"A paz do coração é o paraíso dos homens."
Platão
Para comemorar os três anos do blog, neste dia 04 de abril, sugeriram-me
falar sobre o número 3. Então, tentei pesquisar algumas curiosidades, mas percebi
que este número possui poucos significados "extra-ordinários". Ironicamente,
consegui verificar apenas três coisas.
A primeira delas, três é o número mínimo de pontos necessários no espaço
para formar um plano. A segunda, nosso universo é formado por três dimensões,
altura, largura e profundidade. E a terceira, o tempo é formado por três
componentes, passado, presente e futuro. Eu poderia citar uma quarta curiosidade
sobre o número três, talvez a maior, ou a mais poderosa, que Deus é formado por
três pessoas, Pai, Filho e Espírito, mas eu gostei do jogo de palavras sobre
ironia lá no primeiro parágrafo.
Resolvi ater-me ao tempo, pelo menos como introdução. Como é padrão aqui,
não falarei nada que alguém já não tenha dito antes. Infelizmente, pelo menos
para o blog, a minha existência é precedida por uma infinidade de pessoas, o
que, inevitavelmente, dificulta citar algo que ninguém tenha pensado antes. E já
que é assim, deixarei o próprio autor expor suas palavras.
"O que é o tempo
então? Se ninguém me perguntar, eu sei; mas, se quiser explicar a alguém que me
pergunte, não sei: mas é com segurança que afirmo saber que, se nada passasse,
não haveria tempo passado; se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro; e, se
nada fosse, não haveria tempo presente. (...)
"Se for possível
conceber um elemento do tempo cujo momento não possa ser dividido em partes
minutíssimas, só este poderia ser chamado presente; todavia, ele passaria tão
imediatamente do futuro para o passado, que não se estenderia por direção
alguma. Com efeito, se se estendesse, dividir-se-ia em passado e futuro; o
presente, ao contrário, não tem extensão. (...)
"De fato, se os
acontecimentos futuros e passados existem, quero saber onde estão. Mesmo que
não consiga, sei contudo que, onde quer que estejam, ali não são futuros ou
passados, mas presentes. (...)
"Esses três (tempos),
de fato, estão na alma, de alguma maneira, e não os vejo em outro lugar: a
memória presente do passado, a visão presente do presente, a expectativa
presente do futuro. (...)
"Assim, me parece que
o tempo não é senão uma distensão, mas, de quê, não sei; porém, me admiraria se
não fosse da própria mente. (...)
"A impressão que as
coisas que passam produzem em ti e que, quando elas já passaram, permanece,
esta eu meço no presente, não as coisas que passaram e a produziram; é ela que
eu meço, quando meço os tempos."
Finalmente, a dúvida que interessa, a felicidade é contemplar o passado,
ou é esperar pelo futuro? A felicidade está nas memórias ou está nas
expectativas? A felicidade é a saudade do que se viveu, ou é a promessa do que há
por vir?
Eu não sei a resposta e isso me angustia. E porque me aflige, percebo
que tenho equivocadamente trocado os pés pelas mãos. Eu tenho dedicado esforço ao
objetivo errado.
Nossa busca frenética pela felicidade é uma ilusão. Acreditando que a
utopia possa se tornar verdade, querendo que aquilo que existe apenas na nossa
mente venha para o mundo real, temos transformado em descartáveis as profissões,
os relacionamentos, as amizades, os compromissos, os princípios, a moralidade,
a própria vida. Tratamo-los como seringas que injetam uma dose fugaz de prazer em
um dia inteiro de ressaca. E postamos que estamos felizes. E recebemos "curtidas" validando que temos que ser felizes. E acreditamos que merecemos ser felizes.
Estamos morrendo desidratados porque tentamos matar a sede com água do mar. Buscamos sair do fundo de um poço pelo lado errado, cavando cada vez mais para
o fundo. Aquilo que cremos que nos dá vida é o que está nos matando. Quão
difícil é para o viciado a decisão de não tomar a próxima dose? O que seria comparavelmente
forte àquela porção de ilusão e que poderia fazer valer a pena decidir escalar
o poço? Talvez essa resposta eu saiba, mesmo que ainda continue valendo a
máxima de que conhecer o caminho não é o mesmo que trilhá-lo.
Como nunca conseguiremos nos satisfazer com o presente, porque escorre
como água por entre os dedos enquanto caminhamos pelo deserto, nosso recurso
contra a ilusão da felicidade é a única verdade que pode existir
persistentemente no agora, a paz.
Desviando: Repito, nada do que digo é novo.
"Deixo-lhes a paz; a
minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus
corações, nem tenham medo."
Voltando: Nesses três anos que se passaram, se o blog não me trouxe
felicidade, não me angustio, pois é certo que ele me trouxe paz.
Parabéns ao blog, pelos 3 anos de existência.
Obrigado: A DUS por ter sugerido falar sobre o número 3.