor de filosofia começa a reverter sua crise, encontrando,
então, um motivo para viver. Ele passa a se ver como um potencial herói para aquela
desconhecida. Nos dias que seguem, ele planeja matar o juiz, para que a mulher tenha
ao menos um julgamento justo. Foi então que, após executar o plano, o professor
descreveu uma ideia que, apesar de eu já conhecer há muito, só nesse momento
passou a fazer sentido para mim.
Desviando: Já aconteceu isso com você? De repente, você ouve uma ideia
que está longe de ser novidade, mas só a partir daquele momento passa a fazer
sentido. Alguém poderia dizer que nós só aprendemos algo quando estamos
preparados para isso. Acho que é mais simples. Nós só aprendemos as coisas
quando pensamos sobre elas. Preste atenção em você mesmo, repare quão
automático é o seu falar e o seu ouvir no dia a dia.
Voltando: Segue o relato do professor após a conclusão do plano: "Na manhã seguinte, fui correndo comprar o
jornal. E lá estava [a noticia da morte do juiz]. Um sentimento enorme de realização tomou conta de mim. Não escrevi um artigo cáustico e bem
fundamentado sobre abuso judicial que somente destilaria um palavrório, e não
realizaria nada. Tomei ação direta e eliminei um câncer. O mundo ficou um
lugar melhor por uma porcentagem infinitesimal. Aquela mulher [que temia
perder a guarda dos filhos] nunca saberia
que teve um benfeitor, mas agora, na audiência, ela teria uma chance de obter
um julgamento justo."
Mais adiante, a "namorada" do professor discute com ele sobre moralidade, assim
que ela descobre o crime que ele cometeu. Parte da discussão segue a mesma
lógica da elucubração anterior do professor.
Professor: "Este foi o ato de significância que eu buscava. Achei que era uma coisa
muito razoável a se fazer."
Namorada: "Ela [mulher que temia perder a guarda dos filhos] desejou que ele [juiz] tivesse câncer!"
Professor: "Mas o que diabos é essa esperança [o desejo que o juiz tivesse
câncer]? Esperança não vale nada. Entende?
Você tem de agir."
Como eu disse anteriormente, apesar de já ter ouvido tanto falar sobre o
fato de que querer é diferente de fazer, foi só então que essa ideia colocou em
cheque a efetividade dos meus textos. Você pode perceber no meu blog que eu
tenho "destilado um palavrório" que não realiza nada há muito tempo. Então, resolvi
sair do papel. Parafraseando Platão, resolvi sair da caverna. Obviamente, guardadas as devidas proporções de liberdade.
Portanto, hoje, não discursarei sobre amor, sobre justiças ou injustiças. Não
haverá falatório sobre verdade ou sobre manipulação. Sem palavras sobre o que
somos, de onde viemos e para onde vamos. Sem lógicas pseudorracionais. Sem
cálculos pseudomatemáticos. Sem análises pseudoastronômicas. Sem filosofia
pseudometafísica. Sem dúvidas. Afinal de contas, o que os 91 textos postados
anteriormente produziram? O que esse presente texto produzirá? Todos tem prazo
de validade, se é que já não venceram.
Eu quero acomodar-me diante daquela pessoa que, ao me ver, repete sempre
as mesmas histórias, testando minha paciência. Eu a ouvirei com atenção, escutá-la-ei
com gosto. Eu estarei cem por cento presente. Porque aquela pessoa não está
interessada de fato nas histórias que me conta, tampouco se preocupa se estou assimilando
o que ela diz. Aquela pessoa está com saudades e quer aproveitar a minha
presença. Ela está querendo ser vista e ser ouvida por mim, seja lá o que esteja
sendo dito e quantas vezes o esteja. Portanto, eu retribuirei com a mesma vontade
de estar junto. Ela, sem coragem de invadir o meu espaço e me abraçar com os
braços, abraça-me com as palavras. Assim, retribuirei o abraço com os meus ouvidos.
Eu olharei no olho de quem me atende no balcão da mercearia, no caixa do
supermercado, no posto de gasolina e na mesa do restaurante. Eu farei o meu
pedido, o meu pagamento e o meu agradecimento olhando nos olhos. Se houver
alguma chance de que eu realmente exista nesse Universo fugaz, todos que cruzarem
comigo sentirão que também existem, pelo menos para mim.
Eu não buscarei justiça apenas a mim. Não serei como aquela pessoa que
acionou a Justiça porque se sentiu prejudicada em um teste, mas que não queria
que sua petição fosse escalonada a níveis mais elevados, pois se outros
percebessem a brecha, ela teria que disputar a chance com mais indivíduos. Se
eu quero justiça para mim, então que eu queira para todos, mesmo que isso
signifique o risco de perder a minha oportunidade. Sem meias justiças.
Não vou mais participar de disputas políticas. Nenhum candidato, nenhum "salvador da pátria", nenhuma ideologia política vale mais que a oportunidade de
continuar olhando nos olhos das pessoas que amo, das pessoas com quem relaciono-me,
ou daquelas com quem poderia me relacionar. Nunca tive problema de
relacionamento com ninguém por causa de disputas partidárias. Por que eu iria
querer ter a partir de agora? Enfim, sem polarização.
Desviando: O que aconteceu com o ditado a "união faz a força"? Acreditamos
ou não acreditamos nesse discurso? Talvez só queiramos que ele seja válido
quando termina com "portanto, unam-se a mim". Ou quem sabe ele seja só mais um palavrório.
Voltando: Passarei a fazer doação àquele que me pedir no semáforo, sem
tentar descobrir se ele a usará para bebida ou para comida. Eventualmente, eu darei
dinheiro a quem usará com drogas? Certamente. Porém não posso punir aquele que
precisa por causa daquele que erra. A maldade, o erro e a falha não podem
vencer. Eles não podem determinar como será praticada a caridade. Antes, que seja
sustentado aquele de bom caráter e de honestidade. Que a maldade coma das
migalhas do pão destinado a bondade, mas que a bondade não seja privada do pão
por causa da maldade.
Eu não deixarei de auxiliar a quem precisa, com uma assistência que
esteja ao meu alcance, usando a justificativa de que a minha pequena ajuda não
resolverá os problemas do mundo. Provavelmente, se eu tivesse dinheiro para
resolver todos os problemas do planeta, eu não o faria, mas guardaria toda a
riqueza para mim. Pelos menos é assim que fazem os 26 mais ricos do mundo, que concentram uma riqueza equivalente ao montante dos 3,8 bilhões mais pobres. Então, aproveitarei que eu tenho pouco "a perder" e repartirei. Já que é pouco, não me fará falta. A realidade mostra que faltaria
apenas se fosse muito.
Enfim, eu poderia listar uma infinidade de itens, bem "insignificantes" e
simples, que eu posso fazer sem ninguém saber. Poderia listar algumas
pouquíssimas coisas que eu já faço e ninguém vê. Porém, não tenho tempo e nem
competência para pensar em tudo. E mesmo que tivesse, não o faria porque eu
estaria somente "destilando um palavrório". Melhor que não escreva nada, mas que faça
tudo o que poderia ter sido escrito. Pois hoje não falamos sobre esperança, mas
sobre atitudes. E estas não precisam ser gigantes.